segunda-feira, 11 de março de 2013

Pai de todos os homens viveu há 340 mil anos



Ancestral humano é muito mais antigo do que se imaginava .


Um simples teste de DNA feito por um americano interessado em sua árvore genealógica apresentou um resultado impressionante: as origens do homem moderno remontam a muito mais tempo do que se imaginava. 


A revelação foi feita quando cientistas analisaram o exame feito por Albert Perry, um afro-americano que vivia na Carolina do Sul e que morreu recentemente.


— A linhagem apontada pelo cromossomo Y era de 338 mil anos atrás, de uma época em que os humanos anatomicamente modernos não tinham ainda evoluído — afirmou Michael Hammer, da Universidade do Arizona, em entrevista ao “Daily Mail”. — Isso significa que o período em que viveu nosso último ancestral comum é até 70% mais antigo.


Os registros fósseis indicam que os primeiros homens anatomicamente modernos viveram há cerca de 200 mil anos. 


Portanto, o cromossomo Y carregado por Perry vem de um tempo muito anterior. Segundo Hammer, podem haver duas explicações para isso: os humanos modernos teriam se relacionado com populações mais arcaicas (de quem teriam herdado a linhagem) ou evoluíram muito antes do que o registro fóssil disponível atualmente sugere.


Exclusivo dos homens (ele determina o sexo masculino), o cromossomo Y não troca material genético como os demais cromossomos, no momento da reprodução. Ele passa de pai para filho praticamente inalterado. 


Por isso, é usado para rastrear os ancestrais humanos. Se dois cromossomos Y apresentam a mesma mutação, isso significa que eles compartilham um ancestral paterno comum em algum ponto de sua árvore genealógica. Quanto mais mutações divergentes forem encontradas, mais antigo é o ancestral comum.


O teste foi feito pela empresa especializada em análises de DNA chamada Family Tree e publicado na “American Journal of Human Genetics”.


— O mais incrível é que uma empresa de testes genéticos conseguiu identificar uma linhagem que não se enquadrava em nenhuma das disponíveis na árvore de cromossomos Y, ainda que ela tenha sido construída com base em mais de meio milhão de indivíduos — explicou Hammer ao jornal britânico. — Ninguém esperava uma descoberta dessas.


Cerca de 300 mil anos atrás, os neandertais se separaram da linhagem do ancestral da linhagem humana. 


Mas foi apenas 100 mil anos depois que os humanos anatomicamente modernos surgem nos registros fósseis. Ou seja, a variação do cromossomo Y encontrada era ainda anterior à separação dos neandertais.


O grupo de Hammer analisou a sequência de DNA, que envolveu milhares de pares de bases do cromossomo Y. 


Depois de compará-la a inúmeros bancos de dados em todo o mundo, o grupo encontrou um cromossomo similar em Mbo, uma pequena população do oeste de Camarões, na África.


Isso também foi surpreendente, segundo Hammer, porque, até hoje, as mais divergentes linhagens de cromossomos Y (ou seja, aquelas que apresentavam o maior número de mutações e são, portanto, as mais antigas) tinham sido achadas em tradicionais populações de caçadores-coletores, como os pigmeus ou os khoesan, considerados os mais antigos grupos populacionais. 


Em vez disso, no entanto, a amostra coincidiu com a de 11 homens, todos eles provenientes dessa pequena comunidade de Camarões.


Estes homens, bem como Perry, teriam herdado seu cromossomo Y de um grupo arcaico que se extinguiu no tempo. 


Se for o caso, em algum momento dos últimos 200 mil anos, os humanos modernos trocaram material genético com esse antigo hominídeo africano, o mais antigo ancestral do homem identificado até agora.


Há evidências de apoio para este cenário. Em 2011, pesquisadores examinaram fósseis humanos em Iwo Eleru, na Nigéria, perto da aldeia de Camarões até onde o cromossomo Y foi rastreado. 


Os fósseis mostraram uma estranha mistura de características antigas e modernas, que também sugeriam o cruzamento entre humanos modernos e arcaicos.


Esses resultados, segundo Hammer, sugerem a existência de comunidades geneticamente isoladas que preservam uma grande parte da diversidade humana. 


Para o especialista, é provável que outras linhagens sejam encontradas em africanos ou afro-americanos e que algumas delas sejam até mais antigas do que a de Perry.


Para Hammer, a ideia bastante popularizada de que toda a Humanidade descende de um único par de humanos é falsa. 


O mais provável é que diferentes grupos, em diferentes estágios evolutivos, tenham convivido e trocado material genético. E essas diferentes linhagens estão até hoje preservadas em muitos homens, relíquias genéticas da nossa evolução.


— Os mais antigos fósseis humanos conhecidos, da Nigéria e da República Democrática do Congo, mostram inesperadas características arcaicas e por isso, certamente, temos um cenário bem mais complexo para a evolução do homem moderno na África — afirmou Chris Stinger, do Museu de História Natural de Londres, em entrevista à “NewScientist”.





 Fonte: O Globo Online

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