terça-feira, 17 de setembro de 2013

Arqueólogos acham restos de casa construída há 3.000 anos na Amazônia




Arqueólogos franceses e equatorianos descobriram na Amazônia do Equador os restos de uma casa construída há cerca de 3.000 anos, a mais antiga da região amazônica, segundo disse o arqueólogo Stéphen Rostain, diretor da pesquisa.


"Encontramos buracos de fornos e vestígios de cerâmica e pedras", disse Rostain ao explicar que o que acharam foram "as marcas da casa mais antiga da Amazônia no Equador", perto de Puyo, na província de Pastaza.


Rostain detalhou que encontraram o lugar há dois anos e abriram o campo em julho quando cavaram um metro de profundidade e aproximadamente 90 metros quadrados de diâmetro.


A descoberta "é totalmente nova, ninguém tem conhecimento dela", assegurou o especialista ao comentar que, quando fizeram as prospecções há dois anos, encontraram uma forma do que seria uma fornalha.


"As fornalhas construídas com pedras são geralmente muito antigas, de entre 1.800 a.C. e 500 a.C.. Tiramos algumas amostras que nos remeteram a uma data de 3.000 anos, e este ano encontramos todas as marcas de pilastras com as quais conseguimos reconstruir (em papel) a casa", disse.


Em uma gráfica, o especialista mostrou os pontos que disse corresponderem às marcas das pilastras. "Reconstituindo isso, temos uma casa em formato oval, parecida às casas atuais, mas a diferença é que essa tem 3.000 anos. É a casa mais antiga de toda a Amazônia (...), mais antiga inclusive que as conhecidas no Brasil", afirmou.


A "maior descoberta", disse, foi o fato de, quando a casa foi construída, terem usado o tronco de uma árvore como pilastra, colocando-o de cabeça para baixo, enterrado na camada freática: "Isso economiza o trabalho humano, não é necessário talhar o tronco e assim a árvore não cresce novamente", comentou.


As marcas achadas mostram que a casa foi construída no formato oval, com 17 metros de comprimento e 11 de largura. "A sua construção é um pouco parecida com a atual dos achuar e dos quichua", e a maior diferença é a fornalha feita de pedra, disse o diretor do projeto, que comentou que deram o nome de Pambay à cultura da zona pelo rio próximo.


Entre outras coisas, a organização do 3º Encontro Internacional de Arqueologia Amazônica, que é realizado nesta semana em Quito, não lhe permitiu avançar mais no estudo de dados vinculados com o achado: "Agora sabemos como mais ou menos era a casa dos moradores de há 3.000 anos".


"Ao sabermos as plantas que comiam vamos saber qual era a sua dieta; com a cerâmica, vamos conhecer sua arte, pelo tipo de lugar onde construíram a casa, conheceremos a relação que tinham com o meio ambiente", declarou.


O especialista francês, que começou com as escavações há mais de 15 anos no Equador, diz sentir-se "feliz" pela descoberta e garante que "tocar algo que não foi tocado durante três mil anos sempre é um prazer".


"Somos procuradores de tesouros, como se fossemos umas crianças", comentou entre risos quem sugeriu a criação de um museu na região onde foi feita a descoberta.


O especialista francês garantiu que ainda há muito por descobrir da Amazônia, onde há savanas, pântanos, montanhas e uma grande biodiversidade. "São 7 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, o tamanho dos Estados Unidos ou da Europa", exemplificou.


"Na Europa digamos que há 30 idiomas e dez famílias lingüísticas. Na Amazônia, no mesmo território, atualmente temos 200 idiomas e 80 famílias lingüísticas", comentou, acrescentando que, por outro lado, existe essa diversidade pois os indígenas eram nômades.


Segundo ele, não se sabe muito da rede de caminhos que havia pela Amazônia e lamentou que esta ainda seja vista como um "mundo selvagem" onde agora a densidade da população é de 0,5 habitante por quilômetro quadrado, mas onde havia lugares "com 10, 15, 20 habitantes por quilômetro quadrado; até 100 no litoral das Guianas", disse.


"Estou falando de uma Amazônia muito povoada, todos interligados, mas com idiomas diferentes. Era como a rede da web, mas com seres humanos", disse Rostain, que lembra que, quando começou, há 35 anos, a trabalhar na Amazônia, havia "menos de 10" arqueólogos trabalhando nos sete milhões de quilômetros quadrados. Agora são centenas neste "continente verde", concluiu.



Fonte: UOL

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