Foi ridicularizado pelos jornais e ignorado pelos cientistas, mas nunca
deixou de acreditar que nos outros planetas havia vida inteligente – e
que os aliens comunicavam com ele.
Eram anos em que havia quem acreditasse que através da telefonia sem
fios, recentemente inventada por Marconi, era possível estabelecer
contacto com Marte.
Os mesmos em que se urdiam planos para cobrir parte
do deserto do Saara com espelhos e assim enviar mensagens de luz em
código morse para lá da Terra, e em que o fascínio por extraterrestres
(ETs) era tão grande que multidões de leigos se juntavam na rua para
observar planetas através de palhinhas.
Em 1914, no Algarve, Joaquim Reis Varela, então com 22 anos (nasceu
em 1892), lia tudo o que saía na imprensa sobre o assunto e corria as
bibliotecas da zona em busca dos poucos livros até então publicados
acerca do tema.
"Alfabetizado era, mas calculo que não tivesse mais do
que a 4ª classe. Era um autodidata, publicou vários artigos, sobretudo
no jornal da Voz do Operário, e dá para perceber que não se informava só
pelos jornais. Estou convencido de que leu todas as obras de Camille
Flammarion, enquanto astrónomo e doutrinário do espiritismo – nota-se a
influência", diz à SÁBADO Joaquim Fernandes, do Centro Transdisciplinar
de Estudos da Consciência, na Universidade Fernando Pessoa, no Porto,
que nos últimos anos tem investigado a vida daquele que descreve como o
"primeiro português a tentar estabelecer contatos telepáticos com
outros mundos".
Ridicularizado e ignorado
Às 22h de dia 20, sábado, passaram exatamente 100 anos desde que
este homem misterioso (terá vivido algum tempo em Lourenço Marques,
Moçambique, de onde regressou sozinho, aos 19 anos, com 1$18 no bolso,
hoje cerca de 25 euros) subiu pela primeira vez com um grupo de amigos a
São Bartolomeu de Messines, entre as serras de Monchique e do
Caldeirão, para comunicar com seres de outros planetas.
"Supostamente
obtém sinais luminosos, uns azuis, outros verdes, que remete para
planetas diferentes – Urano e Mercúrio. Dizia que eram expedidos no
espaço pelos aviadores de outros mundos", explica Joaquim Fernandes, que
publicará, em Abril de 2015, História Prodigiosa de Portugal. Magias
& Mistérios, com um capítulo dedicado a Reis Varela.
Nos anos que se seguiram, o homem continuou a avistar estrelas, a ter
visões e a comunicar com seres que considerava de inteligência superior
– os marcianos seriam os mais evoluídos, escreveu na Voz do Operário e
n’A Luz do Progresso, jornal que fundou em 1930 como "órgão oficial do
serviço de comunicações interplanetárias". Publicou dois livros.
Pediu a várias academias de ciências europeias que o acompanhassem à
serra para testemunhar os seus contatos. Nunca apareceu ninguém.
Na
imprensa, sobretudo no republicano O Século, era castigado sempre que
anunciava nova chamada para o sistema solar: "Está em Lisboa o homem
que fala com os astros e vamos ter, em breve, outra revolução!" Depois
desapareceu. "O último sinal de vida que tenho dele é de Outubro de
1931, teria 39 anos. Não sei se sobreviveu mais algum tempo…"
Astrônomo e espírita
Surgiu em África o interesse por seres de outros planetas. O biógrafo Joaquim Fernandes não apurou o que levou Reis Varela a
Moçambique, mas sabe que foi lá que surgiu o interesse pela comunicação
interplanetária. No regresso a Lisboa, sozinho e sem dinheiro, dormiu em
bancos de jardim e passou fome. Depois foi ajudante na Farmácia Lopes,
em Paço de Arcos.
Fonte: Sábado
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