Exército escocês recrutava jovens de até 12 anos para os campos de batalha no século XVII.
Arqueólogos da Universidade de Durham, na Inglaterra, anunciaram
nesta quarta-feira a descoberta de evidências físicas de que
adolescentes, entre 12 e 16 anos, eram recrutados como soldados durante a
Guerra Civil Inglesa, na metade do século XVII. Os pesquisadores
identificaram restos de 28 esqueletos de prisioneiros escoceses que
lutaram, e perderam, a Batalha de Dunbar, no dia 3 de setembro de 1650.
Os esqueletos foram encontrados em novembro de 2013, durante a
construção de um novo café na principal biblioteca do campus, instalada
em um conjunto de palacetes do século XV. Foram recuperados os restos de
28 corpos, de dois fossos, e desde então o material passou por uma
série de testes para estabelecer suas identidades.
Exames de datação por radiocarbono de quatro amostras, selecionadas
cuidadosamente para garantir um resultado preciso, apontaram que a data
da morte foi entre os anos 1.625 e 1.660.
Além disso, alguns do
esqueletos apresentavam marcas nos dentes que indicavam o uso de
cachimbos de barro, de uso comum na Escócia a partir de 1.620.
Combinando essas datas com a natureza das sepulturas, resultados de
observações que estabeleceram que todos os esqueletos eram de homens,
provavelmente de origem escocesa, com idades entre 12 e 25 anos, os
arqueólogos concluíram que se tratam de prisioneiros da Batalha de
Dunbar.
— Levando em consideração o alcance de detalhadas evidências
científicas que temos agora, ao lado de evidências históricas do
período, a identificação dos corpos como soldados escoceses da Batalha
de Dunbar é a única explicação plausível — disse Andrew Millard,
professor do Departamento de Arqueologia da Universidade de Durham.
A Batalha de Dunbar é considerada uma das mais sangrentas, e rápidas,
da Guerra Civil Inglesa. Em menos de uma hora, os 12 mil homens do
Exército Parlamentar Inglês, sob comando de Oliver Cromwell, esmagaram o
Exército Escocês, com cerca de 11 mil soldados que apoiavam as
reivindicações de Charles II ao trono da Escócia.
Entre 1 mil e 2 mil soldados escoceses morreram, e as forças de
Cromwell perderam apenas vinte homens. O exército escocês estava
sofrendo com deserções, disputas políticas e falta de recrutas adultos, o
que explica a presença dos soldados adolescentes entre os prisioneiros
em Durham.
Cerca de 6 mil escoceses foram feitos prisioneiros, sendo que mil
deles foram imediatamente liberados por estarem doentes ou feridos.
Outros mil morreram durante a marcha por 160 quilômetros até a cidade de
Durham, onde os sobreviventes foram encarcerados em um castelo e numa
catedral. Nos anos seguintes, alguns foram libertados, outros fugiram,
mas a estimativa é que 1.700 prisioneiros da batalha morreram e foram
enterrados em Durham.
Entre os adolescentes, os pesquisadores destacaram um garoto, entre
13 e 15 anos, que deve ter morrido por infecções nos pés e nas pernas;
outro, de 14 a 15 anos, que parece ter sofrido de subnutrição por anos; e
um outro, entre 12 e 16 anos, que também tinha infecções nos pés e
pernas e, provavelmente, sofria de raquitismo.
— É um achado extremamente significante, particularmente porque joga
luz sobre um mistério de 365 anos sobre o que aconteceu com os corpos
dos soldados que morreram — Richard Annis, arqueólogo da Universidade de
Durham.
— O enterro foi uma operação militar: os corpos foram divididos
em dois fossos, possivelmente em um período de dias. É muito possível
que existam outras sepulturas em massa abaixo de onde hoje estão os
prédios da universidade, mas que eram campos abertos na metade do século
XVII.
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