quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Evidências contrariam homem que garante ter previsto morte de Campos


Uma carta com a previsão da morte de Eduardo Campos ganhou repercussão após o acidente que matou o candidato à Presidência da República. 


No documento que se espalhou pela web, uma mensagem supostamente enviada ao Governo de Pernambuco em 2005 alertava sobre uma “sabotagem” na aeronave de Campos, que causaria a tragédia do dia 13 de agosto de 2014.


Diante dos debates gerados nas redes sociais sobre a veracidade da previsão, o EXTRA entrou em contato com o vidente por trás do documento, Jucelino Nóbrega da Luz, de 54 anos. Natural de Maringá, no Paraná, ele reside atualmente em Águas de Lindóia, interior de São Paulo. 


Ele afirmou que a correspondência teria sido enviada em 15 de junho de 2005 - como mostra a imagem compartilhada. Mas é possível ver um outro comprovante de envio por trás da carta, como marca d’água. A data é outra, mais recente, do ano 2014.







Uma pessoa da equipe que trabalhava na campanha de Eduardo Campos afirmou que nunca teve conhecimento do documento. E acrescentou que o candidato “não daria ouvidos” para a previsão.
— Eduardo era uma pessoa muito religiosa. Ele não daria legitimidade para este tipo de coisa.


Não há evidências de que a carta em questão tenha sido remetida nas datas apresentadas nos recibos. Jucelino também não quis divulgar o número para rastreamento de correspondência informado aos clientes pelos Correios, que comprovaria a data de envio e seu destinatário. 


Confrontado com as evidências sobre a validade da correspondência, Jucelino disse ter em mãos outras provas que comprovam a veracidade de seu testemunho, mas que só as divulgaria mediante um pedido da Justiça.


— Não tenho interesse de provar nada a ninguém. Até hoje não tenho nenhum processo contra a minha pessoa — declarou Jucelino, em entrevista por telefone.


Embora não tenha nenhuma acusação contra si, Jucelino parece utilizar os meios jurídicos com frequência. No Tribunal de Justiça de São Paulo, há nada menos que dezoito processos em que o vidente aparece como requerente. Dois deles são pedidos de indenização por dano moral.


No texto, o vidente escreve diretamente para Eduardo Campos. “Esse é um sinal de que sua vida corre perigo”. 


Chama a atenção o fato de o destinatário da carta ser o governo de Pernambuco - comandado por Campos a partir de 2007 - e não o Ministério de Ciência e Tecnologia, pasta ocupada por ele à época do suposto envio, em 2005. Confrontado com a informação, Jucelino se justificou:

— Não está escrito 'ao governador' e sim 'ao governo'. Queria apenas que a carta chegasse às mãos dele — disse.


“Contra provas, não há argumentos”


Em outro documento apresentado por Jucelino, uma lista com previsões para este ano teria sido registrada no Tabelião de Notas e Protestos de Água de Lindóia, em 05 de junho de 2006. 


O suicídio do ator Robin Williams também teria sido “revelado” para o vidente em um sonho, segundo ele. No blog de Jucelino, no qual são postadas as previsões mensais, no entanto, não há qualquer menção à tragédia com o então presidenciável, nem à morte do ator americano.


Ao EXTRA, uma funcionária do Tabelionato de Notas e Protesto de Letras e Título, em Águas de Lindóia, informou que não é possível afirmar se Jucelino autenticou ou não a carta no cartório.


- Eu atentico, verifico com a original e devolvo autenticada. O documento não fica aqui, não há um registro do que é autenticado aqui - explicou. A funcionária contou ainda que Jucelino é bem conhecido no local.


- Já vieram várias televisões, até do Japão, procurar a gente e tentar descobrir. É engraçado porque ele prevê, aí só quando acontece é que as cartas vem à tona. Não é engraçado? - alfinetou ela.


Jucelino afirmou que os documentos teriam sido publicados em sua página oficial em um post de 17 de março de 2014. Mas a mesma internet usada para promover “o premonitor de maior credibilidade do Brasil e do mundo” - como Jucelino se autodenomina - também oferece ferramentas que levantam mais suspeitas sobre a história.
 
 


 
 
No site “Wayback Machine”, no qual é possível ver as inserções feitas em atualizações na internet, a carta só aparece no post sobre acidentes aéreos no dia 14 de agosto, um dia depois da queda do avião de Campos. Antes da data, o post havia sido atualizado em abril e em março, sem nenhuma menção ao acidente.


Acusado de charlatanismo por usuários das redes sociais, Jucelino declarou ao EXTRA não se importar com as acusações:

- A internet é um veículo de comunicação acessível. É um direito de cada um falar o que quer. Mas contra provas, não há argumentos. Se nem Cristo agradou todo mundo, por que eu vou querer agradar? - disse Jucelino.




Fonte: Extra Online

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