Descoberta de astro coberto de água entre Marte e Júpiter surpreende cientistas.
A descoberta é inesperada - qualquer água depositada sobre o asteroide deveria, em princípio, vaporizar-se em pouco tempo - mas dá sustentação à ideia de que os oceanos da Terra vieram do espaço.
Um dos autores do principal artigo a descrever a descoberta, Humberto Campins, da Universidade da Flórida Central, especula ainda que esses astros poderão se tornar importantes para o estudo da origem da vida.
"Asteroides e cometas podem ter trazido para a Terra os blocos constituintes para a vida formar-se e evoluir em nosso planeta", disse ele.
"Embora as condições nos asteroides não sejam favoráveis para a vida, o estudo de asteroides primitivos como 'fertlizadores' pode se tornar uma área de interesse". Além de água, 24 Themis também carrega matéria orgânica.
A descoberta da água foi feita com base na análise da luz solar refletida por 24 Themis, um dos maiores asteroides do chamado cinturão principal, que fica entre Marte e Júpiter.
Diferentes substâncias absorvem e refletem diferentes frequências de radiação, e a análise dos padrões de absorção, chamados espectros, permite identificar a composição de objetos distantes.
Brasileira participa da descoberta
A astrônoma brasileira Thaís Mothé-Diniz, do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, participou da descoberta, comparando o espectro do asteroide ao de meteoritos e minerais, e também assina o artigo.
Para ela, é difícil prever quando um trabalho vai acabar em uma revista de tanto prestígio quanto a Nature.
"Realizamos nossa pesquisa. E então surge um resultado surpreendente que merece a publicação", explica Thaís.
Em 2006, a cientista brasileira iniciou sua colaboração com Campins. Thaís é especialista em famílias de asteroides e sabe aplicar a espectroscopia para investigar a composição desses corpos celestes. Ela conta que, a princípio, não esperava encontrar gelo no asteroide.
A principal hipótese era silicato hidratado, um composto que não contém água mas testemunha a existência da substância em algum momento do passado.
"Na região do Sistema Solar onde está o 24 Themis, considerávamos improvável a presença de gelo", explica a pesquisadora.
Agora, Thaís participa do Projeto Impacton, coordenado pelo Observatório Nacional. Nas próximas semanas, será instalado um telescópio na cidade de Itacuruba, no sertão pernambucano.
O instrumento, que conta com um espelho de um metro de diâmetro, vai investigar objetos próximos à órbita da Terra.
Oceanos terrestres
A presença de água em asteroides pode ajudar a entender a origem dos oceanos terrestres, explica o astrofísico da Queen's University de Belfast, Henry H. Hsieh, em comentário também publicado na Nature.
Ele lembra que nosso planeta deve ter nascido seco, por ter se formado numa região do espaço próxima demais do Sol para permitir a presença de gelo.
Além disso, oceanos primitivos, caso existissem, teriam sido vaporizados pelo grande impacto que, acredita-se, deu origem à Lua. Hsieh compara 24 Themis ao celacanto, o peixe que é considerado um "fóssil vivo".
"Uma hipótese publicada em 2000 propõe um grande impacto de um objeto formado na região geral onde o asteroide Themis está agora" como origem para os oceanos, destaca Campins.
O pesquisador e seus colegas oferecem algumas possíveis explicações para a presença de água na superfície do asteroide.
O gelo, ponderam, poderia se manter estável se enterrado a alguns metros de profundidade no astro, e poderia estar vindo à tona graças a um bombardeamento constante de micrometeoritos.
Outra hipótese seria a lenta sublimação do gelo subterrâneo, que poderia variar em ritmo com o movimento do asteroide no espaço.
A possibilidade menos favorecida pelos pesquisadores é de um impacto com um cometa, que teria deixado 24 Themis coberto de água.
Astronautas
Themis está longe demais para ser o alvo da missão com astronautas a um asteroide proposta para 2025 pelo presidente dos EUA Barack Obama, mas Campins acredita que asteroides mais próximos da Terra também possam conter água e matéria orgânica, embora não na superfície.
"Gelo de superfície é improvável, mas gelo e moléculas orgânicas abaixo da superfície são uma possibilidade interessante", afirma o cientista.
"Há alguns asteroides próximos da Terra com composição da superfície no geral similar à de 24 Themis e que seriam alvos atraentes para exploração espacial".
Campins está envolvido na preparação da missão OSIRIS-REx da Nasa, para trazer amostras de um asteroide de volta à Terra.
Fonte: Estadão
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