Desde 1980, um asteroide é o principal suspeito da extinção dos dinossauros. Dois novos estudos mostram que eles sobreviveram ao impacto.
Em Fantasia, o clássico filme da Disney de 1940 que uniu animação e música erudita, o episódio “Gênesis” faz uma alegoria sobre a evolução da vida na Terra (ao som de “A sagração da primavera”, de Igor Stravinsky).
“Gênesis” se desenrola na era mesozoica, dos répteis gigantes que habitaram o planeta entre 220 milhões e 65 milhões de anos atrás. O grande astro – meio século antes de O parque dos dinossauros – era o tiranossauro.
Em Fantasia, o longo reinado dos dinossauros acaba em tempestades de areia, calor asfixiante e sol abrasador. Quando só restam esqueletos num mar de dunas, o solo se abre e engole tudo. Cordilheiras projetam-se às alturas, apenas para ser tragadas pelo dilúvio universal.
O cataclismo reflete uma concepção ultrapassada da extinção dos dinossauros. Desde 1980, sabe-se que o vilão foi a queda de um meteoro no México.
No outro, James Fassett, de 76 anos, geólogo aposentado do Serviço Geológico americano, não descarta que o meteoro tenha sido responsável pela extinção – mas seu efeito não foi imediato. Ele descobriu que havia dinossauros na Terra 500 mil anos depois do impacto.
Entender a causa da extinção dos monstros “antediluvianos” é uma meta da ciência desde 1842, quando o inglês Richard Owen cunhou o termo dinossauro (do grego deinos, terrível, e sauros, lagarto).
Teorias nunca faltaram. A primeira foi a do dilúvio. O fim dos dinos já foi creditado a uma supernova, uma estrela vizinha do Sol que explodiu, banhando a Terra com radiação mortífera.
Em outra hipótese, a Terra cruzou uma nuvem de gás interestelar que teria sufocado os bichos. Culpou-se até um vírus, que seria causador de uma pandemia planetária.
Eles descobriram um acúmulo anormal do elemento químico irídio numa estreita faixa de rochas de 65,5 milhões de anos, o chamado limite K/T.
Abaixo dele, estão as últimas rochas do período Cretáceo (K), quando ainda havia dinossauros. Acima, estão as rochas terciárias (T), onde eles desapareceram. O irídio quase não existe na Terra, mas é abundante em meteoros.
Luis e Walter Alvarez calcularam que a concentração de irídio decorreria da queda de um astro de 10 quilômetros de diâmetro, voando a 20 mil quilômetros por hora. O impacto teria gerado uma explosão igual a 5 bilhões de bombas de Hiroxima.
Montanhas de rocha pulverizada foram lançadas na estratosfera, cobrindo o Sol por séculos. Segundo a tese, os animais que não morreram de imediato sucumbiram à fome e ao frio.
Em 1991, a teoria ganhou ares de fato comprovado. Prospecções petrolíferas no Golfo do México detectaram a cratera do meteoro.
Ela tem 180 quilômetros de diâmetro e está soterrada por 2 quilômetros de rocha, sob a cidade de Chicxulub, na Península do Yucatán, no México.
Escavações provaram sua idade: 65,5 milhões de anos. Tudo levava a crer que Luis e Walter Alvarez tinham razão. Ou não?
Os paleontólogos nunca se convenceram. Eles sabem que o meteoro poupou as espécies menores e muitas de grande porte.
Os tubarões surgiram há 400 milhões de anos e sobreviveram incólumes. O mesmo se deu com os crocodilos. Quem sumiu foram os grandes répteis, nas versões alada (pterossauros) e marinha (plesiossauros), e a maioria dos terrestres, os dinossauros. Nem todos. Alguns sobreviveram. São as aves.
Desde 1989, Keller quer provar que a queda do meteoro não acabou com os dinossauros. “Nos últimos 20 anos, tenho sido a bad girl da geologia”, disse a ÉPOCA, enfatizando seu distanciamento dos colegas geólogos, para quem a teoria do meteoro era fato consumado.
Em 2004, Keller foi ao México coletar rochas em torno do limite K/T. Ao analisá-las, achou fósseis de 52 espécies de animais abaixo da faixa de irídio.
As mesmas 52 espécies continuavam presentes nos 9 metros de sedimento acima da faixa, depositados durante 300 mil anos.
“É a prova de que o meteoro precedeu à extinção em 300 mil anos”, diz Keller no estudo publicado no Journal of the Geological Society of London. “Nenhuma espécie se extinguiu como resultado do impacto.”
Se não foi o meteoro, o que causou a extinção? “Sabe-se que, bem antes da extinção, os dinossauros sofriam uma redução de biodiversidade”, diz Keller.
“A extinção não foi repentina. Ela se deu ao longo de 2 milhões de anos, em quatro ondas sucessivas.”
Keller achou evidências dessas extinções em amostras coletadas no México, no Texas e no Oceano Índico.
Todas apontam um culpado: a megaerupção vulcânica iniciada há 68 milhões de anos nas Deccan Traps, um planalto formado pelo acúmulo de lava no centro-sul da Índia.
“A primeira erupção ocorreu 2 milhões de anos antes do meteoro”, diz Keller.
“As outras três se deram acima do limite K/T. A última foi a pior de todas. Ocorreu 300 mil anos após o impacto em Chicxulub.”
As erupções provocaram um colossal vazamento de magma, que cobriu com 3,5 quilômetros de lava uma área do tamanho do Amazonas, alterando o clima do planeta.
“As espécies que não se adaptaram à mudança climática desapareceram”, diz Keller. “Foi o caso dos dinossauros.”
Fassett não inocenta o meteoro. Mas afirma que nem todos os dinossauros sumiram. Ao estudar amostras de solo coletadas no Novo México e no Colorado, 500 mil anos mais recentes que a faixa de irídio, Fassett achou 34 ossos de um alamossauro, um dino bípede de 10 metros de comprimento – conforme narra no periódico Palaeontologia Electronica.
“Os ossos não foram espalhados pela erosão. A conclusão é que o animal viveu 500 mil anos após o impacto”, disse a ÉPOCA. “É uma evidência inequívoca de que os dinossauros não se extinguiram de imediato.”
Entre os paleontólogos, é quase consenso que o meteoro é página virada. “As Deccan Traps estavam causando um enorme estresse ambiental antes do impacto”, diz Donald Prothero, um respeitado paleontólogo americano.
“Apesar da fascinação da imprensa com o modelo do asteroide, a extinção foi complexa demais para ser explicada por uma pedra do espaço.”
Fonte: Época
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