Uma teoria uruguaia que, após a descoberta de fósseis de
30 mil anos, questiona a tese que o homem chegou ao continente
americano pelo Estreito de Bering voltou a ganhar força graças à sua
divulgação em uma publicação de prestígio internacional na semana
passada.
Em entrevista à Agência Efe o responsável por essa
abordagem, o paleontólogo da Universidade da República Uruguaia
(Udelar), Richard Fariña, explicou que sua pesquisa acaba de ser
publicada em Londres pela revista Proceedings of the Royal Society.
A teoria se concentra em fósseis descobertos em 1997, em Arroyo Vizcaino, na aldeia de Sauce (35 km a oeste de Montevidéu).
Segundo o especialista, os mais de mil ossos
encontrados, que pertencem a 27 exemplares de várias espécies animais já
extintas, "revelam características que sugerem a presença humana".
Esta informação releva o paradigma existente, que
estabelece que o povoamento americano ocorreu do norte ao sul e milhares
de anos mais tarde.
A equipe de pesquisa, que também inclui Sebastián
Tambusso, Luciano Varela, Ada Czerwonogora, Mariana Di Giacomo, Marcos
Musso, Roberto Bracco e Andrés Gascue, explica que os restos dos
exemplares encontrados "são de adultos jovens", mais resistentes que os
idosos.
"Há poucas evidências que (os fósseis) tenham sido
transportados por uma corrente fluvial" até o lugar em que foram
descobertos, por isso parece que ele poderia ter sido colocado ali por
seres humanos.
Além disso, "vários dos ossos mostram marcas profundas,
assimétricas, microestriadas e afiadas, semelhantes às produzidas pelas
ferramentas de pedra dos humanos", diz o estudo divulgado em Londres.
No mesmo local foi encontrado uma peça de pedra em forma
de raspador, cuja superfície "apresenta um polimento parecido ao dos
utensílios usados pelo homem", explicou Fariña à Efe.
O especialista também observou que "os ossos descobertos
com possíveis marcas da presença humana na América do Sul e ao leste
como no Uruguai acrescentariam um ingrediente a mais para o estudo da
interação entre os humanos e a "mega fauna", essas espécies de animais
de grande porte que viveram durante o Pleistoceno".
O paleontólogo revelou que datação por carbono 14 em que
os restos foram submetidos determinou que eles pertenciam a um período
entre 27 e 30 mil anos atrás.
No entanto, a teoria mais reconhecida data da chegada do
homem no continente americano "nos últimos milênios do Pleistoceno, 13
ou 14 mil anos atrás", lembrou.
A hipótese tradicional defende que os primeiros
habitantes da América foram os clóvis, um povo de caçadores que vieram
em seguida do nordeste da Ásia e cruzaram o noroeste da América (atual
Alasca) pelo Estreito de Bering.
Este ponto foi questionado recentemente por vários
outros cientistas de universidades de pesquisa espanholas e alemãs, que
estudaram a genética de várias comunidades nativas no sul do continente
americano e concluíram que eles tinham origens diferentes.
Por exemplo, alguns habitantes do Peru apresentavam
padrões genéticos próprios dos habitantes da Polinésia, por isso poderia
ser criada a hipótese que os primeiros seres humanos chegaram à América
em sucessivas ondas a partir de várias localizações geográficas, e não
uma única migração.
Fariña argumentou que essas pesquisas "apresentam
resultados que contribuem para o debate internacional" sobre como e
quando o homem chegou na América, mas ele preferiu se manter "cauteloso"
antes de estabelecer uma teoria definitiva sobre o assunto.
O paleontólogo explicou que a publicação de seu trabalho
na "Proceedings of the Royal Society "não significa que é verdade ou
não, porque na ciência não há verdades reveladas", mas de alguma forma é
válida.
Agora, ele espera continuar a pesquisa no campo Arroyo
Vizcaíno em janeiro, pois com a chegada do verão austral se torna mais
fácil escavar os sedimentos do leito do rio e encontrar "mais segredos
da natureza".
Em 2011 a Presidência uruguaia informou sobre a pesquisa
pela primeira vez, apesar de aparentemente ter começado muito antes, em
1997, mas, em seguida, teve que ser cancelada por falta de fundos.
Apesar disso, em 2001 o paleontólogo espanhol Alfonso
Arribas já havia anunciado a descoberta de marcas em um osso encontrado
na área.
Fonte: Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário