Calassomys apicalis, roedor descoberto em Minas Gerais
O tufo de pelos brancos na ponta da cauda foi a primeira pista para que
um grupo de pesquisadores identificasse um roedor, nativo do cerrado de
Minas Gerais, como um gênero de animal até então desconhecido.
E a
equipe ainda descobriu que ele é o membro mais primitivo de seu grupo,
com a maior parte dos "primos" vivendo nos Andes ou na Patagônia.
Nada mal para uma criatura como o Calassomys apicalis, ou rato-do-rabo-branco, que mede apenas 11 cm (sem contar a cauda, com 15 cm).
"Quando examinei o esqueleto e particularmente os dentes dele, vi que
não conhecia nada parecido entre espécies viventes, só entre fósseis
mesmo", disse a zoóloga Gisele Lessa, da Universidade Federal de Viçosa
(MG) e uma das responsáveis pela descrição do bicho no "Journal of
Mammalogy".
Quem notou o tufo branco foi Edeltrudes Câmara, da PUC de Minas Gerais,
também responsável pelo estudo. E o primeiro autor da pesquisa é Ulyses
Pardiñas, do Centro Nacional Patagônico, na Argentina.
"Eu e Gisele nos
conhecemos desde 1995. Ela fez a gentileza de me mostrar esse material
estranho e pude trazer parte dele para a Patagônia. No momento, estou
descrevendo outra nova espécie brasileira, o que mostra que esses estudos não têm fronteiras", afirma Pardiñas.
Embora esteja muito longe dos Andes, o C. apicalis mantém o gosto da
família pelas montanhas. É encontrado apenas em altitudes superiores a
1.000 metros, no Parque Nacional das Sempre-Vivas, a cerca de 300 km de
Belo Horizonte. Seu habitat são os chamados campos rupestres, um
ambiente rochoso, de vegetação rala, onde são comuns as espécies
endêmicas.
Segundo Gisele, tudo indica que o bicho vive numa área muito restrita, o
que acende um sinal amarelo sobre a conservação da espécie. "Não há
perigo no Sempre-Vivas, que está protegido, ainda bem. Mas, em outros
lugares com campos rupestres, qualquer afloramento rochoso pode virar
brita, e aí complica".
Pela anatomia primitiva e por estar tão distante de seus parentes, o
novo gênero poderá ajudar a entender a evolução dos roedores
sul-americanos.
A ideia básica é que, na Era do Gelo, ambientes frios e
de vegetação rala eram mais comuns. Com o fim do período glacial, tais
áreas sumiram, deixando espécies isoladas em partes elevadas das regiões
tropicais. Resta saber se o grupo foi do Brasil para os Andes, ou
vice-versa.
Fonte: Folha de São Paulo
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