O cientista russo que decifrou a escrita maia, Iuri Knorozov, faria este ano 80 anos de idade. O cientista refutou a opinião de que era impossível decifrar a escrita dos maias.
Seu nome foi dado ao Centro de Estudos Mesoamericanos, de Moscou. O interesse pela personalidade de Knorozov tem aumentado devido às profecias sobre o “fim do mundo” em 2012, pretensamente existentes no calendário maia.
O artigo do pesquisador alemão
Paul Schellhas “Decifração da escrita maia: um problema sem solução?”
foi o ponto de partida para os estudos científicos de Knorozov. Iuri
Knorozov, que estudava práticas xamanistas, decidiu refutar essa
afirmação.
Segundo se afirma, Iuri Knorozov obteve a
“chave” para decifrar a escrita dos maias em 1945, em Berlim. Havia quem
dissesse que ele encontrara na capital do Reich, que acabava de ser
tomada pelas tropas soviéticas, dois livros – “Informação dos assuntos
em Iucatã”, por Diego de Landa, e “Códigos dos Maias”.
De fato, Knorozov
valeu-se desses livros no seu trabalho, mas ele nunca esteve em Berlim.
Quando a guerra estava a terminar, ele estava prestando serviço militar
nas proximidades de Moscou.
Em 1947, ele concluiu a tese dedicada ao
chamado “Alfabeto de Landa” elaborado no século XVI pelo bispo espanhol
Diego de Landa, tristemente famoso pelos autos de fé de textos
autênticos dos maias. Vários estudiosos tentaram decifrar a escrita dos
maias, valendo-se desse “alfabeto”, mas sem sucesso.
Knorozov publicou, em 1952, um artigo intitulado “As Escritas Antigas da Mesoamérica”, no qual afirmava que o alfabeto de Landa,
em sua parte referente aos maias, não era um alfabeto como tal, mas
sim, símbolos silábicos.
O cientista compôs um catálogo dos hieróglifos
maias, e conseguiu descobrir a leitura fonética de alguns deles. Assim,
Knorozov acabou por desmentir a hipótese do especialista estadunidense
Eric Thompson de que a escrita maia não tinha componente fonético.
Segundo Galina Ierchova, diretora do Centro Knorozov e
discípula do cientista russo, este, para poder resolver o problema,
teve que criar um sistema de decifração de escritas antigas.
Às vezes,
esta descoberta de Knorozov é comparado com a façanha de Jean-François
Champollion, que decifrou hieróglifos egípcios, em 1822. Porém, o
estudioso francês tinha um problema muito mais fácil, considera
Ierchova. – Porque podia valer-se duma tradução em grego.
Também
Tatiana Proskuriakova, cientista de origem russa da universidade de
Harvard, estudou os mistérios dos maias.
Ela visitou a Rússia uma vez,
só para se encontrar com Knorozov. Proskuriakova deu uma grande
contribuição para a decifração de textos antigos e fez muito para que a
descoberta de Knorozov fosse reconhecido no Ocidente.
A
herança do cientista russo encontra-se em Moscou, no Centro
Científico-Didático Mesoamericano, cujos programas didáticos têm por
finalidade estudar e ensinar a história e cultura das diversas
civilizações da América pré-colombiana.
Em 1998, quando Knorozov ainda
estava vivo, a Universidade Humanitária Russa iniciou o curso “Culturas
da Mesoamérica antiga, no contexto da herança epigráfica”. Sua
finalidade consistia em manter e desenvolver a escola russa de epigrafia
maia, assim como formar peritos em cultura e história das Américas.
Desde 2000, de três em três anos, realizam-se admissões de estudantes de
História. Durante o período de existência do Centro, houve três
formaturas de historiadores e uma, de politólogos. “Em média, admitimos
10 pessoas por ano”, – diz Elena Ostrirova, formada na segunda turma e
hoje, professora do Centro Mesoamericano.
A primeira
turma de magistrandos (de 2011) especializa-se na epigrafia e nas fontes
coloniais antigas de história da América Latina. Além da própria
Mesoamérica, os jovens estudam cursos de História da América Latina e
processos políticos contemporâneos na região.
Alguns
graduados trabalham no Centro como peritos ou professores, defendem
teses, ou fazem pós-graduações, na Rússia e no México.
A
Embaixada do México em Moscou ofereceu ao Centro livros de História,
escrita e cultura da América Latina, que constituíram a base da
biblioteca científica especializada.
Há um projeto conjunto, que se
traduz no aumento da coleção da Universidade Humanitária com réplicas
das obras da antiga arte americana expostas no Museu de Antropologia e
História, da Cidade do México.
Especialistas do Centro participaram do
projeto de estudos arqueológicos de Mixteca Alta, no Estado mexicano de
Oaxaca. Colaboraram também para a edição, no México, duma obra de Iuri
Knorozov, em três volumes.
"A inauguração, em 2010, no Parque Xcaret, no México, do Centro Iuri Knorozov foi um
êxito de nossa instituição. É um centro científico onde estudantes e
pós-graduados do nosso Centro fazem estágios", – assinala Elena
Ostrirova.
No ano do 60-o aniversário da decifração
da escrita maia, o Centro abriu um concurso para estudantes do nono,
décimo e décimo primeiro anos das escolas russas.
O primeiro prêmio
deste concurso será uma viagem de duas semanas a Xcaret. O vencedor
poderá tomar conhecimento das atividades do Centro Iuri Knorozov e ser filmado para um documentário.
Fonte: Voz da Rússia
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