Meninas ficam reclusas dentro das malocas após a primeira menstruação. Elas plantam e colhem a mandioca, base da alimentação do povo.
A tradição deste povo as coloca em posições de liderança, e quando elas saem das malocas, viram guardiãs da cultura.
O sobrevoo ao chegar no Xingu mostra uma imensidão verde. Do alto dá pra ver exatamente onde fica o parque indígena. O pouso é em uma pista de terra.
E os kamayurá se aproximam para dar as boas vindas. A chegada da equipe se transformou em um grande acontecimento, uma atração principalmente para as crianças.
A entrada na aldeia é impactante e quando se chega no pátio, se entende porque ela é conhecida como a mais bonita do Xingu. Malocas imensas, cobertas de sapê do telhado ao chão. É no silêncio e no isolamento das malocas que os kamayurá mantêm um de seus rituais mais importantes, o da reclusão de suas meninas.
Uma das meninas da aldeia, Kamirrã, permaneceu dentro da maloca, ficou um ano sem tomar sol. Ela passou por este processo como parte do ritual que já é tradição na aldeia e marca a passagem da infância para a vida adulta.
Assim que as meninas kamayurá menstruam pela primeira vez, elas ficam reclusas. São os pais que determinam o tempo de confinamento, quando as meninas aprendem a fazer artesanato e cozinhar.
As meninas não reclamam do destino traçado para elas. Mesmo que isso exija um pouco de sacrifício. Elas amarram tornozeleiras e joelheiras para engrossar as pernas.
A franja comprida esconde o rosto e as meninas reclusas não podem cortar o cabelo até o fim do ritual. As avós cuidam delas o tempo todo e a refeição é reforçada com beiju, mingau e peixe para a menina ganhar corpo de mulher.
Kamirrã vê o pátio da aldeia através de uma fresta que abriu entre as palhas da maloca. Do lado de fora, uma amiga conversa com ela. Poucos momentos antes de ganhar a liberdade, Kamirrã recebe os últimos conselhos da família.
A mãe fica admirada ao ver que a filha cresceu e virou uma moça forte e bonita. Antigamente, as meninas deixavam a reclusão com casamento arranjado. Agora mudou. “Ela é que vai escolher. Não sou eu que vou mandar ela escolher", diz o pai de Kamirrã.
Ao sair da maloca, Kamirrã tem a franja cortada e a rotina passa a ser de muito trabalho. Bem cedo, ela segue com as mulheres da aldeia para buscar água no rio. As mulheres também plantam e colhem a mandioca, base da alimentação dos kamayurá.
Mapulu já é uma pajé respeitada não só pelos kamayurá. Ela tem ido longe pra socorrer pacientes até mesmo de outras aldeias fora do Xingu.
"Paciente nunca morreu na minha mão,” diz ela, que também tem se revelado uma parteira de mão cheia.
“Os casos em que nós trabalhamos juntos, seguramente eu devo ter feito uns 30% e ela fez os outros 70%. Um excelente parto,” revela o médico responsável pela saúde dos índios, Vitor Tarouco. A força de Mapulu é herança de família.
Ela é irmã do cacique Kotok, que consegue conciliar as tradições com a modernidade. A aldeia tem placas de energia solar, antenas de TV e internet. Os indígenas se comunicam com o mundo sem perder os seus valores.
Uma das maiores façanhas do cacique é administrar um longo casamento em dose tripla. Entre os kamayurá, só o cacique Kotok tem tantas esposas.
Se para alguns homens ter três mulheres parece um sonho, na vida real isso exige muito jogo de cintura.
São três mulheres e 25 filhos. “E mais 32 netos que tenho. Agora quero ter mais filhos para chegar a ter 30”, diz o cacique.
Fonte: G1
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