O paleontólogo uruguaio Richard Fariña segura, em 11 de dezembro de 2014, um dos ossos fossilizados encontrados no sítio de Arroyo del Vizcaino, cerca de 35 km ao norte de Montevidéu
Mais de 15 anos depois da descoberta, no Uruguai, de
fósseis de animais pré-históricos com supostas marcas de ferramentas
humanas, a publicação do caso em uma revista científica reavivou a
discussão entre os que consideram que o material redefine a antiguidade
do homem na América e os que desconsideram a evidência.
Publicado
recentemente na revista britânica "Proceedings of Royal Society", o
estudo, chefiado pelo paleontólogo uruguaio Richard Fariña propõe que os
ossos encontrados em Arroyo del Vizcaíno (cidade de Sauce, 35 km ao
norte de Montevidéu) mostram que havia presença humana no continente
americano 30.000 anos atrás, o dobro do tempo estimado segundo as
teorias mais aceitas.
"É surpreendente que este lugar tão antigo,
se é que tem presença humana, esteja tão ao sul e tão ao leste como o
Uruguai", o que, se for aceito pela comunidade científica internacional,
seria "uma descoberta de grande importância para toda a América",
declarou Fariña à AFP.
O que começou em 1997, quando uma forte
seca deixou descobertos vestígios fósseis, que a princípio foram
coletados por estudantes da região, pôs sobre o tapete uma jazida com
"restos abundantes de megafauna sul-americana", comentou Fariña a
respeito dos mais de mil ossos descobertos até agora.
Segundo o
paleontólogo e seus colaboradores, cerca de 5% dos fósseis encontrados
apresentam marcas que têm as características de ferramentas humanas,
sugerindo uma presença humana em 29.000 a 30.000 anos atrás.
Para
os pesquisadores, outra evidência de que a mão do homem está
representada na jazida é a composição por idades dos ossos animais
presentes no local: a alta representação de adultos em plenitude dentro
dos restos se contrapõe com jazidas produto da ação continuada dos
carnívoros, onde peças de juvenis e de anciãos são as mais numerosas.
Eles
descartam, no entanto, que a ação fluvial na corrente de água tenha
sido a causadora do acúmulo de ossos porque a corrente de água é frágil
demais para mover este tipo de fóssil. Isto reforçaria a hipótese de que
o homem foi o criador deste sítio, afirmam.
Sítio arqueológico?
Embora
o estudo tenha gerado no Uruguai grandes expectativas na comunidade
científica, alguns colegas de Fariña põem em dúvida o valor arqueológico
do sítio estudado.
O Arroyo del Vizcaíno "é um sítio
paleontológico espetacular, mas a dúvida principal é se um sítio
arqueológico (...) que tem marcas (supostamente humanas nos ossos) pode
ter sido provocado por agentes naturais", declarou à AFP o arqueólogo
Rafael Suárez.
Suárez assegurou que a equipe que trabalha na
jazida descoberta o faz sem atender a padrões de escavação arqueológica;
além disso, tirou o caráter único da possível descoberta, afirmando que
"não há dúvida de que o homem pode ter chegado há 30, 40, 50 mil anos
atrás à América, isto não está em discussão".
Calcanhar de Aquiles do estudo
Um
dos aspectos mais discutidos da descoberta e sua possível relevância
para os registros pré-históricos do continente americano surge da quase
nula presença de ferramentas dentro da jazida.
"A fragilidade que
nós admitimos é que, por enquanto, há muito pouco elemento lítico, não
há a grande quantidade que se esperaria para poder processar um número
tão grande de animais como o que se encontra", admitiu Fariña.
No entanto, destacou que esta fragilidade é "um argumento pequeno comparado com a força de outros argumentos".
Dentro
das peças encontradas se destaca uma em forma de raspador que, estudada
em microscópio, apresenta um micro-polimento característico de uma
raspagem de couro, afirmaram os cientistas que em breve retomarão as
escavações em busca de mais peças líticas.
Para Suárez, este
artefato que seria prova da presença humana gera "sérias dúvidas de como
se integrou ali, como entrou para fazer parte do local onde hoje se
está escavando".
"É uma peça do tamanho de uma unha e é preciso
imaginar que esta peça teve que cortar pelo, couro, músculo e chegar ao
osso destes mega-animais, muitos deles com 40 ou 50 centímetros de
diâmetro", questionou Suárez.
Com a publicação do estudo na
revista britânica e a exibição de algumas partes encontradas em Arroyo
del Vizcaíno no Museu de Arte Pré-colombiana de Montevidéu, o mundo da
antropologia poderá aprofundar o estudo e suas hipóteses.
Ao mesmo
tempo, em território uruguaio, continua a busca de mais peças que
avalizem a hipótese de seus criadores.
Fonte: Yahoo!
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