Sem os tesouros que a tornaram célebre, mas com a magia que ainda a
rodeia, a tumba do faraó Tutancâmon já tem ao seu lado uma cópia que,
surgida a partir de uma avançada técnica, poderia livrá-la de turistas
para que descanse em paz.
Logo antes de penetrar no Vale dos Reis, a imensa necrópole da antiga
Tebas, está a casa de Howard Carter, arqueólogo britânico que em 1922
descobriu intacta a câmara funerária do mais famoso faraó egípcio.
No terreno ao lado surgiu um montículo artificial com uma entrada para a reconstrução da descoberta de Carter.
É a réplica da tumba de Tutancâmon, obra do estúdio Factum Arte,
sediado em Madri, que foi enviada pela União Europeia ao Egito em 2012 e
que será inaugurada hoje e aberta ao público no dia seguinte.
Após passar um longo tempo guardada e diante da dúvida de qual seria
seu destino, as autoridades egípcias finalmente aceitaram que a cópia
fosse instalada nas proximidades da cidade de Luxor, no sul do país,
como se concebeu desde o início.
Essa nova "irmã gêmea", acessada atravessando um corredor e uma
antecâmara, pretende devolver "o espírito da arqueologia", comentou à
Agência Efe o artista britânico Adam Lowe, que lidera o projeto.
Luzes tênues ambientam o local, que também compartilha com o original fatores externos como a umidade e as altas temperaturas.
"Tirar o pó das paredes foi incrivelmente difícil, entre outras
coisas porque a pintura é muito frágil", explicou Lowe, ao enumerar as
dificuldades que tiveram para captar detalhadamente os elementos do
túmulo real antes de reproduzi-lo.
Há cinco anos gravaram em 3D a câmara funerária, com um único
sarcófago em seu interior. A partir dessa imagem trabalharam para
refletir da forma mais fiel possível essa herança cultural em paredes de
poliéster com fibra de vidro que foram revestidas com uma espécie de
"pele" elástica e rugosa.
"É impressionante como a pesquisa ajuda o processo", com desafios
como elaborar os materiais ou desenvolver a tecnologia, disse à Efe o
espanhol Javier Verrumo, responsável pela montagem.
Não se salvam da imitação nem os remendos, microbactérias e defeitos
acumulados desde a criação da última morada do chamado "faraó menino",
da dinastia XVIII.
Tutancâmon morreu jovem, após um breve reinado entre 1332 e 1323 a.
C. aproximadamente, mas foi a descoberta de seus tesouros que fez com
que se suscitasse uma febre pela egiptologia.
Apesar de as informações que a descoberta proporcionou terem sido
inestimavelmente valiosas para os pesquisadores, sempre ficarão outros
mistérios por resolver, como o que ficou conhecido como "o fragmento
perdido".
Lowe explicou que, durante anos, uma parte da parede que foi retirada
para tirar os objetos permaneceu na tumba entre os escombros.
De repente esse pedaço desapareceu e pode ser que esteja guardado nos
porões do Museu Egípcio do Cairo, sugeriu o britânico. Essa parede
"extraviada" foi reconstruída a partir de uma pequena fotografia em
preto e branco que Harry Burton tirou quando ela foi retirada de seu
lugar.
Nesse jogo de ideias que surgem da relação entre o original e a
cópia, Lowe reafirmou a necessidade de "revelar a biografia da tumba e
fazer com que as pessoas pensem que a originalidade é ativa" e vai
mudando no tempo.
A porta que some e reaparece para a réplica é um exemplo dessa atividade, como as próprias sepulturas faraônicas também são.
"As tumbas não foram concebidas para serem visitadas, sua
originalidade residia em estar em um lugar fechado; por isso, quando se
abrem ao público a sua natureza muda", declarou o artista.
Dentro dessa ótica, disse, o novo projeto, que contou com o apoio,
entre outros, da Fundação Factum e da associação suíça Amigos das Tumbas
Reais do Egito, se alimenta da "tumba mais famosa do mundo, o
descobrimento arqueológico melhor documentado para conscientizar sobre
os problemas de conservação".
A cópia poderá suportar mais de meio milhão de visitas por ano. Se as
autoridades egípcias acharem conveniente, pode ser uma opção para
reduzir e, se for o caso, até parar a afluência de turistas ao túmulo
original, que com mais de 3.300 anos de antiguidade sofre o desgaste da
passagem do tempo e da curiosidade humana.
Fonte: Terra
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