Alguns corajosos não têm medo de enfrentar assombrações que tiram o sono
de muita gente. Conheça as histórias de quem dedica a vida a investigar
eventos sobrenaturais.
O ano de 1970 chegava ao fim quando Roger e Carolyn Perron arremataram,
num leilão, uma antiga casa de campo em Harrisville, no estado americano
de Rhode Island. O clima bucólico parecia perfeito para o casal criar
suas 5 filhas pequenas. Mas, logo na primeira semana, o cachorro
amanheceu morto, enforcado pela coleira. Os dias passaram e diversos
hematomas apareceram no corpo de Carolyn.
À noite, as meninas sentiam um
forte cheiro de carne podre no ar e tinham seus pés puxados ao dormir.
Porta-retratos se espatifavam pelo chão sem nenhuma explicação. A TV
ligava sozinha. Ouviam-se batidas nas paredes. Em pouco tempo, os
acontecimentos de Harrisville chegaram até Ed e Lorraine Warren,
investigadores paranormais fundadores da New England Society for
Psychical Research (NESPR), uma das mais antigas sociedades de
caça-fantasmas dos EUA.
Bastou cruzar a porta de entrada da casa para
que Lorraine percebesse: tratava-se de um lugar mal-assombrado. Hoje,
aos 88 anos, Lorraine segue na ativa. Nos anos 70, sua capacidade
psíquica, como médium e clarividente, chegou a ser testada por
pesquisadores do extinto Laboratório de Parapsicologia da Universidade
da Califórnia.
Já Ed, falecido em 2006, foi um dos mais notáveis
demonólogos (especialista em demônios) do mundo, reconhecido até mesmo
pelo Vaticano. Casados por mais de meio século, os dois formaram a mais
respeitada dupla de caça-fantasmas do planeta. "Ed estudava a fundo o
mundo dos demônios e, por isso, foi considerado uma 'autoridade no mal'.
Mas acho que podemos ser chamados, sim, de caça-fantasmas", diz
Lorraine. No currículo dos Warren, que se negavam a cobrar pelos
trabalhos, estão registrados mais de 4 mil casos em diversos países -
uma experiência que foi relatada em dezenas de livros, programas de TV e
documentários.
Devidamente instalados no casarão da família Perron, Ed e Lorraine
começaram a pesquisar a história da fazenda. Segundo o folclore local,
uma mulher teria sido acusada de bruxaria no fim do século 19, depois de
ser flagrada ofertando a vida de uma criança a Lúcifer - cravando-lhe
uma fina agulha na altura do crânio. Estava claro: o fantasma de
Bathsheba Sherman estava tentando expulsar a família. Andrea Perron,
então com 12 anos, discorda da tese de que Bathsheba era a maior culpada
pelos fenômenos.
"A senhora Warren atribuiu a maldição a Batsheba, mas
achávamos que ela estava errada, pois o demônio que atormentou minha mãe
falava um idioma arcaico", diz Andrea. Autora da trilogia House of Darkness: House of Light - The True Story
("Casa da escuridão, casa da luz: a verdadeira história", sem tradução
em português), lançada em 2011, a filha mais velha dos Perron revela que
o momento mais apavorante aconteceu na noite em que os Warren trouxeram
um time de especialistas para uma sessão de invocação dos espíritos.
Além deles, havia um médium, um padre e equipe técnica com profissionais
de áudio e vídeo - staff completo. "Contra a vontade do meu
pai e sem fazer um julgamento apropriado, eles começaram uma sessão que
se saiu terrivelmente errada. Aquilo infestou minha mãe, tomou seu
corpo. Ela levitou e foi atirada longe, na outra sala, pensei que fosse
morrer", relembra Andrea. Depois da tentativa frustrada de exorcismo,
Roger Perron pediu aos Warren que abandonassem o caso. Acreditava que o
mistério estava acima da capacidade dos especialistas.
A história adormeceu por décadas, vindo à tona com o lançamento do livro de Andrea e de um filme inspirado nos fatos, Invocação do Mal.
Até vender a casa, em 1980, a família teve que se adaptar à vida ao
lado dos fantasmas. "Aprendemos a conviver com essa presença, até porque
a maioria deles era inofensiva. Nem tudo foi tristeza e melancolia",
conta Andrea.
Ainda que os acontecimentos de Harrisville tenham
frustrado os caça-fantasmas Ed e Lorraine, essa não foi a investigação
que mais os atormentou. Poucos anos depois, Amityville se revelaria
pior. Muito pior.
Depois de investigar uma casa em Amityville, os Warren foram perseguidos por um ente do mal.
Na madrugada de 13 de novembro de 1974, Ronald Defeo Jr. matou a
tiros de rifle seus pais e os quatro irmãos no número 112 da Ocean
Drive, em Amityville, no estado de Nova York, nos Estados Unidos. Preso
até hoje, o assassino alegou, na época, ter sido influenciado por
entidades malignas. Depois, chegou a dizer que o argumento era falso.
O
fato é que, 13 meses depois da chacina, a casa ganhou novos moradores: a
família Lutz. Passaram-se apenas 28 dias entre a primeira e a última
vez que os Lutz pisaram na casa. Móveis e eletrodomésticos se moviam,
portas batiam, as crianças apareciam arranhadas, barulhos estranhos e
vozes lamuriosas atormentavam a todos.
Aterrorizados, os Lutz deixaram
todas as suas coisas para trás, e os Warren foram chamados para
investigar a casa. "O caso Amityville afetou nossa vida mais do que
qualquer outro. Alguma coisa nos seguiu até a nossa casa e apareceu
tanto para mim quanto para Ed. Fomos atacados por uma entidade do mal",
afirma. A história dos Lutz já foi contada diversas vezes tanto pelo
cinema como pela literatura. A maioria das versões toma como base A Mansão do Diabo, best-seller escrito por Jay Anson em 1977.
Casas mal-assombradas sempre geraram controvérsia e são vistas por
muita gente como fraudes, mas tanto a parapsicologia quanto os
pesquisadores da paranormalidade procuraram levá-las a sério. Até por
que os relatos misteriosos se acumulam e, mesmo sem hipótese científica
que ajude a compreender melhor o que acontece numa casa supostamente
mal-assombrada, parte da população tende a acreditar que é tudo real.
Uma pesquisa divulgada pelo portal Huffington Post revelou que 45% dos
americanos acreditam em fantasmas ou na possibilidade de que os
espíritos de pessoas mortas voltem a certos endereços.
Fantasmas brasileiros
Na baía norte de Florianópolis, é uma ilha inteira, e não apenas uma
casa, que é conhecida por ser mal-assombrada. Durante a Revolução
Federalista, no final do século 19, dezenas de revoltosos contrários ao
regime de Floriano Peixoto foram presos e assassinados na antiga
fortaleza da ilha de Anhatomirim.
Historiadores estimam que até 200
pessoas perderam sua vida no local, a maioria vítima de fuzilamentos ou
enforcamentos. Desde então, vozes, ruídos, barulhos, vultos e
assombrações passaram a ser vistos e ouvidos no local.
São casos como esse que motivam o trabalho de pessoas como o gaúcho
Antonio Augusto Fagundes Filho, 53 anos. Ele não utiliza a parafernália
da maioria dos caçadores de fantasmas americanos - como detectores de
força eletromotriz, câmeras com infravermelho, monitores atmosféricos,
contadores Geiger e sismógrafos.
Nada disso: Fagundes é um caça-fantasma
um tanto peculiar. "Já participei de alguns grupos, mas sou um lobo
solitário mesmo", afirma. Pesquisador das ciências ocultas há mais de
três décadas, o autor de obras como O Livro dos Demônios, diz já ter passado por poucas e boas. Mas uma de suas experiências mais marcantes foi pernoitar em Anhatomirim.
Convidado por uma TV local, o demonólogo (como são chamados os
especialistas em espíritos do mal) entrevistou historiadores e
pescadores - alguns dos quais juraram haver assombração na ilha. "Pode
ser até lenda, mas eu passei muito trabalho quando pescava com meu pai e
meus irmãos e parava no Anhatomirim à noite. A gente via o sofrimento
dos caras que morreram enforcados lá", diz Fausto de Andrade, um
pescador local.
Para Fagundes, todas as assombrações relatadas na ilha eram causadas
por quem morreu de forma cruel no local há mais de 100 anos. Com
natureza espectral, de característica evanescente, os fantasmas costumam
aparecer se desfazendo - tal como uma fumaça ou nuvem. "Muitas vezes,
eles tentam interferir no nosso mundo apenas para chamar a atenção, em
busca de paz ou de um repouso final", diz.
Munido com adagas, espadas,
pedras energéticas, Fagundes valeu-se de rituais mágicos para contatar
as almas penadas. Meditou sob a árvore dos enforcados e, encostado nas
paredes onde aconteciam os fuzilamentos, garante ter libertado inúmeros
fantasmas que perambulavam pelo local.
"Vi as almas em tormento,
desesperadas. Elas queriam era uma luz, uma prece, uma lembrança de
alguém que lamentasse e partilhasse seu sentimento de justiça. Então,
trabalhei o ambiente com meus artefatos", afirma.
Quando parapsicólogos e demonólogos falham, há soluções mais
radicais. Na zona rural de Caiçara, no Rio Grande do Sul, uma família
vinha sendo aterrorizada por fenômenos paranormais nos primeiros meses
de 2014.
Marido, mulher e os três filhos (um menino e duas garotas entre
11 e 15 anos) chegaram a procurar ajuda na polícia e na prefeitura. O
mistério envolve pedras no telhado, pancadas nas paredes, levitação e
até mesmo uma aparente possessão demoníaca registrada por um produtor de
vídeo de uma cidade vizinha.
Fagundes analisou as imagens e acredita
que se trata de um caso típico de poltergeist - que, na definição dos
demonólogos, ocorre quando garotas adolescentes, em fase de mudanças no
corpo, liberariam uma energia incontrolável, como se tivessem possuídas
por entidades do mal.
Ou seja, para Fagundes, a natureza do problema em
Caiçara nada tem a ver com fantasmas e demônios: as meninas não
conseguiriam controlar a suposta energia decorrente das transformações
hormonais, típicas dessa fase da vida. Diante da insistência das
assombrações, a família adotou uma medida drástica: demoliu a casa.
Alucinação sonora
Mas casas mal-assombradas também podem ser explicadas pela ciência
tradicional. Foi o que Victor Tandy, pesquisador da Universidade de
Coventry, na Inglaterra, descobriu depois de levar um grande susto.
Trabalhando em seu laboratório, sozinho e tarde da noite, o professor
sentiu um pavor inexplicável.
Suando frio, de cabelos em pé e tonto,
enxergou de canto de olho uma mancha movendo-se a poucos metros de
distância. Em pânico, correu para casa, onde lembrou-se de relatos de
colegas que teriam tido uma experiência semelhante no mesmo local.
No
dia seguinte, Tandy participaria de uma competição de esgrima e, por
isso, carregou para o trabalho seu florete. Ao colocá-lo sobre a mesa, a
lâmina começou a tremer freneticamente. Eureka! Só podia ser uma fonte
de energia interferindo no objeto.
Após muita reflexão, o pesquisador percebeu que todas as assombrações
apareceram depois da instalação de um ventilador de exaustão no
laboratório. Pronto. A culpa era da ressonância. Quando se bate num
objeto, ele vibra e emite ondas sonoras com determinada frequência.
E
todo e qualquer corpo tem sua frequência de ressonância - ou seja, uma
frequência própria, que vibra com amplitude maior quando recebe a
energia gerada por excitações semelhantes. Ao medir as ondas do
ventilador, Tandy encontrou, além do ruído audível, o infrassom, uma
onda sonora muito grave abaixo do que o ouvido humano consegue ouvir,
que se multiplicava pela sala estreita com o mesmo comprimento de onda.
Cheio de energia sonora, o laboratório não só moveu o florete como havia
agido no corpo de Tandy, fazendo vibrar partes do organismo como o
bulbo cerebral - que controla a respiração e causou a sensação de
pânico.
Além disso, a frequência de ressonância do globo ocular era muito
parecida com a do ventilador. Por isso, o olho chacoalhou, fazendo com
que a retina produzisse um clarão - o tal fantasma. Ventilador trocado,
laboratório exorcizado.
Uma noite no museu
Em Monroe, uma pacata cidade do estado americano de Connecticut, vive
a mais famosa caça-fantasma do mundo. Aos 88 anos, Lorraine Warren
acumula milhares de histórias de investigação paranormal - a imensa
maioria ao lado de Ed, seu marido, que faleceu em 2006.
Mais do que
casos documentados, Lorraine guarda no porão de sua própria casa uma
infinidade de objetos recolhidos ao longo de mais de 60 anos. "São itens
do mal", como ela mesma diz. Trata-se do Occult Museum (ou Museu do
Ocultismo), que reúne instrumentos usados em rituais satânicos, como
crânios, livros de bruxaria, bonecos de vodu e até um espelho para a
invocação de espíritos.
Entre o que se pode chamar de destaques do lugar
está um órgão que se tocava sozinho e um sinistro ídolo satânico
encontrado numa floresta. Mas nada supera a boneca Annabelle. Doada aos
Warren nos anos 70 por uma estudante, a boneca teria ganhado vida
própria ao ser possuída por um demônio.
Desde então, Annabelle vive
trancada em uma caixa com porta de vidro, à exposição para curiosos. Um
cartaz avisa as poucas pessoas que se arriscam a visitar o lugar, aberto
ao público: não toque nos objetos. "As coisas que estão aqui são o
oposto daquilo que pode ser considerado sagrado ou abençoado. Por isso,
um padre vem regularmente benzer os objetos", explica Tony Spera,
diretor da New England Society for Psychical Research, fundada por
Lorraine, sua sogra, em 1952.
CAIXA DE FERRAMENTAS
Caça-fantasmas carregam na mochila alguns equipamentos que ajudariam a desvendar a origem das assombrações
EMFs: em lugares de atividade paranormal intensa, fantasmas causariam interferência sobre os campos magnéticos. Os EMFs detectam variações nesses campos.
Câmeras: filmadoras e máquinas fotográficas coletam indícios de fenômenos sobrenaturais. Quando captam luzes infravermelha e ultravioleta, melhor ainda. Há quem use, em conjunto, uma lanterna de laser, que facilita a detecção de sombras no vídeo.
Gravadores de áudio e Ghost Box: gravadores ajudam na detecção dos fenômenos eletromagnéticos de voz (EVPs). A Ghost Box é uma espécie de rádio que varre todas as frequências, inclusive as inativas, em busca de EVPs.
Smartphone: os caça-fantasmas também podem contar com o auxílio de aplicativos para telefone celular. O EVP Analyzer, por exemplo, grava fenômenos eletromagnéticos de voz. O Paranormal State EMF Detector varre campos magnéticos em busca de possíveis espíritos. Já o Ghost Radar grava os padrões de campo magnético, vibração e som do ambiente e avisa quando algo de anormal acontece.
Caça-fantasmas carregam na mochila alguns equipamentos que ajudariam a desvendar a origem das assombrações
EMFs: em lugares de atividade paranormal intensa, fantasmas causariam interferência sobre os campos magnéticos. Os EMFs detectam variações nesses campos.
Câmeras: filmadoras e máquinas fotográficas coletam indícios de fenômenos sobrenaturais. Quando captam luzes infravermelha e ultravioleta, melhor ainda. Há quem use, em conjunto, uma lanterna de laser, que facilita a detecção de sombras no vídeo.
Gravadores de áudio e Ghost Box: gravadores ajudam na detecção dos fenômenos eletromagnéticos de voz (EVPs). A Ghost Box é uma espécie de rádio que varre todas as frequências, inclusive as inativas, em busca de EVPs.
Smartphone: os caça-fantasmas também podem contar com o auxílio de aplicativos para telefone celular. O EVP Analyzer, por exemplo, grava fenômenos eletromagnéticos de voz. O Paranormal State EMF Detector varre campos magnéticos em busca de possíveis espíritos. Já o Ghost Radar grava os padrões de campo magnético, vibração e som do ambiente e avisa quando algo de anormal acontece.
Fonte: Super
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