No mês passado, Fatuma Khalfani, um bebê albino de 1 ano, deu entrada em um hospital na Tanzânia com ferimentos graves na perna esquerda.
Segundo a mãe, Rukia Khalfani, ela estava fora de casa com a criança nas costas quando um homem começou a atacá-lo na altura dos joelhos com uma faca.
Rukia correu para dentro de casa, mas o homem continuava a persegui-los. E só parou quando o pai da criança, Mohamed Houssein, chegou ao encontro deles.
O incidente ocorrido com Fatuma, relatado pelo jornalista tanzaniano Richard Mbuthia do site "On the Spot", faz parte de uma sucessão de crimes contra albinos na região dos Grandes Lagos na África, mais precisamente na Tanzânia.
Neste país, acredita-se que partes do corpo de uma pessoa com deficiência de melanina têm poderes mágicos. Língua, cabelos, genitais e até o sangue são utilizados por feiticeiros para trazer prosperidade e sorte.
A crença tem levado a um aumento do tráfico de órgãos. De acordo com a Cruz Vermelha, 56 mortes foram registradas nos últimos três anos. No entanto, a população local afirma que só na Tanzânia foram mais de 60 assassinatos.
"Quem mata, muitas vezes, nem acredita nisso", constata Paul Ash, representante da ONG canadense Under the Same Sun (Sob o Mesmo Sol) que luta contra esse tipo de crime. “Eles só querem o dinheiro porque é um negócio rentável. Uma pessoa albina desmembrada chega a valer US$ 75 mil".
A média mundial de incidência de albinismo é de um para cada 20 mil habitantes. Na Tanzânia, entretanto, esse número cresce para um a cada 4 mil pessoas.
Por conta da onda de assassinatos, segundo a Cruz Vermelha, 10 mil albinos moram escondidos para proteger suas vidas.
"A vida deles têm sido difícil, eles não têm para onde correr", conta Vicky Ntetema, jornalista tanzaniana da BBC que foi ameaçada de morte ao filmar com uma câmera escondida o tráfico.
Justiça
De acordo com dados publicados pela Reuters em dezembro, sete foram condenados à forca na Tanzânia por terem matado albinos e cerca de 100 esperam julgamento.
O presidente da Tanzânia, Jakaya Kikwete, está pressionando a polícia para identificar as residências dos albinos e oferecer proteção. Esse cuidado aumentou com a pressão internacional gerada depois que os casos vieram à tona.
"O processo na Tanzânia é lento e, apesar das condenações, mais de 50 famílias esperam por justiça", lembra Paul Ash, irmão do albino Peter Ash, ativista da causa.
Segundo Ash, o maior problema é que a justiça se concentra nas pessoas que praticam os crimes e não naquelas que procuram os órgãos para a prática da feitiçaria.
"Há pessoas ricas por trás disso. Quem na Tanzânia teria US$ 75 mil para comprar um albino morto?", questiona.
Vicky Ntetema acredita que esse é o maior impasse para o fim dos crimes. "A lei existe, mas não atinge as pessoas certas. São os homens de negócios e os políticos quem financiam esses assassinatos".
A jornalista teme ainda que com a proximidade das eleições parlamentares na Tanzânia, no fim deste ano, a procura por órgãos de albinos aumente.
Desmistificação
Ao levar o tema para a mídia, a ONG Under the Same Sun busca desmistificar o albinismo. "Nossa principal intenção é mostrar às pessoas que partes do corpo de albinos não trazem boa sorte. Isso é uma superstição e somente a educação é capaz de acabar com ela", explica Ash.
Já Vicky não é tão confiante. A jornalista lamenta, mas acredita que os autores por trás desses crimes não consideram albinos como pessoas.
"São crimes que infelizmente demorarão a cessar", prevê. "É uma crença muito forte, e mudanças de mentalidade não são nada fáceis".
Fonte: eBand
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