segunda-feira, 18 de abril de 2011

Vídeo de Ovni era campanha publicitária


Autores finalmente aparecem e revelam que tudo não passou de um vídeo de marketing viral que “vazou” na Internet


Fim do mistério. Acabou ontem o grande enigma que mexeu com a cabeça da população da região nos últimos dias.

O vídeo com a suposta aparição de um Objeto Voador Não Identificado (Ovni) nas proximidades de Agudos não passou de uma campanha publicitária de uma empresa de embalagens que, por conta da característica intrínseca de velocidade da Internet, “vazou” de forma extremamente fugaz.


A empresa responsável pela campanha fica em Lençóis Paulista e se chama Atitude Media Box. O mote é a comercialização de embalagens de pizza - a cliente da campanha que causou todo o alvoroço - e, simultaneamente, o ramo publicitário, uma vez que tais caixas trazem campanhas de marketing de diferentes produtos.

Foi exatamente para divulgar a marca que surgiu o vídeo polêmico e misterioso.
Na gravação em questão, dois homens dirigem pela rodovia Marechal Rondon, na altura de Agudos. Ao estacionar o veículo, um deles desce com uma câmera e aponta para o céu, avistando um objeto oval que parece fazer leves movimentos.

Pouco antes do fim da filmagem, algumas luzes começam a se acender. Após um forte clarão, o suposto Ovni inicia queda livre e cai entre uma série de árvores longínquas.
Tais protagonistas, que antes eram somente duas vozes masculinas, ganharam rostos. O “cinegrafista” é o designer 3D e editor de vídeo André Angélico.

Já o “motorista”, que no vídeo é chamado de “medroso” pela pressa em ir embora, é o criador de layout Jônata Evangelista.
“Nossa intenção era fazer uma campanha viral. Não podemos revelar muito sobre qual seria a linha que seguiria, porém, seria algo falando da expansão da marca e de como ela chegou para ficar”, aponta André Angélico.

As campanhas ou marketings virais são estratégias de divulgação que tentam explorar as redes sociais para a proliferação da marca. Assim como o vídeo do suposto Ovni, dificilmente o produto ou serviço fica em evidência.

O mesmo ocorre com a própria finalidade de propaganda, o que geralmente é camuflada. Em linhas básicas, geralmente é um vídeo ou texto passado por meio da rede de computadores de uma pessoa a outra de forma incessante, como uma verdadeira epidemia, o que caracteriza a denominação “viral”.


Entretanto, segundo os autores, o vídeo ainda nem estava pronto, o que justifica a ausência total de qualquer item que aponte à marca das embalagens de pizza.

“Havia umas cinco ou seis pessoas que sabiam da nossa campanha e do que estávamos fazendo. Como lançaríamos isso regionalmente, não queríamos que as pessoas nos reconhecessem, justamente para não diminuir o efeito de realidade que queríamos passar”, afirma André.



Trunfo na casualidade


Pelo mesmo motivo de evitar qualquer reconhecimento, apesar de a empresa ser lençoense, o local escolhido para as filmagens foi Agudos.

“Queríamos disfarçar ao máximo que fomos nós que fizemos o vídeo. Por isso, não fizemos em Lençóis. Queríamos evitar que alguém reconhecesse a voz ou outro detalhe”, aponta André.
O tom casual também foi proposital para dar esse efeito de veracidade, o que funcionou bem, visto que muitas pessoas ficaram impressionadas com o vídeo.

“Utilizamos uma câmera de qualidade e resolução mediana. A imagem de gravação era melhor do que essa que vocês viram. Mas nós pioramos a qualidade justamente para dar esse ar de informal, de casual”, completa.
Verdadeiro o vídeo não é. Contudo, certamente o objetivo da campanha foi atingido. “Não imaginávamos essa repercussão toda.

Era para ser algo local ou regional e acabou virando uma história nacional”, conclui o design, editor de vídeo e agora “ator” André Angélico.
A pedido do JC, a filmagem já havia sido analisada por editores de vídeo, cinegrafistas e até mesmo ufólogos. A maior parte deles também constatou que se tratava de uma montagem.


Repercussão nacional



Não foi somente na imprensa local que o vídeo misterioso repercutiu. Além de jornais e emissoras de televisão e rádio do Interior, o fato ganhou destaque em veículos de comunicação de abrangência nacional.


Os portais virtuais UOL e G1 trouxeram o vídeo e ainda relacionaram com a história do tremor. A gravação foi destaque no programa Fantástico, no quadro Detetive Virtual. Na ocasião, foi confirmado o que o JC já havia divulgado: a presença de edição gráfica nas filmagens.


Quem ainda não viu, pode conferir o tão falado vídeo no http://www.youtube.com/watch?v=6lrzYb1q4eQ .



‘Até chefe foi enganado’


Não foi somente a população que foi iludida com o vídeo do suposto Ovni. O próprio chefe da empresa que desenvolveu a campanha viral também “caiu na onda”.

“Era algo meio sigiloso. Mandamos para algumas pessoas justamente para ver se elas nos reconheciam ou não. É engraçado que o nosso próprio chefe acabou sendo enganado. Sorte que aqui fazemos muitas brincadeiras e não houve maiores problemas com ele”, conta André Angélico.

Segundo ele, foi exatamente nesse momento de enviar para algumas pessoas que o vídeo acabou “vazando” pela Internet.

“Não achávamos que as pessoas repassariam com tanta facilidade e agilidade como foi. Somente queríamos testar para ver como seria a reação e se não seríamos descobertos. Ainda iríamos finalizar (o vídeo)”.


Em relação ao frame passado aos 39 segundos, quando o Ovni desaparece e que foi decisivo para apontar que houve edição na filmagem, o design e editor afirma que foi um “presentinho”.

“Nossa intenção era justamente lançar uma caça ao tesouro. Era fazer com que as pessoas ficassem se perguntando se aquilo era real ou não e investigar. Assim, passariam para as outras. Tem mais alguns presentinhos lá que ainda ninguém descobriu”, conta André, em tom tão misterioso quanto o vídeo polêmico.


Questionado sobre o fato ter sido visto por alguns como contravenção penal, artigo previsto em lei por incitar algum tipo de pânico coletivo, o autor não pensa nessa possibilidade.

“Nossa ideia era apenas divulgar a marca e divertir os internautas. Nunca achávamos que teria essa repercussão”.



Tremor misterioso serviu de inspiração


Segundo André Angélico, a campanha publicitária já estava sendo desenvolvida há algum tempo, porém, o tremor misterioso que afetou a região no começo do mês serviu de inspiração e mais motivação para a história.

“Queríamos trabalhar com essa ideia de que a marca era algo que estava em expansão e com relação a esse lance espacial, extraterrestre. Mas, tínhamos medo que fosse algo bobo. Quando saiu a história do tremor e toda a repercussão, vimos que a população ainda se importava com isso. Vimos que era algo a ser bem explorado”, remete.

Tal fenômeno ocorreu no último dia 8 de março, quando um tremor precedido de um forte estrondo foi sentido em várias cidades, como Bauru, Lençóis Paulista, Pederneiras, Boracéia e, principalmente, Agudos e Borebi.

Várias hipóteses foram levantadas: terremoto, avião rompendo a barreira do som ou fenômeno atmosférico. Todas foram descartadas.

Com a divulgação do vídeo, a provável visita extraterrestre como motivo do fenômeno foi cotada entre os mais crédulos, todavia, agora, com a descoberta da história real, ela também passa a ser descartada.

A causa mais provável para o estrondo foi apontada pelo astronauta bauruense Marcos Pontes. De acordo com ele, o fenômeno poderia ter sido ocasionado por um meteorito que explodiu ao entrar em contato com a atmosfera - o que explicaria a ausência de uma cratera no solo.

A hipótese ganhou força por vários relatos da população de que haviam avistado um clarão no céu.




Fonte:
JCNET

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