sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Pesquisadores descobrem espinhos venenosos em pererecas brasileiras


 Perereca Corythomantis greeningi é uma das espécies peçonhentas de perereca identificadas por cientistas (Foto: Carlos Jared/Instituto Butantan)


Perereca Aparasphenodon brunoi é espécie peçonhenta, que injeta veneno por meio de espinhos na cabeça (Foto: Carlos Jared/Instituto Butantan)


O Corythomantis greeningi é encontrado na região da caatinga e possui coloração que se mistura com a do ambiente - Carlos Jared/Instituto Butantan


Crânio da perereca Corythomantis greeningi mostra os espinhos (Foto: Carlos Jared/Instituto Butantan)



É a primeira vez que estruturas para inoculação de toxinas são encontradas nesse tipo de anfíbio.
Não é surpresa que pererecas secretem veneno por glândulas na pele, mas os pesquisadores acabam de descobrir as primeiras duas espécies desses anfíbios que são verdadeiramente peçonhentos. 
Eles não apenas produzem toxinas, como possuem um mecanismo para atingir outros animais usando espinhos ósseos localizados em suas cabeças. O Corythomantis greeningi e o Aparasphenodon brunoi vivem no Brasil e são mais venenosos que algumas espécies de cobras.
— Descobrir uma perereca verdadeiramente peçonhenta foi inesperado, e encontrar pererecas com secreções mais venenosas que as víboras motais do gênero Bothrops (da jararaca) foi surpreendente — disse Edmund Brodie, da Universidade Estadual de Utah, nos EUA, um dos autores do estudo publicado nesta quinta-feira na revista acadêmica “Current Biology”.


As espécies já eram conhecidas há décadas, talvez séculos, mas os cientistas conheciam pouco sobre sua biologia. Eles não possuem predadores na natureza, o que faz sentido após as recentes descobertas.


Carlos Jared, do Instituto Butantan, foi o primeiro a relatar o achado, e o fez da forma mais dolorosa. Enquanto coletava exemplares para estudos, foi ferido na mão e sofreu com dores intensas por cinco horas. O evento, claro, chamou a atenção da dupla de pesquisadores.


— Essa ação deve ser ainda mais eficaz no revestimento da boca de um predador que o ataca — disse Jared.


E ele teve sorte. A espécie que o feriu é a menos venenosa das duas. Segundo cálculos dos cientistas, um grama da secreção tóxica da outra espécie, a Aparasphenodon brunoi, seria suficiente para matar cerca de 300 mil ratos, ou 80 humanos. A toxina do Corythomantis greeningi é 25 vezes mais branda, mas dependendo da dose também pode ser letal.


— É pouco provável que uma perereca produza tanta toxina, e apenas pequenas quantidades são transferidas do espinho para o ferimento — explicou Brodie. — Independente disso, não estamos dispostos a testar permitindo que uma perereca nos espete com seu espinho.


O Corythomantis greeningi vive na caatinga, enquanto o Aparasphenodon brunoi é encontrado em regiões de Mata Atlântica, entre o Rio de Janeiro e o Norte do Espírito Santo.

Sapos, rãs e pererecas são conhecidos pela produção de veneno, mas como arma de defesa passiva. A liberação da substância acontece pela pressão da mordida do predador. 


É a mesma estratégia de defesa do vertebrado mais venenoso do mundo. Um único exemplar do Phyllobates terribilis, anfíbio da família dos dendrobates, produz veneno suficiente para matar dez adultos.


Animais com defesa ativa, como a cobra, possuem mecanismo próprio para injeção da toxina. O movimento da mordida pressiona as glândulas e libera o veneno, por isso eles são chamados de peçonhentos. 


A descoberta de Brodie e Jared é surpreendente por, pela primeira vez, observar estruturas capazes de inocular as toxinas no predador, o que aproxima as duas espécies dos chamados animais peçonhentos.


Segundo os pesquisadores, a nova descoberta é importante para compreender a biologia dos anfíbios e suas interações com predadores no ambiente selvagem. 


O próximo passo é caracterizar melhor o veneno e as glândulas que produzem as toxinas. Brodie e Jared também estão analisando outras espécies ao redor do mundo, que ele também suspeitam que sejam peçonhentos.


— Não tenho dúvida que vamos encontrar outras espécies com essa arma de defesa. O trabalho tem essa função, de abrir perspectivas para outros estudos — disse Jared.





Fonte: O Globo

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