Ancestral humano é muito mais antigo do que se imaginava .
Um simples teste de DNA feito por um americano interessado em sua árvore genealógica apresentou um resultado impressionante: as origens do homem moderno remontam a muito mais tempo do que se imaginava.
A revelação foi
feita quando cientistas analisaram o exame feito por Albert Perry, um
afro-americano que vivia na Carolina do Sul e que morreu recentemente.
—
A linhagem apontada pelo cromossomo Y era de 338 mil anos atrás, de uma
época em que os humanos anatomicamente modernos não tinham ainda
evoluído — afirmou Michael Hammer, da Universidade do Arizona, em
entrevista ao “Daily Mail”. — Isso significa que o período em que viveu
nosso último ancestral comum é até 70% mais antigo.
Os registros
fósseis indicam que os primeiros homens anatomicamente modernos viveram
há cerca de 200 mil anos.
Portanto, o cromossomo Y carregado por Perry
vem de um tempo muito anterior. Segundo Hammer, podem haver duas
explicações para isso: os humanos modernos teriam se relacionado com
populações mais arcaicas (de quem teriam herdado a linhagem) ou
evoluíram muito antes do que o registro fóssil disponível atualmente
sugere.
Exclusivo dos homens (ele determina o sexo masculino), o
cromossomo Y não troca material genético como os demais cromossomos, no
momento da reprodução. Ele passa de pai para filho praticamente
inalterado.
Por isso, é usado para rastrear os ancestrais humanos. Se
dois cromossomos Y apresentam a mesma mutação, isso significa que eles
compartilham um ancestral paterno comum em algum ponto de sua árvore
genealógica. Quanto mais mutações divergentes forem encontradas, mais
antigo é o ancestral comum.
O teste foi feito pela empresa
especializada em análises de DNA chamada Family Tree e publicado na
“American Journal of Human Genetics”.
— O mais incrível é que uma
empresa de testes genéticos conseguiu identificar uma linhagem que não
se enquadrava em nenhuma das disponíveis na árvore de cromossomos Y,
ainda que ela tenha sido construída com base em mais de meio milhão de
indivíduos — explicou Hammer ao jornal britânico. — Ninguém esperava uma
descoberta dessas.
Cerca de 300 mil anos atrás, os neandertais se
separaram da linhagem do ancestral da linhagem humana.
Mas foi apenas
100 mil anos depois que os humanos anatomicamente modernos surgem nos
registros fósseis. Ou seja, a variação do cromossomo Y encontrada era
ainda anterior à separação dos neandertais.
O grupo de Hammer
analisou a sequência de DNA, que envolveu milhares de pares de bases do
cromossomo Y.
Depois de compará-la a inúmeros bancos de dados em todo o
mundo, o grupo encontrou um cromossomo similar em Mbo, uma pequena
população do oeste de Camarões, na África.
Isso também foi
surpreendente, segundo Hammer, porque, até hoje, as mais divergentes
linhagens de cromossomos Y (ou seja, aquelas que apresentavam o maior
número de mutações e são, portanto, as mais antigas) tinham sido achadas
em tradicionais populações de caçadores-coletores, como os pigmeus ou
os khoesan, considerados os mais antigos grupos populacionais.
Em vez
disso, no entanto, a amostra coincidiu com a de 11 homens, todos eles
provenientes dessa pequena comunidade de Camarões.
Estes homens,
bem como Perry, teriam herdado seu cromossomo Y de um grupo arcaico que
se extinguiu no tempo.
Se for o caso, em algum momento dos últimos 200
mil anos, os humanos modernos trocaram material genético com esse antigo
hominídeo africano, o mais antigo ancestral do homem identificado até
agora.
Há evidências de apoio para este cenário. Em 2011,
pesquisadores examinaram fósseis humanos em Iwo Eleru, na Nigéria, perto
da aldeia de Camarões até onde o cromossomo Y foi rastreado.
Os fósseis
mostraram uma estranha mistura de características antigas e modernas,
que também sugeriam o cruzamento entre humanos modernos e arcaicos.
Esses
resultados, segundo Hammer, sugerem a existência de comunidades
geneticamente isoladas que preservam uma grande parte da diversidade
humana.
Para o especialista, é provável que outras linhagens sejam
encontradas em africanos ou afro-americanos e que algumas delas sejam
até mais antigas do que a de Perry.
Para Hammer, a ideia bastante
popularizada de que toda a Humanidade descende de um único par de
humanos é falsa.
O mais provável é que diferentes grupos, em diferentes
estágios evolutivos, tenham convivido e trocado material genético. E
essas diferentes linhagens estão até hoje preservadas em muitos homens,
relíquias genéticas da nossa evolução.
— Os mais antigos fósseis
humanos conhecidos, da Nigéria e da República Democrática do Congo,
mostram inesperadas características arcaicas e por isso, certamente,
temos um cenário bem mais complexo para a evolução do homem moderno na
África — afirmou Chris Stinger, do Museu de História Natural de Londres,
em entrevista à “NewScientist”.
Fonte: O Globo Online
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