sábado, 6 de março de 2010

Brasil: Duas novas espécies de vespas que parasitam aranhas são registradas na região Sudeste do Brasil

Uma vespa da espécie ‘Hymenoepimecis veranii’ pousa na teia de uma aranha e aguarda a saída do aracnídeo de seu abrigo para atacá-lo, imobilizá-lo e depositar um ovo em seu abdome (foto: Jober F. Sobczak).


Duas novas espécies de vespas que parasitam aranhas são registradas na região Sudeste do Brasil. Os insetos liberam substâncias que paralisam a hospedeira e fazem com que ela construa sua teia de forma a protegê-los.


O comportamento de duas novas espécies de vespas parasitas foi registrado por pesquisadores brasileiros.

Os cientistas descreveram a relação que esses animais mantêm com suas hospedeiras, as aranhas, em artigo publicado recentemente no Journal of Natural History.

Segundo eles, o mecanismo de dominação usado pelas vespas sugere uma ‘parceria’ aperfeiçoada ao longo de um período evolutivo extenso.

As vespas observadas pertencem às espécies Hymenoepimecis japi e Hymenoepimecis sooretama. Elas foram vistas parasitando, respectivamente, as aranhas das espécies Leucage roseosignata e Manogea porracea.

Outras relações de parasitismo entre vespas e aranhas já foram verificadas anteriormente. O estudo foi feito na Reserva Florestal da Companhia Vale, em Soretama (Espírito Santo), e na Reserva Ecológica da Serra do Japi, em Jundiaí (São Paulo).

Segundo um dos autores do artigo, o biólogo Jober Fernando Sobczak, da Universidade Federal de São Carlos e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Hymenoptera Parasitoides da Região Sudeste Brasileira, as vespas analisadas atacam apenas um tipo de aranha. “Acredito que seja um processo bastante específico”, defende em entrevista à CH On-line.

O biólogo conta que as vespas recém-descritas usam uma substância ainda desconhecida, provavelmente um anestésico, para imobilizar a aranha e, assim, depositar seu ovo na parte externa do abdome do aracnídeo, onde o inseto se desenvolverá.


Larva da vespa 'Hymenoepimecis veranii' no abdome de uma aranha (foto: Jober F. Sobczak).


Com o passar dos dias, o ovo se transforma em larva e, depois de um período de amadurecimento, que deve durar em torno de três semanas, a larva libera outra substância, também não identificada, que altera o comportamento da aranha. “É como se fosse uma neurotoxina”, compara o pesquisador.

A serviço das vespas



A partir de então, a aranha torna-se uma espécie de escrava da vespa e trabalha para o bem-estar dela.

A teia é construída de forma diferente: em vez de uma espiral plana com múltiplos fios em sentidos diferentes, a estrutura passa a ser uma espécie de envoltório, com fios concentrados e poucos eixos definidos.

A ideia é que o novo desenho da teia proteja e sustente melhor o casulo da vespa. “Na teoria, ela é mais resistente que a original, pois reúne vários fios em um só”, explica Sobczak. “A teia modificada resiste bem ao peso do casulo e à chuva”, diz.

Terminada a construção, a aranha, que já parara de se alimentar dois dias antes, morre e serve de alimento para a larva, que então constrói seu casulo. Depois, a vespa adulta eclode e abandona o casulo.

Uma interação semelhante entre a vespa Hymenoepimecis veranii e a aranha Araneus omnicolor já havia sido descrita pelos pesquisadores em artigo publicado em 2007 na revista Naturwissenschaften.


À esquerda, teia normal feita por uma aranha da espécie 'Araneus omnicolor'. À direita, após construir a teia modificada que irá proteger o casulo da vespa, o aracnídeo parasitado é consumido pela larva dentro da folha usada como abrigo (fotos: Marcelo de Oliveira Gonzaga e Jober F. Sobczak).


Nessa relação, a teia construída pelas aranhas parasitadas também se torna muito diferente da produzida pelas não parasitadas.


Parasitismo refinado



As etapas da relação entre o hospedeiro e a vespa parasita são bastante precisas. A quantidade das substâncias químicas injetadas na aranha para imobilizá-la e alterar seu padrão de construção da teia parece ser cuidadosamente medida.

“Por isso, acredito que esses animais passaram por um processo de coevolução bastante requintado”, justifica Sobczak.


Fonte: Ciência Hoje


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