Manipulação fotográfica da imagem obtida pelo radar da sonda Magellan em Maat Mons (NASA / JPL)
Uma das características majestosas da Terra são suas imponentes
montanhas cobertas de neve, tão altas que esculpem os sistemas
climáticos do nosso planeta. Mas elas nada têm de incomum, muito menos a
neve.
Já grande parte da neve dos picos de Vênus é composta de metais
pesados. Em uma atmosfera tão hostil, não é de se estranhar que sejam
tão exóticos.
Com as altas temperaturas da superfície do planeta, é
impossível a água se transformar em gelo (não que haja muita água em
Vênus). Ela é composta por sulfeto de chumbo e sulfeto de bismuto, mais
conhecidos como os minerais galena e bismutinita.
Tivemos os primeiros vislumbres da superfície escaldante desse
planeta no final do século passado. Envolto em densas camadas de nuvens
corrosivas, de cerca de 50 quilômetros de espessura, Vênus só pode ser
observado de duas maneiras: um pouso sobre sua superfície hostil, como
fizeram as sondas soviéticas Venera, ou a exploração por radares.
Mas os radares das sondas espaciais em órbita, como Pioneer Venus e
Magellan, detectaram algo incomum: os planaltos de Vênus pareciam
estranhamente reflexivos, bem mais brilhantes do que suas planícies de
lava.
Foi uma descoberta tão intrigante que os cientistas planetários
levaram algum tempo para compreendê-la e aventar algumas hipóteses.
Uma
textura diferente na superfície dos topos montanhosos, provavelmente
terra solta, ou uma alteração do clima e da composição do solo em
altitudes elevadas explicariam a estranha aparência metálica dos picos
nevados.
Quando a sonda Magellan chegou à órbita de Vênus na década de 1990,
realizou medições mais detalhadas. Tudo apontava para alguma forma de
sedimentação química diferenciada em altitudes elevadas.
Como sabemos hoje, a neve sobre a superfície de Vênus é provavelmente
mais parecida com a geada. Nas planícies venusianas mais baixas, as
temperaturas chegam a 480 ° C.
O calor escaldante é suficiente para
vaporizar os minérios de ferro reflexivos, que chegam à atmosfera como
um tipo de névoa metálica, deixando apenas as rochas vulcânicas escuras,
como o basalto, nas terras baixas venusianas.
Em altitudes mais elevadas, essa névoa se condensa, formando uma
geada brilhante e metálica no topo das montanhas – e picos enormes não
faltam ao planeta irmão da Terra. Maxwell Montes, o pico mais alto de
Vênus, tem 11 km de altitude, 3km mais alto que o Monte Everest.
Se cai neve de verdade em Vênus, ainda não se sabe, mas é possível,
já que abundantes chuvas de ácido sulfúrico foram observadas. No
entanto, elas evaporam antes de atingir o solo, assim como nas florestas
tropicais da Terra.
Violentas nevascas metálicas podem ser observadas a 2,6 quilômetros
do solo, em qualquer ponto da superfície. Não pode ser uma coincidência
que abaixo desta altitude, a atmosfera de Vênus tecnicamente não seja
mais gasosa.
Mais de 96% é composta por dióxido de carbono, com 100
vezes mais gás atmosférico que a Terra. É a origem da enorme pressão na
superfície do planeta, que tem um efeito estranho sobre os gases.
Com as pressões e temperaturas próximas à superfície de Vênus, o
dióxido de carbono se torna um “fluido supercrítico” – um estado anormal
da matéria, a meio caminho entre um líquido e um gás.
Usado com
frequência na Terra como solvente industrial, este dióxido de carbono
supercrítico provavelmente existe em Vênus, em altitudes inferiores a
2-3 km.
Dificilmente olhos humanos poderão explorar a superfície de Vênus,
mas uma coisa é bem provável: os sulfetos de chumbo e bismuto que
compõem sua neve têm coloração acinzentada e reflexos metálicos
brilhantes, conferindo a beleza cintilante de suas montanhas. Quem sabe
em algumas centenas de anos, os picos venusianos não serão uma atração
turística?
Por Markus Hammonds
Fonte: Discovery
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