quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Cientistas descobrem função 'sexual' em presa de baleia rara


O bizarro par de dentes pronunciados das baleias de bico é uma forma que a evolução encontrou para ajudar as fêmeas a selecionar machos de sua espécie, segundo um estudo publicado na revista especializada Systematic Biology.

Aparentemente, os machos da espécie – os únicos que apresentam as presas – não usam os dentes que ficam para fora de suas mandíbulas para comer, mas sim para coçar uns aos outros.

Os cientistas do Instituto de Mamíferos Marinhos da Oregon State University, nos Estados Unidos, usaram análises de DNA para mostrar que as presas, provavelmente, evoluíram como características sexuais secundárias para ajudar as fêmeas na seleção de parceiros.

As baleias de bico são uma família de quase 21 espécies que formam o grupo menos conhecido de baleias e golfinhos.

Elas normalmente medem cerca de quatro metros de comprimento e passam a maior parte do tempo no fundo do mar procurando comida, raramente chegando à superfície.

Algumas das espécies nunca foram sequer vistas vivas, e só são conhecidas graças a cadáveres que chegaram à costa.

“As baleias de bico estão entre as baleias menos conhecidas, menos compreendidas e, francamente, mais bizarras em todo o oceano”, disse Scott Baker, diretor associado do instituto.

“Elas são a única espécie de cetáceos com presas, e há muito tempo cientistas se perguntavam o por que, já que elas se alimentam, basicamente, de lulas.”


Árvore genealógica


A forma dos dentes, ou presas, varia marcadamente entre as diferentes espécies.

Em algumas, elas parecem atrapalhar a alimentação, já que se curvam sobre a mandíbula superior, impedindo que a boca se abra completamente.

As fêmeas não têm presas e essa diferença entre os sexos, ou o dismorfismo sexual, é virtualmente a única forma de diferenciá-las.

A equipe de cientistas, que também inclui Merel Dalebout, da University of New South Wales, em Sydney, analisou amostras de DNA de 14 espécies de baleias de bico e usou-as para construir uma “árvore genealógica” mostrando como as diferentes espécies evoluíram.

Uma das teorias sobre a evolução dos mamíferos é de que diferentes grupos surgiram em cânions no oceano, que ficavam mais ou menos isolados do resto do oceano, e esse padrão evolutivo era responsável pelos dentes de formatos diferentes, mas a análise genética sugere outra coisa.

“Parece que as presas são basicamente uma característica ornamental que se tornou um motor na separação das espécies”, disse Baker.

“As presas ajudam as fêmeas a identificar os machos de sua espécie, o que sem a sua ajuda poderia ser difícil já que as espécies são bastante parecidas umas com as outras em forma e coloração.”

As fêmeas então usam a forma das presas para identificar os machos certos para se reproduzir. Elas também podem escolher os machos com base no tamanho ou formato das presas, ou das cicatrizes que eles apresentam.

A descoberta também significa que os machos mais bem sucedidos são aqueles com o formato de presa mais característico de sua espécie, garantindo que ela seja preservada e talvez melhorada ao longo de seu tempo de evolução – uma característica sexual secundária.

Os pesquisadores acreditam que esta seja a primeira vez que se mostrou que uma seleção a partir da característica sexual secundária pode ter dado a forma da evolução de qualquer mamífero marinho.

Entre outras características sexuais secundárias conhecidas estão os chifres de veados, que são muito mais proeminentes nos machos, indicam força e são usados em brigas.


Fonte: BBC

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