O primeiro jacaré jurássico viveu no Maranhão
Pesquisadores do Laboratório de Paleontologia, da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, acabam
de publicar a descrição dos fósseis do primeiro tetrápode jurássico
coletado no Brasil.
O material foi descoberto em maio de 2012 no
interior do Maranhão, município de Nova Iorque, e se trata de um
crocodiliforme (grupo que congrega os jacarés e crocodilos viventes, bem
como alguns de seus parentes extintos) denominado Batrachomimus
pastosbonesis.
O estudo, desenvolvido em parceria com colegas do nordeste e do Canadá,
foi publicado no último sábado (27/7) na versão eletrônica da revista
alemã Naturwissenschaften.
Até então, tetrápodes, grupo que inclui anfíbios, répteis, aves e
mamíferos, jurássicos eram conhecidos no país apenas com base em
pegadas.
Com idade aproximada de 150 milhões de anos, nova espécie teria
cerca de um metro de comprimento, estimado com base nos ossos
preservados, que incluem partes do esqueleto pós-craniano, além de cerca
de 70% do crânio.
Este inclui muitas características, como um focinho
alongado, olhos voltados dorsalmente e ossos ornamentados, que são
também encontradas no grupo dos temnospôndilos, anfíbios que ocupavam o
nicho de predadores aquáticos de médio-grande porte, e que já haviam
sido coletados em rochas mais antigas, período Permiano, na região.
Tais semelhanças levaram a uma confusão inicial na identificação do
bicho, por isso Batrachomimus (imitador de anfíbios), nome que também
alude a uma inferência muito mais interessante.
Os temnospôndilos foram
os principais predadores de água doce no início do Mesozoico (período
Triássico), época em que os parentes mais próximos dos jacarés atuais
eram pequenos animais terrestres.
Assim, de certa forma, somente após a
extinção dos temnospôndilos é que os crocodilianos ocuparam o nicho mais
comumente associado aos mesmos (predadores aquáticos), tendo
substituído aquele grupo de anfíbios, “imitando” algumas de suas
características.
O Batrachomimus é um típico representante desta
tendência, sendo uma forma de focinho alongado claramente adaptado para
predação em ambiente de água doce. O nome da espécie se refere à região
de Pastos Bons, onde se deu a descoberta.
Outro detalhe interessante da descoberta é que a nova espécie é o único
representante Americano e Gondwânico dos Paralligatoridae, grupo de
crocodilianos até então conhecido apenas na Ásia central (China,
Mongólia e Uzbequistão).
Isso sugere ou que estes animais tinham grande
capacidade de dispersão, inclusive cruzando barreiras oceânicas, ou que
as grandes massas de terra da época (Gondwana e Laurásia) tinham faunas
não tão diferentes quanto anteriormente se supunha.
Além da inusitada procedência geográfica, a nova espécie é também 30
milhões de anos mais antiga que seus parentes mais próximos, que incluem
os demais paraligatorídeos, bem como o grupo que congrega jacarés e
crocodilos atuais.
Assim, Batrachomimus contribui com informações sobre
um segmento pouco conhecido da evolução dos crocodilianos, sendo
importante para entender como se originaram as formas viventes do grupo.
Por fim, as rochas onde Batrachomimus foi coletado (Formação Pastos
Bons) já eram anteriormente conhecidas por seus fósseis de peixes, sendo
que a nova descoberta entusiasma os paleontólogos a empreender novos
trabalhos de campo para a região, que podem conter outros fósseis do
Jurássico, inclusive os primeiros dinossauros do período no Brasil.
Fonte: Ribeirão Preto Online
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