Um grupo de cientistas liderado por um brasileiro descobriu, na Mata
Atlântica do Espírito Santo, uma nova espécie de perereca que se
reproduz exclusivamente na água acumulada no interior de bromélias. O
animal, de pouco mais de um centímetro, foi descrito em um artigo
publicado na quarta, 9, na revista científica PLoS One.
A nova perereca - batizada de Dendropsophus bromeliaceus - foi
encontrada em 2012, no município de Santa Tereza, 78 quilômetros a
noroeste de Vitória, durante as pesquisas de campo do doutorado de
Rodrigo Barbosa Ferreira, realizado na Universidade Estadual de Utah,
nos Estados Unidos. Hoje, Ferreira faz um pós-doutorado na Universidade
de Vila Velha, no Espírito Santo.
Segundo Ferreira, diversos gêneros de anfíbios têm a água das
bromélias como habitat, mas até agora não se conhecia nenhuma espécie do
gênero Dendropsophus com essa característica.
"Durante os trabalhos, nossa equipe descobriu que essa espécie era
nova e não havia sido descrita. A princípio, achamos que ela se
enquadraria em um novo gênero. Mas uma análise molecular demonstrou que a
nova espécie está na base genética do gênero Dendropsophus", disse
Ferreira a reportagem
Entre as 97 espécies do gênero, a Dendropsophus bromeliaceus -
apelidada de "teresense", em homenagem ao município - é a única que
utiliza a bromélia durante seu ciclo reprodutivo, segundo o cientista. O
animal macho tem em média 1,6 centímetro. As fêmeas são um pouco
maiores, chegando a 2,2 centímetros.
"Esse gênero é muito estudado e ocorre desde o México até o norte da
Argentina, distribuindo-se portanto em vários biomas. É muito
surpreendente que uma única espécie utilize esse ambiente peculiar para a
reprodução", afirmou o pesquisador.
Segundo Ferreira, os machos se instalam nas bromélias e produzem
vocalizações para atrair as fêmeas. Elas, por sua vez, põem seus ovos na
água acumulada pela chuva no interior da planta. É ali que os girinos
se desenvolvem.
"Elas vivem em bromélias de todos os tamanhos, em áreas de
afloramento rochoso e em áreas de florestas, expostas a diferentes graus
de insolação. É provável que os machos sejam territorialistas, por
conta do limitado volume de recursos necessários para a metamorfose -
como alimento água e espaço - encontrados em um habitat tão específico",
afirmou Ferreira.
Os detalhes sobre a ecologia da pequena perereca, porém, ainda serão
estudados por Ferreira, em seu pós-doutorado e por outros cientistas
envolvidos com sua linha de pesquisas. "Pretendemos agora entender mais
sobre a ecologia da espécie: descobrir qual o grau de interação dessas
populações com as bromélias, como elas selecionam as plantas e qual o
grau de territorialidade dos machos", disse.
Os pesquisadores tentar descobrir também se a nova perereca apresenta
cuidado parental - termo utilizado para descrever o comportamento de
espécies que cuidam de suas proles em algum estágio do desenvolvimento.
"Temos essa hipótese porque entre os anfíbios que vivem em bromélias há
um elevado grau de cuidado parental", disse.
Ameaças
Segundo Ferreira, a Dendropsophus bromeliaceus poderia ser enquadrada
na categoria de "espécies em perigo", de acordo com os critérios do
Ministério do Meio Ambiente e de órgãos internacionais como a União
Internacional para a Conservação da Nautreza (IUCN, na sigla em inglês).
"No entanto, como sabemos pouco sobre a ecologia da espécie, fomos
cautelosos e a enquadramos na categoria 'dados deficientes'", disse
Ferreira.
Três fatores poderiam colocar a nova espécie entre as ameaçadas. Um
deles é a abrangência restrita: o animal foi encontrado apenas no
entorno da Reserva Biológica Augusto Ruski, em Santa Tereza e, depois de
concluído o estudo, em um município vizinho.
O segundo fator é o fato da perereca utilizar um microhabitat muito
específico para reprodução - as bromélias. "Isso significa que a coleta
ilegal de bromélias na Mata Atlântica pode ser uma ameaça à espécie",
explicou Ferreira.
O terceiro aspecto que sugere uma ameaça à nova espécie é que até
agora ela só foi observada em propriedades particulares. A reserva
Augusto Ruschi tem uma área de cerca de 3,5 mil hectares e a perereca
foi encontrada nos afloramentos rochosos adjacentes, em áreas privadas
que somam 1,5 mil hectares.
"Com o novo Código Florestal, caso o proprietário tenha interesse em
desmatar essas áreas, é bem provável que ele consiga. Principalmente
porque esses locais de afloramento rochoso não são interessantes do
ponto de vista da conservação", afirmou.
Fonte: RD
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