Pesquisadores encontraram provas que população de ilha da California se alimentava de peixes e aves há 12 mil anos.
Pesquisadores revelaram na quinta a descoberta de três sítios arqueológicos nas ilhas do Canal, no sul da California, Estados Unidos, em que a população se alimentava basicamente de aves e mamíferos marinhos e mariscos há cerca de 12 mil anos.
Nos sítios foram encontrados milhares de pontas de projéteis e ferramentas associadas a restos de diversos desses animais marinhos.
Alguns desses projéteis foram achados intactos e, segundo os pesquisadores, são tão delicados que somente poderiam ser utilizados para caça na água.
O trabalho, publicado na edição da quinta-feira (3) da revista Science, mostra também que a população era hábil na navegação – as ilhas estão a mais de 10 quilômetros da costa.
“Não é exatamente claro de onde eles [a população da ilha] vieram, mas há semelhanças entre as pontas de projéteis que encontramos e as encontradas em outros locais da América (por exemplo, as cavernas Paisley, no Oregon).
Uma análise comparativa das ferramentas que encontramos e das achadas em outros locais do oeste da América do Norte e nordeste da Ásia é uma área de futura pesquisa muito interessante”, afirmou ao iG Torben Rick, um do autores do artigo, do Instituto Smithsonian, nos Estados Unidos.
A descoberta coloca mais um ponto de interrogação na tese de que houve apenas uma corrente migratória que chegou ao continente americano neste período, com a chamada cultura Clóvis que teria sido a primeira a ocupar o continente americano há cerca de 13 mil anos e depois haveria se espalhado.
O povo Clóvis caçava grandes animais, diferententemente da população das ilhas Canal. Outro fato é que em Santa Rosa, uma das ilhas em que foi encontrada uma parte dos artefatos, já haviam sido achados ossos humanos datados de 13 mil anos, mesmo período em que a cultura Clóvis teria aportado na América.
O debate sobre como o homem povoou o Novo Mundo é antigo. Há mais de 20 anos, o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Walter Neves e seus colaboradores defendem a tese de que as Américas foram colonizadas por duas correntes migratórias diferentes vindas da Ásia pelo estreito de Bering e que cada uma delas seria composta por grupos biológicos diferentes.
A primeira teria chegado há 14 mil anos e seus membros teriam uma aparência entre a de negros africanos e dos aborígenes australianos.
Um exemplo é o famoso crânio de 11 mil anos batizado por Neves de Luzia, encontrado na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1975. O segundo grupo teria chegado depois e dele descenderiam todas as tribos indígenas do continente.
No ano passado, uma pesquisa publicada na revista PloS One por Neves, Mark Hubbe e Katerina Harvati, da Universidade de Tübingen, na Alemanha colocou mais evidências da tese das duas migrações na mesa.
No trabalho, eles buscaram uma explicação para a diferença entre os crânios dos primeiros americanos e dos índios atuais e chegaram à conclusão que a teoria das duas correntes migratórias era a melhor explicação – as taxas de mudança no formato dos crânios seriam grandes demais para terem vindo da mesma população.
A tese foi contestada por um grupo de pesquisadores, entre eles Rolando González-José, do Centro Nacional Patagônico (Argentina).
Para ele, as diferenças entre os tipos de crânio são apenas indícios de uma grande variabilidade entre os populações que povoaram as Américas -- uma diferença que teria desaparecido com o tempo.
No artigo publicado esta semana por Rick e colegas, os pesquisadores afirmam que os projéteis encontrados nas ilhas Canal também são parecidos com outros encontrados na América do Sul, o que seria mais uma evidência de uma corrente migratória diferente de Clóvis, o que teoricamente reforçaria a tese de Neves.
“Os sítios que encontramos não têm restos humanos, e similaridades entre ferramentas frequentemente não resolvem questões relacionadas a identidades étnicas. Por isso é difícil fazer um comentário sobre este tema”, completou Rick.
Fonte: IG
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