quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Túmulo que retrata cadáver com ereção inspira turistas em Paris
















O túmulo do jornalista Victor Noir tem algo a mais que o torna um dos mais visitados no famoso Cemitério Père Lachaise, em Paris. E não é por um mero detalhe. Na sepultura, uma estátua retrata o cadáver, que exibe um volume extra na calça comprida, denunciando o órgão genital em ereção. 


O fato até poderia passar despercebido entre tantos monumentos de bronze oxidado se não fosse por uma questão: na parte da virilha, o bronze está polido e chega a brilhar em dias ensolarados. É resultado da crença que prevê mais fertilidade para quem passa a mão naquele ponto do metal. Mesmo assassinado há 145 anos durante uma discussão com um primo de Napoleão III, Victor tem a popularidade em alta entre os turistas. Virou mito. 


— O mito é capaz de fazer com que algo que parece inexpressivo para a gente ganhe um poder muito especial. E este é o caso que explicaria o culto a Victor Noir — avalia o mitólogo José Carlos Leal, autor do livro "O universo do mito".


A crença popular é de que um simples toque da mulher na estátua trará fertilidade e muito vigor na relação sexual. Há quem acredite que beijar a boca e segurar na ponta dos pés da estátua também possam trazer dividendos, como a conquista de um novo amor. Os locais são justamente os mais brilhantes na imagem escurecida pelo tempo. Muitos turistas, porém, levam a história na brincadeira e posam para fotos em frente ao túmulo.


Apesar do enorme número de celebridades enterradas no Père Lachaise, a sepultura do jornalista chama a atenção por estar quase sempre com flores, velas e visitantes. E conste que na vizinhança estão túmulos como os dos escritores Honoré de Balzac e Oscar Wilde, das cantoras Édith Piaf e Maria Callas, do compositor Fréderic Chopin e do cantor Jim Morrinson. 


A administração do cemitério chegou a colocar grades ao redor da sepultura em 2004 no intuito de impedir danos provocados por visitantes mais entusiasmados. Mas, após críticas e campanha de um programa de TV, retirou a proteção.


Com apenas 21 anos, Victor Noir - cujo nome verdadeiro era Yvan Salmon - foi assassinado em 10 de janeiro de 1870 por Pierre Bonaparte, primo do imperador Napoleão III. Ele havia procurado Pierre, acompanhado de outro jornalista, para acertar os termos do duelo que ocorreria no dia seguinte entre o próprio Pierre e o editor do jornal, que andara criticando o imperador. 


Durante o desentendimento, Pierre sacou a arma e atirou em Victor às 14h05, como indicam os registros. O crime comoveu Paris. Uma manifestação reuniu mais de 100 mil pessoas.


Em homenagem a Victor, o artista Jules Dalou retratou em uma estátua exatamente como o corpo ficou estirado no chão. O realismo surpreende, com pequenos detalhes e - digamos assim - grandes, também: a boca entreaberta, o vestuário impecável da época, as luvas, a cartola caída aos pés e até a anatomia da virilha, denunciando a ereção.


— Na hora da morte, ele (Victor) teve um priapismo. Priapismo é uma doença, um ataque, que não deixa que o órgão genital volte a sua posição tradicional — observa o mitólogo.


A comoção popular foi ainda maior por uma razão: o jornalista estava de casamento marcado para o dia seguinte ao encontro com Pierre.


— Aquela ereção é a que ele (Victor) ficou devendo à noiva. Ele ficou mitologizado — comenta José Carlos Leal.


O assassino foi preso no mesmo dia e julgado alguns meses depois. Respaldado pela influência da família poderosa, Pierre — também sobrinho-neto de Napoleão I — alegou legítima defesa e escapou da prisão, embora condenado a pagar uma indenização. 


O fato aumentou ainda mais a insatisfação popular contra o governo. Defensores da república elevaram Victor à categoria de herói. Em 4 de setembro de 1870, nove meses após o crime, Napoleão III seria derrubado.





Fonte: O Globo

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