Solitário, notívago e calado, o tamanduaí é um bolinho de pelo alaranjado que, enrolado como costuma ficar, cabe nas mãos.
Também conhecido como tamanduá-anão, ele vive no dossel das árvores e é a
menor entre as quatro espécies de tamanduá. O corpo de um indivíduo
adulto tem cerca de 40 centímetros, sendo que quase metade disso é
cauda, e ele não chega a pesar 400 gramas.
O tamanho diminuto e os hábitos eremitas contribuem para que seja a
espécie menos estudada da superordem Xenarthra, que inclui ainda tatus e
preguiças, mas a descoberta de uma pequena população do animal em um
habitat inesperado pode ajudar os cientistas a obterem mais dados sobre
ele.
Sua distribuição original abrange as florestas tropicais da América
Central e do Sul, porém a baixa temperatura corporal (em torno de 33ºC) e
pouca capacidade termoregulatória limitam sua ocorrência a altitudes
abaixo dos 1.500 metros do nível do mar.
No Brasil, sabia-se que essa espécie podia ser encontrada na Amazônia e
na Mata Atlântica nordestina mas, recentemente, um grupo de
pesquisadores encontrou uma pequena população de tamanduaís vivendo em
manguezais do Delta do Parnaíba.
"É um achado muito importante já que só se tinha informação desse animal
vivendo em áreas de mata mais fechadas", conta a bióloga Mariana
Catapani.
Localizado entre o Piauí e o Maranhão, o Delta do Parnaíba é o terceiro
maior delta do mundo e o único do continente a desaguar diretamente no
oceano. De geografia complexa, ele é um mosaico de ecossistemas
entrecortado por baías e estuários e ramificado em um arquipélago de
cerca de 70 pequenas ilhas separadas por canais fluviais labirínticos.
Ecossistema de transição entre cerrado, caatinga, restingas e mangues, é
considerado um dos mais produtivos do planeta por conta de sua
biodiversidade.
Seu ambiente quente e úmido oferece condições ideias para a reprodução
de diversas espécies e biólogos acreditam que ele possa servir de banco
genético para a recuperação de áreas degradadas.
Estima-se que 25% dos manguezais brasileiros tenham sido destruídos no
começo do século 20 e os que ainda restam, como o do Delta do Parnaíba,
estão sob constante ameaça por conta da caça predatória e do
desmatamento.
Por isso, a descoberta causou empolgação e preocupação com esses bichos
tão frágeis. Foi um guia turístico que encontrou os tamanduaís e avisou
os pesquisadores. Hoje ele integra o único grupo de pesquisa dedicado à
espécie no mundo, coordenado por Flávia Miranda, pesquisadora da área de
zoologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Conhecido como Projeto Tamanduá, o Instituto de Pesquisa e Conservação
de Tamanduás no Brasil reúne nove pesquisadores da USP, UFMG e do Museu
Paraense Emílio Goeldi. São seis biólogos, dois veterinários e um
técnico empenhados no estudo e conservação dos bichos no país.
Financiado por agências de fomento como Capes, Fapesp e Fapemig, o
projeto tem sede na UFMG e recentemente montou uma base em Ilha Grande,
no Piauí.
Não se sabe se o tamanduaí é uma espécie ameaçada. Os estudos sobre sua
população são tão incipientes que os pesquisadores não têm uma
estimativa de quantos indivíduos existem no Brasil.
"Supomos que a
população da Amazônia seja maior que a da Mata Atlântica, que já sofreu
mais depredação. No Parnaíba, encontramos tamanduaís em Ilha Grande e na
Ilha das Canárias", diz Miranda. Até agora, foram encontrados cerca de
dez animais no Parnaíba.
Os pesquisadores acreditam que as populações de tamanduaí da Mata
Atlântica e da Amazônia tenham sido separadas durante o Pleistoceno
(entre 2.588 milhões e 11.5 mil anos atrás), quando as florestas da
Amazônia se retraíram, dando origem à caatinga. A população do Delta do
Parnaíba seria a ligação entre os grupos desses dois grandes biomas.
"Nossa expectativa é poder contar a história evolutiva dessa espécie.
Saber como e por que eles se separaram, quais as diferenças entre essas
populações. A partir da avaliação genética dos indivíduos que coletamos
no Parnaíba já podemos dizer, por exemplo, que são mais próximos dos
tamanduaís do nordeste do que dos da Amazônia. De algum modo, esses
grupos têm mantido um fluxo genético entre eles, ainda que baixo",
explica Miranda.
Os próximos passos do projeto são estudar os hábitos reprodutivos e
alimentares do tamanduaí e averiguar se há incidência da espécie em
outras ilhas do arquipélago. "Em um ano, queremos ter um inventário dos
hábitos dessa população para conseguirmos protegê-la", finaliza Miranda.
TAMANDUAÍ
(C. didactylus)
TAMANDUAÍ
(C. didactylus)
(C. didactylus)
ONDE PODE SER ENCONTRADO
O
animal habita desde o sul do México, passando pela América Central
(exceto El Salvador) e América do Sul, chegando até o sul da Bolívia
No Brasil, a espécie pode ser vista na floresta amazônica e na mata
atlântica, nos Estados do Rio Grande do Norte, Maranhão, Piauí,
Paraíba, Pernambuco e Alagoas
GARRA AFIADA
Possuem dois “dedos” em cada membro anterior, com garras curvadas que funcionam como ferramenta para abrir formigueiros, subir em árvores e se proteger
Possuem dois “dedos” em cada membro anterior, com garras curvadas que funcionam como ferramenta para abrir formigueiros, subir em árvores e se proteger
Diferentemente de outras espécies de tamanduá, o macho ajuda a cuidar dos filhotes e o animal não vocaliza
- Habitat
Florestas úmidas, áreas de capoeira, manguezais e florestas decíduas (cujas folhas caem no outono)
- Alimentação
Formigas que vivem em árvores
- Ameaças
Desmatamento, incêndios florestais, captura para utilização como bicho de estimação (comum na região amazônica)
- Gestação
Cerca de 120 dias
Fonte: Folha de São Paulo
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