Uma jornalista propõe 13 rotas para conhecer a geografia espectral de Barcelona.
Se um dia andando pelas ruas de Barcelona você sentir um frio estranho, deve saber que isso pode ser um dos muitos fantasmas que vagueiam, etéreos, presos em algum lugar da cidade histórica.
Agora, a jornalista e professora Sylvia Lagarda-Mata conseguiu fazer um recenseamento desses espectros em Fantasmes de Barcelona (Angle Editorial), uma compilação documentada de 13 rotas fantasmagóricas diferentes.
Segundo a autora, o livro tem uma abordagem"lúdica e histórica", convidando a brincar com as tradições e lendas urbanas sobre eventos paranormais que ocorreram em lugares ricos em história, muitas vezes ignorados pelos próprios catalães.
O fantasma das fontes, o espectro do vice-rei infeliz, ou do cavaleiro de armadura branca são alguns dos fantasmas que os surpreenderão durante a viagem.
Por que escrever um guia sobre fantasmas?
-Eu coleciono esse tipo de livros, que tenho recolhido durante as minhas viagens. Um dia percebi que Barcelona precisava de um guia de fantasmas históricos, pois toda cidade importante tem um livro sobre os seus espíritos. Então eu decidi investigar.
E o que você descobriu?
- Descobri que Barcelona tem muitos fantasmas que estavam à espera de alguém que lhes dedicasse um livro.
- Eles tinham caído no esquecimento.
- Eu encontrei histórias, jornais, livros antigos, que falavam sobre acontecimentos sobrenaturais. Por exemplo, Joan Amades, nas suas várias obras, muitas vezes menciona fantasmas.
- Quantos fantasmas você encontrou?
- Muitos!. Cerca de 100 fantasmas de diferentes épocas. - O mais antigo é um rei godo que anda pela Catedral de Barcelona e o mais moderno data de 1998.
Nesta data, muitos barceloneses afirmam que viram um dragão voando pelo céu da cidade. Foi publicado pelo La Vanguardia.
- Como se documenta a existência de um espectro?
- Em todas as épocas, seja em livros ou na imprensa foram coletadas histórias de fenômenos aparentemente paranormais. Aqueles listados no livro eu não inventei, quase sempre eu consegui encontrar alguma referência escrita, como o leitor pode verificar na bibliografia em anexo.
- Como eles estão se manifestam?
- As manifestações clássicas falam de sombras imprecisas, nevoeiros brancos, poltergeists, um fenômeno sobrenatural que se caracteriza por mover objetos, quebrar coisas... O pano branco e a bola com corrente são mais infantis.
- Os fantasmas se modernizam?
- Os fantasmas são praticamente idênticos em toda a história da humanidade, é algo impreciso que forma parte do imaginário coletivo.
- Por que sentem a necessidade de aparecer?
- Segundo a tradição popular, o fantasma é um ser que morreu, mas que por algum motivo, não ultrapassou a dimensão ocupada pelas almas dos mortos. Ele tem algum assunto pendente na terra e não sai até que seja resolvido.
- No livro você se refere a Via Láctea ...
- Antigamente, os catalães acreditavam que a Via Láctea era um rio do céu que as almas dos mortos tinham que atravessar para entrar na glória. Aqueles que morriam quando o aglomerado de estrelas não era visível eram liberados desta dificuldade.
- E aqueles que não puderam atravessá-la?
- Talvez ainda vaguem por Barcelona porque fantasmas não têm data de validade.
- Existem fantasmas aristocratas?
- Há inclusive reis. Um dos mais antigos é o fantasma do rei Joan I, o escritor catalão Bernat Metge dedicou um livro inteiro, "Lo somni" para falar sobre esse fantasma que aparece para ele na prisão, para anunciar-lhe que em breve será libertado.
Logo, o pai de Joan de Serrallonga, que também está documentado por Victor Balaguer em seu trabalho. Há fantasmas aristocratas e também trabalhadores.
- E o fantasma das fontes.
- Dele se falava no final do século XIX, quando as mulheres iam à fonte para encher os cântaros para as tarefas domésticas.
Parece que ele passeava nos arredores das fontes para assustá-las. Se era um fantasma ou se era o que agora você pode também encontrar nos arredores das fontes em determinadas horas, não sei.
- Qual é o seu fantasma favorito?
- Um dos que me desperta mais simpatia é aquele que durante a guerra civil se movia pelas torres da Sagrada Família.
Os moradores, muito preocupados, viam duas luzes azuladas muito pequenas, depois de escurecer, que passeavam pelo templo.
Até mesmo a polícia chegou a intervir para registrar o acontecimento! As pessoas pensavam que eram os olhos de Antoni Gaudí, já então enterrado, que guardava o edifício durante os bombardeios de Barcelona.
- Com este livro, as pessoas terão um bom susto?
- O livro não está escrito de um ponto de vista parapsicológico, mas como uma coleção de lendas urbanas fantasmagóricas de Barcelona. É tão inacreditável o que conta que você tem que encara-lo com humor.
-As pessoas acreditam menos em fantasmas do que antes?
- Sim, mas também é verdade que nas civilizações que atravessam uma certa crise de valores, ressurgem as histórias mágicas.
Você pega qualquer jornal, e encontra um monte de pessoas que jogam Tarot, adivinham coisas ... portanto, creio que a magia está vivendo um doce momento.
- Que antídoto recomenda contra os fantasmas?
- O melhor antídoto seria evitá-los, mas como sabemos que esses fantasmas são lúdicos, as pessoas podem ir tranquilamente para os lugares onde eles aparecem.
Em todo caso, se têm muito medo de ficar cara a cara com um deles, eu recomendo manter um punhado de urtigas no bolso como dita a tradição catalã.
- Este antídoto também serve para os fantasmas vivos?
- Oxalá que tudo se resolva com um punhado de urtigas (risos).
Tradução: Carlos de Castro
Fonte: La Vanguardia
Nenhum comentário:
Postar um comentário