Seu filho o ditador Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, herdou o governo e a fama, tiranizando o país até 1986, quando renunciou ao cargo de presidente e exilou-se na França.
Realmente não há provas de que os Duvalier fossem houngans, mas certamente eram devotos do vodu. Alguns de seus ministros eram Bokors, feiticeiros genuínos.
O vodu é uma antiga religião originária de Benin na costa ocidental africana e é um importante elemento de coesão social em alguns países africanos como Togo e Gana.
Têm suas raízes na crença do povo Fon-Ewe e na atualidade conta com mais de quarenta milhões de seguidores sendo a crença majoritária em Benin e no Haiti.
No Haiti, a religião foi oficializada em 2003, alcançando o mesmo status das religiões cristãs. Não se trata do estereótipo comumente aceito de sacrifícios de sangue, bonecas espetadas, maldições e “mortos-vivos”.
É uma religião animista perfeitamente estruturada e complexa, que se baseia no culto aos antepassados, que muitas vezes são elevados à condição de divindades, e a natureza, combinando elementos do cristianismo como velas, batismo, orações e o sinal da cruz.
Os cultos são presididos por sacerdotes denominados houngan (masculino), mambu (feminino) e hounsis (iniciados assistentes).
Possui um Deus principal, conhecido como Bondje ou Bon Dieu (Mawu na religião Fon e Ewe), espíritos voduns chamados de Loa e Iwa, sincretizados com os santos do catolicismo, os eguns, mortos ou ancestrais, um sistema divinatório regido por Fá, o vodun do destino e da adivinhação, semelhante ao Orixá iorubano feminino Ifá, popular no Brasil como a condutora do jogo de búzios.
Na África ocidental, as curas medicinais, os contra-feitiços, e previsões, são responsabilidades dos Inyangas, ou curandeiros, papel geralmente cumprido por mulheres, e correlacionado nas Américas as ialorixás, babalorixás (sacerdotes de Orixás) e aos babalaôs (sacerdotes do culto de Ifá) do Candomblé.
O termo vodu é uma transliteração do francês “vous tous” que significa “todos vocês”, mas em sua origem poderia também significar “espíritos” e derivaria do termo vodun do idioma Dahomey.
Nos séculos XVI e XVII o comércio de escravos tornou-se para os europeus e muitos reinos africanos a atividade mais lucrativa.
No Daomé o rei Agadjá (1716-1740) e seus descendentes empenharam-se em uma guerra com os reinos vizinhos e conquistaram o reino de Benin, transformando sua capital Ouidáh de onde se originara a dinastia, no maior mercado de escravos da África.
Tornaram-se vassalos do poderoso reino de Oiá que praticamente detinha o monopólio da escravidão. Os prisioneiros de guerra das várias etnias dominadas, principalmente os iorubás, eram vendidos ou trocados por produtos manufaturados e armas.
As guerras tribais foram encorajadas pelos europeus, que ao longo da Costa do Esqueleto construíram diversas fortalezas para o mercado em expansão no Caribe e nas Américas. A religião desse modo se tornou o elemento unificador entre os prisioneiros, o fator comum que os unia na busca pela liberdade.
No Brasil, escravos sudaneses de fé islâmica, das etnias hauçá e nagô que sabiam ler e escrever em árabe, muitos deles mais cultos que seus senhores, organizaram a revolta Malê em Salvador no estado da Bahia em 1835.
Nessa ocasião os revoltosos propunham o fim da religião católica imposta pelos escravocratas, o assassinato de brancos e mulatos, e a implantação de uma monarquia islâmica com a escravização de todos os não muçulmanos. O golpe de estado fracassou e a rebelião foi contida violentamente pelo governo.
A proposta malê era semelhante à ocorrida no Haiti em 1804 quando foi declarada a independência.
Jean Jacques Dessalines foi eleito governador vitalício, mas não satisfeito coroou-se imperador como o fez Napoleão Bonaparte no mesmo ano.
Dessalines perseguiu o catolicismo e ordenou a execução de toda a população branca, mas devido a sua tirania foi assassinado por seu próprio povo em 1806.
A tradição vodu dos fetiches e deuses, rituais e herbolários foi preservada em todas as comunidades de escravos nas Américas com vários nomes: Hoodoo nos Estados Unidos e sua variante de Nova Órleans o Voodoo, Vodun Jeje e Candomblé no Brasil, Santeria ou Regla de Ocha e La Regla Arara em Cuba, Porto Rico, Trinidad e São Domingos, Palería na Venezuela.
Nova Órleans nos Estados Unidos foi o berço da mais famosa rainha do voodoo no século 19, Marie Laveau, que viveu de 1794 a 1881.
Marie freqüentava a alta sociedade sulista, e como boa católica, colaborava com as obras de caridade do pároco da catedral de Saint Louis, o padre Antoine, que inclusive, permitia a realização de cerimônias Voodoo no altar mor da catedral.
A prática das bonecas espetadas como magia analógica, é uma característica do Voodoo da Louisiana, e não tem suas origens no Vodu haitiano, mas sim no método mágico de correspondência analógica europeu, e tornou-se associada ao Vodu tradicional devido à imaginação dos roteiristas de Hollywood.
Principalmente no interior do Haiti, nas comunidades Maroons, a religião vodu e o islamismo criaram raízes, apesar da repressão católica. Suas práticas e ritualísticas pouco diferiam da original africana apesar da influência indígena e européia.
Em 1740 um houngan de origem muçulmana, François Macandal, liderou uma rebelião contra os senhores franceses planejada durante as cerimônias vodu, incentivando os praticantes do culto a envenenarem os poços das plantações para gerar o pânico.
A guerrilha e o terror duraram 18 anos, até que em 1758 Macandal foi preso e sentenciado à morte na fogueira. Porém, antes da fogueira ser acesa, amaldiçoou seus captores e profetizou que nenhuma autoridade branca poderia matá-lo.
Durante a execução, as chamas tomaram seu corpo e a estaca que o prendia. Suas correntes com o fogo se soltaram e caíram ao chão. Uma lenda foi criada e seus discípulos passaram a acreditar que Macandal se transformara em um guédé, espírito vodu.
A influência do vodu ficou mais forte e a autoridade das igrejas cristãs foi abalada irremediavelmente. Os católicos lideraram uma campanha para estigmatizar o vodu como magia negra e malévola, mas a rebelião dos escravos Maroons renegados ganhou força e ímpeto.
Desse modo o vodu passou a ser usado para amedrontar os senhores brancos e a coagir os escravos das plantações que não aderiram aos insurgentes e que temiam os espíritos invocados, como os loupgarous, vampiros que sugam o sangue de crianças e o baron samedi (barão sábado) ou, maman brigit, senhores do submundo, as primeiras pessoas a serem enterradas em um cemitério de igreja, e que se transformam em guédés, os espíritos dos mortos guardiões dos cemitérios.
As revoltas se sucederam até 1º de janeiro de 1804 quando foi declarada a independência do país.
Zumbis seriam pessoas que tiveram a alma menor ou ti bon ange (pequeno anjo bom) roubada por um bokor ou feiticeiro no momento da morte ou logo após a morte. Essa alma menor, associada à penumbra e a consciência, convive com a gros bon ange (grande anjo bom) a alma que se manifesta no hálito e na sombra de cada um.
As duas habitam o corps cadavre (corpo mortal). O bokor, feiticeiro da magia negra, conservaria a alma do morto em uma garrafa e passaria a ter controle absoluto sob o corpo da vitima, agora um autômato, “morto-vivo”.
Mas por trás da história há uma realidade terrível que combina preconceito, escravidão, magia e controle social. Os bokors haitianos, à maneira dos sangomas, feiticeiros nigerianos e sul africanos que realizam os feitiços muti com ervas com esse propósito, conhecem muito bem as qualidades tóxicas e curativas inerentes a certas plantas e animais.
Um peixe em especial, da classe dos tetraodontiformes a qual pertence o peixe fugu japonês e o baiacu é de grande utilidade. Conhecida como droga dos zumbis, a Tetrodotoxina ou TTX é um dos venenos mais potentes conhecidos.
Sapo Atelopus
É um poderoso anestésico natural que pode matar em poucas horas ou paralisar a vítima. A pessoa envenenada fica em um estado semelhante à catalepsia, e consciente de tudo o que acontece ao seu redor.
A característica anestésica ímpar do veneno esta sendo estudada por laboratórios farmacêuticos americanos para um uso futuro na medicina e na exploração espacial aonde seria necessária a hibernação de astronautas em viagens prolongadas.
A toxina é habilmente manipulada pelos houngans que descobriram a fórmula mágica para a criação de mortos-vivos. Segundo especialistas, os zumbis são o produto da combinação de uma intensa pressão psicológica e de uma farmacopéia extravagante.
Geralmente a vítima do feitiço foi condenada socialmente, pode ser um doente mental ou alguém cujo comportamento não corresponde ao esperado.
A família, ou vizinhos mais chegados, coloca em seus alimentos doses de TTX e outros narcóticos prescritos pelo feiticeiro, que aumentam durante o “tratamento” até o dia de sua “morte”. Tempos depois a vitima “morre” e é sepultada normalmente com todas as honras.
De madrugada o Bokor vai ao cemitério e abre a sepultura obrigando a pessoa a ingerir o antídoto, uma pasta feita da planta psicoativa conhecida como “pepino dos zumbis”.
O novo “morto-vivo” acorda, mas em um transe semelhante à hipnose. Devido às seqüelas causadas pela falta de oxigenação cerebral e o estresse pós-traumático o individuo nunca mais será o mesmo.
Trabalhará e cumprirá ordens passivamente até morrer, e quando considerado incapaz ou tendo sofrido o suficiente é abandonado à própria sorte.
O problema no Haiti foi tão grave, que existe inclusive uma legislação específica para punir como tentativa de homicídio pessoas que utilizem substâncias para envenenar e reduzir alguém a um estado letárgico. Se após o letargo ocorrer um sepultamento o causador será acusado de homicídio doloso.
Obs: Em 2000 na Nigéria, membros do Congresso Odua de Povos prenderam em flagrante na cidade de Lagos, o nigeriano Yekini Ifalowo, pelo rapto de mais de cem jovens para suprir assassinatos rituais. Partes dos corpos (olhos, mamas, órgãos genitais) eram usados em feitiços muti, amuletos e tratamentos por curandeiros. Crimes semelhantes foram registrados na França e Espanha. Uma modalidade da santeria denominada Palo Mayombe, utiliza partes de corpos humanos para aprisionar espíritos. Uma grande parte dos 11 milhões de cubanos pratica a santería iorubá. Em Cuba é conhecida uma seita relacionada a santeria conhecida como Abakuá que venera a divindade Abassi. A seita segundo a lenda, utiliza um tambor sagrado confeccionado com pele humana denominado Ekwé, que necessita ser recado com sangue humano freqüentemente, e seria responsável por dezenas de assassinatos de mulheres e crianças.
2 comentários:
Só uma correção. Esse que está na foto não é o venenoso.
http://www.vivaterra.org.br/peixes_salgada.htm#baiacu
Nem todos tem o mesmo veneno,,, Quem não come está perdendo a melhor carne de peixe do mundo.
olha muito bom ja faz muito tempo eu vi um documentário na tv escola sobre isto e ja faz muito tempo que procuro na net
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