Como em "Parque dos Dinossauros", preservação em âmbar lança
revolução no estudo das espécies animais. Achado do Sudeste da Ásia
expõe parentescos insuspeitados e confirma importância dos trópicos para
a biodiversidade.
Um pequeno animal morre preso na resina de
uma árvore conífera e é hermeticamente envolvido pela substância viscosa
e estéril. Passados alguns milhões de anos, a resina se fossiliza,
transformando-se em âmbar, e o cadáver em seu interior tem grandes
chances de estar preservado de maneira perfeita.
Esse processo
paleontologicamente tão importante é o que estimulou a imaginação dos
criadores da franquia O Parque dos Dinossauros, em que o sangue de uma
espécie extinta, sugado por um mosquito e mantido intacto pelo âmbar, é
usado na clonagem de novos espécimes. O resto é ambição humana e puro
azar.
Numa mina em Mianmar
Décadas atrás, 12 fósseis
em âmbar de lagartos foram encontradas numa mina em Mianmar, no sudeste
da Ásia. Três deles - um geco, uma lagartixa e um camaleão - estavam
especialmente bem conservados. Segundo os especialistas que recentemente
tiveram a chance de examiná-los detalhadamente, os restos fornecem
instantâneos da história evolutiva dos répteis, representando
verdadeiros elos perdidos.
"Estes fósseis nos contam muito sobre
a extraordinária, mas até então desconhecida, diversidade dos lagartos
nas florestas tropicais arcaicas", afirma Edward Stanley, herpetologista
do Museu de História Natural da Flórida e coautor de um estudo na
revista Science Advances.
Os exemplares chamaram sua atenção
depois que um colecionador particular os doou ao Museu Americano de
História Natural. Ao submetê-los à tomografia computadorizada, Stanley
reuniu indícios há muito procurados sobre como as diferentes espécies de
répteis emergiram de ancestrais comuns.
"O contingente fóssil
dos pequenos lagartos é esparso, já que sua pele delicada e ossos
frágeis normalmente não resistem à passagem do tempo, sobretudo nos
trópicos. Em geral temos uma pata ou outra pequena parte preservada em
âmbar. Mas aqui são espécimes completas, com garras, as partes carnosas
dos dedos e até escamas coloridas perfeitamente intactas. Isso os
transforma numa janela extremamente rara e única para um período crítico
da diversificação das espécies."
Bebê-camaleão mais velho do mundo
Os fósseis foram minuciosamente comparados a outros répteis, existentes
e extintos. Stanley constatou que um deles, um filhote de camaleão
medindo menos de dois centímetros, era cerca de 78 milhões de anos mais
antigo do que as espécies conhecidas.
O exame do geco (ou osga) revelou
que ele desenvolvera muito antes do que se pensava as patas adesivas que
permitem à espécie caminhar sobre superfícies verticais.
As
novas espécies serão denominadas e descritas em maior detalhe num estudo
futuro. Stanley enfatiza que o achado demonstra o valor de habitats
naturais estáveis: "Estes exemplos de diversidade passada,
maravilhosamente preservados, nos mostram por que deveríamos estar
protegendo essas áreas, onde seus parentes modernos vivem hoje."
Tal significado biológico se aplica em especial às zonas tropicais, "Os
trópicos geralmente funcionam como um refúgio estável, onde a
biodiversidade tende a se acumular, enquanto outros locais são mais
variáveis em termos de clima e espécies. No entanto os trópicos não são
imunes aos esforços humanos para destruí-los", adverte o herpetologista
americano.
Fonte: UOL
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