A bebida ganhou destaque nos últimos dias por causa da regulamentação, pelo governo federal, do uso do chá em cerimônias religiosas, e despertou uma questão: é seguro, para a saúde, ingerir ayahuasca?
Para o médico Elisaldo de Araújo Carlini, a resposta é positiva. Consumido dentro de centros religiosos, o chá não apresenta grandes riscos.
“É um uso aceitável, como o álcool”, explica. Segundo ele, há poucas chances de os bebedores do chá desenvolverem dependência.
“As drogas alucinógenas que induzem alucinação mental têm pouco poder de indução de dependência. É muito diferente do crack, cocaína e heroína, por exemplo.”
A afirmação não é de um médico qualquer. Carlini é professor da prós-graduação em psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), área na qual fez mestrado na Universidade Yale na década de 60, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (Cebrid) e membro do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), que regulamentou o uso do ayahuasca.
De acordo com ele, manter a liberação e impor algumas regras ao ayahuasca foi uma decisão acertada do Conad. “Esse documento [que baseia a regulamentação] expressa um trabalho bastante longo, feito com bastante cuidado. Pensou-se muito a respeito”, diz Carlini.
Segundo o médico, o uso religioso é feito com cuidado. “Eles seguem padrões severos. A mistura tem que ser preparada adequadamente, e o próprio ritual controla qualquer alteração mental que possa acontecer. Os mestres são muito exigentes em coibir qualquer fuga da normalidade”.
Quem usa o chá, contudo, está exposto a algumas reações adversas. “A reação mais comum é náusea e vômitos. Pelos seguidores das religiões, isso é considerado como uma purificação do corpo.
Mas não há medicamento que não tenha reação adversa. Não é por isso que a substância tem ou não que ser usada”, defende o professor da Unifesp, ressaltando que não há nenhuma pesquisa apontando que a ayahuasca cause algum tipo de lesão cerebral.
Preconceito
Para a antropóloga Beatriz Labate, que tem vários livros publicados sobre a ayahuasca, as religiões que usam o chá ainda são vistas com preconceito, e seus seguidores muitas vezes encarados como dependentes de drogas.
“Há relato de um hospital que não queria aceitar o sangue de doadores que pertenciam ao Santo Daime. E outro de norte-americanos com visto negado por afirmarem que participariam de rituais da União do Vegetal no Brasil.
O próprio governo fez uma cartilha sobre drogas onde inseriu a ayahuasca como “alucinógeno”, o que é ofensivo para esses grupos, que consideram a substância um sacramento.
Há, ainda, disputas judiciais de guarda de filhos entre pais separados, onde um tenta desmoralizar o outro acusando-o de ser de uma seita perigosa”, afirma a pesquisadora, que trabalha no Instituto de Psicologia Médica da Universidade de Heildelberg, na Alemanha.
De acordo com ela, a imagem negativa não corresponde à realidade dessas religiões. “Na década de 1980, quando membros do Conad foram pesquisar essas religiões pela primeira vez, viram que os grupos eram saudáveis e integrados.
Encontraram uma comunidade em plena Amazônia – região com baixíssimo índice de desenvolvimento humano –, onde não há violência, prostituição ou alcoolismo.
Em pesquisas mais recentes novamente foram colhidos relatos de melhoria da qualidade de vida, e de encontro com novos valores, mais fraternais e humanos”, relata Beatriz.
Ayahuasca é uma mistura das plantas Banisteriops Caapi (mariri ou cipó de jagube) e Psychotria Viridis (chacrona ou folha rainha), fervidos em água. O chá também é chamado de Santo Daime, vegetal e hoasca.
A mistura provoca alucinações. Nas religiões que usam o chá, conhecidas como Ayahuasqueiras, esse efeito é utilizado para autoconhecimento.
As religiões maiores e mais conhecidas são Santo Daime, União do Vegetal (UDV) e A Barquinha, as três originárias da Amazônia.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário