quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

RETROSPECTIVA 2009-Arqueologia e Paleontologia


O ano de 2009 foi marcado por inúmeros e fantásticos achados paleontológicos e arqueológicos. Alguns, inclusive, mudaram os rumos da história que era contada até então.

Talvez a mais surpreendente delas tenha sido a do estranho animal batizado de raptorex (rapto é o termo comumente usado para pequenos dinossauros e rex significa "rei") , cuja descoberta na China ocorrida em setembro alterou as teorias sobre a evolução dos dinossauros.

Paleontólogos estupefatos contemplaram os apontamentos feitos sobre a nova espécie que os obriga a reavaliar as atuais teorias sobre a evolução dos grandes predadores pré-históricos.

O dinossauro é uma miniatura do tiranossauro rex , e, apesar de ter vivido há cerca de 125 milhões de anos, e aproximadamente 60 milhões de anos antes do tiranossauro rex, já apresentava as principais características do maior e mais conhecido dinossauro.

Isso contradiz as teorias de que as características físicas do tiranossauro rex, como cabeça desproporcionalmente grande em relação ao torso, braços pequenos e pés longilíneos eram resultado do processo evolutivo e de crescimento da espécie.

"É impressionante. Não conheço nenhum outro exemplo de um animal que tenha sido tão perfeitamente criado em uma versão cerca de 100 vezes menor do que, mais tarde, se tornaria", diz Paul Sereno, paleontólogo da Universidade de Chicago e autor do estudo sobre o raptorex.

"Foi uma descoberta completamente inesperada. O que sabíamos sobre a evolução dos dinossauros era simplista ou mesmo errado", afirma Stephen Brusatte, co-autor do estudo e paleontólogo do Museu Americano de História Natural.

Outra bela descoberta do ano de 2009 foi realizada aqui mesmo no Brasil, mais precisamente no Rio Grande do Sul, onde pesquisadores da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), encontraram um fóssil de cerca de 240 milhões de anos do crânio de um cinodonte, réptil bastante comum de ser encontrado na África.

Segundo a equipe, a descoberta, realizada no mês de janeiro no município de Dona Francisca, na região central do Estado, reforça a teoria de que a América do Sul e a África estavam ligadas por terra.

A espécie, batizada de Luangwa, possui características semelhantes às dos mamíferos atuais. O nome científico foi registrado em homenagem à primeira descrição de um cinodonte feita no vale do Luangwa, na Zâmbia.

"A existência de dois fósseis do mesmo grupo em regiões tão distantes reforça a teoria de que os nossos continentes estavam unidos por um mesmo bloco de terra (pangéia)", afirmou o biólogo Lúcio Roberto da Silva, um dos pesquisadores responsáveis pelo achado, junto com o paleontólogo Sérgio Furtado Cabreira.


Origens do homem


O primeiro semestre de 2009 foi o período das descobertas da paleontologia que desafiavam outras certezas estabelecidas no meio acadêmico sobre as origens dos seres humanos.

Em janeiro, a descoberta da mais antiga caixa craniana já encontrada de uma espécie de peixe semelhante ao tubarão, conhecido como Ptomacanthus , demonstrou que algumas das suposições sobre a evolução inicial dos vertebrados estão "completamente erradas", segundo a opinião de especialistas.

O espécime de 415 milhões de anos de idade é da família de peixes dos acantódios, animais que viveram perto da época em que os peixes com estruturas ósseas e os peixes cartilaginosos se cindiram em dois ramos de desenvolvimento separados.

A criatura apresenta características bastante assemelhadas às de um tubarão - fileiras sucessivas de dentes, por exemplo, e um focinho relativamente curto - e se parecia pouco com os peixes dotados de ossos.

Diferenças desse porte em um mesmo animal derrubam a ideia de que essas características pertenceriam a grupos diferentes e representam um desafio à classificação bastante inflexível que a ciência cunhou.

"A percepção comum é a de que os tubarões são, de certo modo, primitivos se comparados aos peixes dotados de ossos.

"Estamos falando de uma parte importante do enigma da interpretação de um dos eventos mais importantes não apenas na história evolutiva dos seres humanos mas na da vasta maioria dos animais vivos dotados de uma espinha dorsal", afirmou Michael Coates, professor de biologia da Universidade de Chicago.

Em Maio cientistas americanos disseram ter encontrado nosso parente mais longínquo, que viveu no período que nos diferenciamos dos macacos e gorilas.

O fóssil de uma criatura de 47 milhões de anos, que foi batizada de Ida, foi apresentada com furor como sendo o elo perdido na evolução dos primatas superiores .

Mas, apesar de admitir que o fossil tem "grande semelhança conosco", como unhas em vez de garras e o polegar em uma posição que permite agarrar coisas com a mão, como o homem e outros primatas, a comunidade científica preferiu aceitar Ida como " uma tia e não uma avó" dos seres humanos.

No mesmo mês, outro parente distante foi encontrado. Foram divulgados os resultados de pesquisas realizadas com um fóssil de hominídeo conhecido popularmente como hobbit, que apontaram para uma nova espécie na escala da evolução humana.

Ao concluir a primeira análise detalhada dos ossos dos pés desses hominídeos, os pesquisadores afirmam que eles pertenciam a uma população primitiva não conhecida, distinta dos humanos modernos, e que ainda vivia há apenas 17 mil anos na ilha de Flores, Indonésia.

Logo, ao contrário dos que acreditavam que se tratava de um já conhecido ancestral nosso que sofria de alguma doença genética, a espécie - catalogada provisoriamente como Homo Floresiensis - provavelmente tenha existido.

Em junho, a descoberta de um novo fóssil de primata em Mianmar levantou a hipótese de uma origem asiática, e não africana, como se estimava, da linha ancestral comum que liga homens e símios.

O símio, de 37 milhões de anos de idade e batizado de Ganlea Megacanica, possuía uma capacidade encontrada nos primatas modernos, a de abrir e comer sementes de forma específica com seus desproporcionais dentes caninos.


Esquisitices


O segundo semestre, foi a vez de achados esquisitos na peleontologia: além do raptorex, dinossauros com penas e até um fossil vivo.

Extremamente bem preservados, fósseis de dinossauros com penas foram achados no nordeste da China em setembro.

Os espécimes são os mais antigos de penas já encontrados, com 150 milhões de anos, e representam a prova final de que os dinossauros eram ancestrais dos pássaros, segundo cientistas.

A teoria de que os pássaros evoluíram dos dinossauros sempre foi posta em dúvida por causa da ausência de penas em espécies mais antigas do que o Archaeopteryx, um fóssil de pássaro encontrado na Alemanha que vinha sendo tido como o fóssil de pássaro mais antigo já encontrado.

E em agosto, outra descoberta interessante: uma criatura marinha que se acreditava extinta a 50 milhões de anos é achada no fundo do Atlântico Norte.

Os pesquisadores que realizaram o feito, reuniram evidências suficiente para provar que sua presa científica - um organismo pouco maior do que uma ficha de pôquer - representa um dos fósseis vivos mais antigos do mundo, podendo ser talvez o mais velho de todos.

Os ancestrais da criatura, Paleodictyon nodosum, remontam ao início da vida complexa no planeta.


Cleópatra e outros tesouros da arqueologia


Os arqueólogos também tiveram grande participação na ciência este ano. Uma missão arqueológica realizada por pesquisadores egípcios e romanos em abril afirma ter encontrado provas que confirmam a localização da tumba de Cleópatra, a rainha mais famosa do Egito (70 a.C. - 30 a.C.), e seu amante Marco Antônio, célebre general romano, em um templo subterrâneo nas proximidades de Alexandria.

As tumbas foram descobertas por meio de um radar que localizou três câmaras onde as múmias dos lendários amantes podem estar.

No local, foram resgatados uma cabeça de alabastro (pedra semelhante ao mármore) que representa Cleópatra e 22 moedas de bronze com a imagem da rainha, além de uma estátua real decapitada e uma máscara de Marco Antônio.

No templo, também foram encontradas e desenterradas 27 tumbas, algumas delas douradas, e dez múmias. Arqueólogos afirmam que essas tumbas seriam de nobres que queriam ser enterrados próximos à tumba real.

Mas Cleópatra não foi a única Rainha do ano. Arqueólogos egípcios escavaram um túmulo, recentemente descoberto, e encontraram os restos mortais da rainha Shesheti (2323-2291 a.C.), em Saqqara, no Egito.

O túmulo foi encontrado perto do local onde uma pirâmide foi descoberta em novembro de 2008. A rainha Shesheti, mãe do rei Teti, foi a primeira faraó da 6ª dinastia a governar o Egito.

Em julho, outra importante figura histórica entrou na lista das provavelmente encontradas. Naquele mês, foram divulgados os resultados da análise da tumba que acredita-se ser do apóstolo São Paulo, que se encontra sob o altar maior da Basílica de São Paulo Extramuros, onde o apóstolo foi decapitado no ano 67.

Segundo pesquisadores, os restos mortais encontrados na tumba "provavelmente são do santo". Os fragmentos ósseos foram submetidos a testes por especialistas que não sabiam de onde vinham e que deram como resultado que pertenciam a uma pessoa que viveu entre o primeiro e o segundo século.

Sobre a descoberta, o Papa Bento XVI afirmou que "tudo parece confirmar a unânime e incontestável tradição de que se tratam dos restos mortais do apóstolo Paulo, o que nos enche de profunda emoção".


Fonte: Terra



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