O Tribrachidium,
uma bizarra criatura marinha que viveu há cerca de 550 milhões de anos,
é diferente de qualquer organismo moderno. Uma nova pesquisa sugere que
ela se alimentava de partículas em suspensão encontradas na água.
Uma nova pesquisa revelou que a estranha criatura cuja forma não se
assemelha a de nenhum organismo vivo na Terra, provavelmente usava seu
formato peculiar para alimentar-se; ela extraía as partículas suspensas
na água.
O Tribrachidium era um organismo que habitava as águas menos
profundas do oceano há cerca de 550 milhões de anos durante os últimos
anos do período Ediacara. Seu formato era redondo e ele tinha três
protuberâncias que mais pareciam tentáculos, localizadas no núcleo
superior e plano de seu corpo.
Estranhamente, o Tribrachidium tinha
simetria tripla, ou seja, três segmentos idênticos. Para que tenhamos
uma ideia, os seres humanos têm simetria dupla ou bilateral, e a estrela
do mar tem uma simetria quíntupla. Nenhum organismo vivo da atualidade
possui simetria tripla.
“Visto que não temos nenhum elemento moderno que possa ser usado como
referência, é realmente difícil descobrir como funcionava esse
organismo quando estava vivo. Não sabemos como ele se movia — se é que
fazia isso — como se alimentava nem como se reproduzia”, disse Imran
Rahman, um dos pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido,
e líder do estudo.
Rahman e seus colegas usaram uma técnica computacional chamada dinâmica de fluídos para mostrar que o Tribrachidium
alimentava-se de partículas orgânicas que flutuavam na água. Algumas
espécies marinhas modernas se alimentam dessa maneira, entre elas as
frágeis estrelas do mar, vários crustáceos e moluscos bivalves.
O Tribrachidium viveu há 40 milhões de anos antes da Explosão Cambriana, quando a vida na Terra se expandiu e se diversificou de forma relativamente rápida.
Segundo revelou Rahman à Ciência Viva, antigamente, os cientistas
pensavam que os organismos do período Ediacara eram muito simples.
No
entanto, as novas descobertas revelaram um quadro bastante mais complexo
desse período de tempo. É possível que o Tribrachidium tenha até mesmo produzido alterações em seu ambiente.
A alimentação suspensa “mobiliza o material orgânico que está sendo
transportado pela coluna de água”, disse Rahman. “Além disso, ela pode
aumentar a passagem da luz solar através da água e aumentar
poderosamente a oxigenação.”
Não há nenhuma evidência de que o Tribrachidium podia
locomover-se, por isso os pesquisadores pensam que talvez ele se
alimentasse de duas maneiras: por osmotrofia, ou pela absorção dos
nutrientes dissolvidos na água. O estudo concluiu que ele também era
capaz de capturar e digerir partículas maiores ao praticar a alimentação
suspensa.
Para desmistificar os hábitos alimentares do Tribrachidium,
Rahman e seus colegas criaram um modelo digital 3D do organismo,
baseado no molde obtido de um fóssil encontrado no sul da Austrália
(Fósseis do Tribrachidium também foram encontrados na Rússia e
na Ucrânia).
Logo depois eles submeteram esse modelo digital a correntes
virtuais, replicando o que teria sido seu ambiente no fundo dos mares
de pouca profundidade.
As correntes desaceleravam quando atingiam o Tribrachidium e
formavam redemoinhos ao redor do organismo. Esses turbilhões serviam
para fazer com que a água circulasse novamente em direção ao Tribrachidium
e se dirigisse para as reentrâncias existentes entre seus três braços
simétricos.
É provável que a gravidade dirigisse todas essas partículas
suspensas na água diretamente para essas fendas, permitindo que o Tribrachidium as captasse e se alimentasse com elas.
Uma simulação do Tribrachidium, feita por computador, mostra o fluxo de água sobre a parte superior de uma reconstrução 3D virtual desse organismo.
“Isso é realmente emocionante, porque até pouco tempo nós realmente
não tínhamos nenhuma evidência forte de que os organismos desse período
se alimentavam através de partículas suspensas na água,” diz Rahman.
Outras criaturas do período Ediacara continuam sendo um mistério, com seus formatos igualmente estranhos. Algumas como o Tribrachidium
têm forma de disco, disse Rahman, já outras parecem folhas. Ele disse
que gostaria de usar técnicas semelhantes de dinâmica de fluídos para
descobrir como essas criaturas poderiam ter se alimentado.
“Esta abordagem tem sido muito valiosa para nós em nossa tentativa de
entender esses organismos altamente misteriosos e enigmáticos,” disse
Rahman.
A pesquisa foi publicada com detalhes na edição de 27 de novembro da revista Science Advances.
Fonte: Yahoo!
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