O estudo do rosto do chamado "Chico de la Gran Dolina", um adolescente
que viveu na Sierra de Atapuerca, no norte da Espanha, há quase um
milhão de anos, confirma a hipótese que pode se tratar de uma nova
espécie: o Homo Antecessor, do qual apenas encontraram restos nessa
região.
Parte do estudo foi publicada na revista científica Plos One, informou
José María Bermúdez de Castro, um de seus autores e membro da equipe
científica de Atapuerca, na terça-feira (11).
A análise, realizada por cientistas do Centro Nacional de Pesquisa
sobre a Evolução Humana e da Universidade de Nova York (EUA), concluiu
que o rosto tem traços modernos, já que é visível uma expansão craniana e
os dentes também são modernos, embora ainda possuam "traços
primitivos".
"Sem dúvida alguma", de acordo com Bermúdez de Castro, se
trata de uma espécie distinta a todas encontradas até agora.
O paleontólogo diz acreditar que o Homo Antecessor pode estar "muito
próximo" ao antepassado comum entre o Homo Neandertal e o homem moderno,
"inclusive poderia ser esse ancestral", embora seja algo que ainda tem
que ser debatido com a comunidade científica.
Trata-se de um tronco
comum que deve ter surgido em uma zona situada entre o leste da África e
o sudoeste da Ásia entre o Homo Neandertal, que se expandiu pela
Eurásia, e o homem moderno, cuja origem é situada na África.
Bermúdez de Castro reconhece que a comunidade científica não está
totalmente de acordo em relação a este ponto e pede uma opinião, embora
ele tenha lembrado que quase não foram feitos estudos sobre restos do
Homo Antecessor do que os realizados pelos membros da equipe de
Atapuerca.
O estudo foi focado no rosto mediante um remodelador facial que
permitiu saber qual teria sido o aspecto do adolescente - cujos restos
foram encontrados em escavações em 1995 - quando alcançasse a idade
adulta.
Os seus restos também foram comparados aos de um Homo Ergaster, ser
mais primitivo, encontrado em uma jazida em Marrocos e com a mesma idade
dental.
Existem "diferenças evidentes" entre os dois, já que o segundo
apresenta uma menor reabsorção facial, por isso seus traços são "mais
primitivos", além de possuir uma dentadura também menos evoluída e um
crânio menor.
Os restos do Chico de la Gran Dolina, que morreu na Serra de Atapuerca,
não são os únicos que poderiam permitir estudos sobre esta espécie. Até
agora, foram localizados 140 restos de 11 indivíduos, embora a maioria
deles seja de crianças e adolescentes, havendo apenas restos de dois
adultos.
Bermúdez de Castro lembrou que os vestígios do Homo Antecessor foram
encontrados em uma escavação e está convencido que, quando conseguirem
escavar toda a extensão da região, encontrarão milhares restos de mais, o
que seria "uma orgia científica".
No entanto, também lembrou que ainda faltam décadas para que se chegue a
esse ponto, e por isso "é provável que sejam meus netos os que irão
vê-los".
Fonte: UOL
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