O cadáver de um homem jovem, ensanguentado, com ferimentos de bala, foi jogado no Boulevard Truman, no centro de Port-au-Prince, capital do Haiti, a poucas centenas de metros de um acampamento para os desabrigados.
O porque deste homem ter sido morto é desconhecido, mas uma crença profundamente enraizada no oculto pode explicar alguns dos focos esporádicos de violência entre as 690.000 pessoas que ficaram nas ruas por causa do terremoto de 12 de janeiro.
Se diz que a noite, criaturas míticas rondam os acampamentos, roubando e matando crianças. Muitos haitianos estão convencidos de que as pessoas possuídas por espíritos malignos se transformam em lobos depois de escurecer, uma versão da lenda do lobisomem.
Muitos acreditam que os "loups-garoux", ou "homens-lobos", atacam pessoas indefesas que dormem ao relento.
"Quase todas as famílias haitianas estão com medo disso", disse Vladimir Cadet, 29 anos, que está entre os desabrigados. "Enquanto estão dormindo na rua, vivem com esta realidade.
Havia uma mulher, cujos dois filhos foram levados por um lobisomem. Esse tipo de coisa está se espalhando como um incêndio. "
Havia uma mulher, cujos dois filhos foram levados por um lobisomem. Esse tipo de coisa está se espalhando como um incêndio. "
Cadet, um falante de inglês com nível universitário, está convencido da existência de lobisomens. "Eu nunca vi um, mas minha mãe disse que eles existem. Quando eu era menino, quase fui raptado. "
Esta crença generalizada no ocultismo agravou o calvário dos sem-teto. Além de enfrentar a luta diária de encontrar comida e água, muitos ainda vivem com o medo de que as criaturas da noite raptem seus filhos.
Onde Cadet dorme, pessoas formaram brigadas de vigilantes contra o perigo de ladrões e lobisomens. Qualquer pessoa suspeita de estar em uma ou outra categoria é susceptível de ser morta.
Cerca de metade dos 9 milhões de haitianos são praticantes ativos do vodu, e muitos mais compartilham algumas dessas crenças.
Isto teve um efeito positivo logo depois do terremoto. O vodu afirma que os seres humanos nunca morrem realmente - seus espíritos simplesmente migram para uma outra dimensão da existência.
Por conta disso, as 150.000 pessoas que morreram no terremoto viveriam em um universo paralelo, onde podem, ocasionalmente, manter contato com seus familiares neste mundo.
Num país carente de conforto, essa crença é uma rara fonte de paz para os sobreviventes da tragédia.
Tradução: Carlos de Castro
Fonte: Financial Times
Tradução: Carlos de Castro
Fonte: Financial Times
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