Fósseis encontrados por um amador há 16 anos numa praia da Lourinhã e agora identificados por cientistas portugueses e espanhóis revelaram a existência de um dinossauro raro na Europa, o carnívoro ceratossauro, de acordo com um estudo agora publicado.
"É o único exemplar mais completo em Portugal e na Europa. Além deste, conhece-se apenas alguns dentes isolados", afirmou à agência Lusa Elisabete Malafaia, da Universidade de Lisboa que subscreve o estudo, agora publicado na revista "Historial Biology", em conjunto com o português Bruno Silva e com os espanhóis, Francisco Ortega e Fernando Escasso, da Universidade Nacional de Educação à Distância, de Madrid.
Os especialistas conseguiram identificar os fósseis como pertencentes à pata direita de um dinossauro "ceratosaurus", um carnívoro terópode, bípede e de grande porte, com 140 milhões de anos, e que podia chegar aos sete metros de comprimento.
O estudo de comparação e medição dos ossos encontrados pelo Museu da Lourinhã, onde existem dentes e fósseis de uma pata esquerda de ceratossauro, permitiu aos investigadores concluir que "os novos fósseis agora identificados são provenientes da mesma jazida dos do Museu da Lourinhã e pertencem ao mesmo animal" identificado pelos paleontólogos do museu a partir de dentes e de ossos da pata esquerda, que aí estão expostos.
A existência de uma crista nas articulações das patas, característica única até agora conhecida e atribuída àquele gênero, foi o principal indicador de que se tratava do mesmo animal, tendo também em conta a localização e a raridade de ambos os achados.
O conjunto de fósseis deste animal existente em Portugal constitui o registro mais completo do gênero "ceratosaurus" existente fora da América do Norte, onde este gênero estava identificado desde pelo menos o ano 2000.
A investigação vem também contribuir para o estudo de como a abertura do Atlântico Norte e a separação dos continentes europeu e americano contribuíram para a evolução das faunas.
"Com base no material que temos do ceratossauros, não conseguimos diferenciá-lo das formas norte-americanas e consideramos que é o mesmo gênero. Embora nessa altura já houvesse separação dos continentes, há sinais de que o contacto entre faunas seria muito próximo", concluiu Elisabete Malafaia.
Contudo, os investigadores encontraram pequenas diferenças entre os exemplares norte-americanos e portugueses que indiciavam uma diferenciação de espécies, dentro do mesmo gênero, para as quais será determinante a descoberta de novos fósseis.
O achado agora estudado foi feito por volta de 1998 na praia de Valmitão, concelho da Lourinhã, por José Joaquim dos Santos, um cidadão de Torres Vedras que, nos seus tempos livres de carpinteiro, se ocupa a encontrar achados de dinossauro e outros animais nas arribas.
Nos últimos 20 dias, José Joaquim dos Santos recolheu alguns milhares de fósseis pertencentes a dinossauros, tartarugas, crocodilos, peixes e até tubarões, cuja coleção foi vendida em 2009 à Câmara de Torres Vedras, para vir a expô-los num futuro museu.
A coleção tem vindo a ser estudada desde essa altura por investigadores associados da Sociedade de História Natural de Torres Vedras.
Fonte: RTP
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