quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Os cães na fauna fantástica do noroeste argentino



Intimamente relacionados com a vida do Noroeste argentino (NOA), os cães, esses velhos amigos do homem, também habitam nossos mitos e lendas.


Enormes ou pequenos, de olhos vermelhos ou com olhos como poços, se podem encontrar matilhas fantásticas no bestiário mitológico e folclórico de praticamente todos os países e culturas do mundo.


Desde tempos imemoriais, tem ladrado nas terras das lendas, chegando em alguns casos a transpassar a delgada linha do mito para converter-se em contundente realidade. Alguns destes legendários horrores tem registro histórico, como a besta de Gévaudan.


Na região do Noroeste argentino, o mais popular é sem dúvida o Familiar, cão gigantesco que percorre os canaviais buscando o peão que sacrificará para reafirmar o pacto de abundância dos donos do engenho.


 Quem o viu garante que se trata de um cão grande como um cavalo, que tem muito de humano e pode correr a velocidades incríveis. É imortal, e alguns garantem que sobreviveram ao seu ataque porque levavam uma cruz, ou cruzaram seus facões diante dos olhos enlouquecidos do Familiar.


No Potrero de Díaz se conta sobre o “Perro con Cadena” (Cão Acorrentado). Aparece no lugar conhecido como “Lomas del Medio”. Segundo se conta, vários caminhantes noturnos já viram a aparição do cão acorrentado.


No meio da escuridão da noite sem luar,  os descuidados caminhantes são interceptados no caminho por um cão magro e grande como um burro. Nunca ataca as pessoas, se limita a assustá-las.


Também se pode mencionar as histórias organizadas sobre a premissa de que a gordura de um cão de cemitério serve para ver o mundo dos mortos.


Essa lenda é, segundo um registro próprio, quase exclusiva de Salta nos anos 70 e hoje já está quase desaparecida. Talvez faça referência a certo tipo de bruxaria da região, perdida, como a maioria das culturas que lá habitaram.


Certa bruxaria do povo de chorote, por exemplo, usa gorduras animais para obter seu intento. Em todo caso, a da gordura de cão se divide em varias histórias onde o recurso funciona somente se a gordura é untada sobre os olhos de quem quer "ver".


O visionário deve estar preparado, já que sobre ele paira nada mais, nada menos, que o Mundo dos Mortos, com todos os seus horrores.



Os 70 no bairro El Tribuno




Outras historias dos bairros do sul da cidade de Salta tem um cão como protagonista. Seu caráter de pesadelo é interessante.


Ao se inaugurar o bairro El Tribuno no principio dos anos 70, a falta de luz e a solidão do caminho, aumentavam essa sensação. Os ciclistas tomavam o caminho rodeado de campos que ao cair a noite, eram somente uma massa escura.


Ali aparecia na escuridão, primeiro como um amontoado indefinível, onde pouco a pouco se reconhecia a figura de um cão pequeno.


O animal começava a seguir o ciclista, como qualquer outro vira-lata. Mas um fato fantástico acontecia e o cachorro crescia e crescia sem parar, até ocupar tudo aquilo que o infeliz viajante  pudesse ver em 360 graus.


Outros "malditos" ao redor do mundo


Besta de Gévaudan 


Algumas lendas sobre cães negros se baseiam em acontecimentos reais. Entre 1764 e 1767, uma misteriosa criatura similar a um lobo supostamente atacou e matou entre sessenta e cem pessoas na área do centro-sul francês.


Chamada besta de Gévaudan, a criatura era tão grande como uma vaca, tinha o tórax largo, uma cauda comprida terminada em um tufo de pelos, orelhas grandes e pontiagudas e uma boca enorme com presas  salientes.


O método de ataque da besta se centrava na cabeça da vítima, que esmagava ou arrancava. Apesar do rei Luís XV enviar seus melhores caçadores de lobos para perseguir o animal, a besta foi finalmente derrotada por um caçador do lugar, Jean Chastel. Se ordenou enforcar o animal em uma das torres do monastério.


El perro negro de El Escorial 




Segundo a lenda, durante a construçao do monasterio de San Lorenzo de El Escorial, (Madri) um misterioso cão negro aterrorizava os operários a noite, impedindo as obras.


Talvez o cachorro infernal protegesse o lugar, pois se tem atribuido ao El Escorial ser uma das portas do Inferno que se estendem pelo mundo (outra delas é a cidade italiana de Turín); esta foi uma das razões de Felipe II mandar construir o monasterio neste lugar: para manter a porta fechada.


Quando Felipe II regresou definitivamente ao El Escorial para morrer, do seu leito de morte (acompanhado de inúmeras reliquias de santos), ouviu os latidos do cão infernal, que já havía sido sacrificado há anos.


Cerbero 


Cerbero é o mítico ancestral dos cachorros negros do folclore europeu. Se trata de um monstruoso cão de três cabeças, que na mitologia grega guarda a porta do inferno, garantindo que nenhuma pessoa viva possa entrar, e que nenhum morto possa sair.


El cadejo




Um cadejo é um animal legendário da região mesoamericana, das zonas rurais e urbanas da América Central. Se diz que é un mítico cão (ou dois cães) que aparece a quem caminha a altas horas da noite e ao qual atribuem poderes misteriosos.



Os que auguram a morte




Algumas populações acreditam que os cachorros negros auguram a morte. Uma destas criaturas, chamada Barghest, aparece em localidades do norte da Inglaterra, em especial em Yorkshire.

Se acredita que quem vê o animal com clareza morre pouco depois, enquanto quem só o avistou de longe viveria mais alguns meses antes de sucumbir.

Uma criatura similar, chamada Mauthe, só aparece no quartel do castelo de Peel, na ilha de Man. Para provar sua valentia, um soldado bêbado entrou numa ocasião sózinho no quartel, mas perdeu a fala e morreu três dias depois.



Tradução: Carlos de Castro



Fonte: El Tribuno

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