quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mortos são esquartejados e oferecidos a abutres em funerais no Himalaia

Dispor de corpos por métodos tradicionais é difícil em altitude elevada


Nas comunidades instaladas em altitudes elevadas no Himalaia, a destinação de corpos de pessoas mortas pode ser algo complicado – o chão rochoso e congelado dificulta enterros e a cremação seria cara e difícil, principalmente pela ausência de árvores que poderiam servir como combustível.

Ao longo dos séculos, povos da região desenvolveram rituais religiosos que resolvem a questão, com o chamado ‘funeral nos céus’ – os corpos são retalhados e os pedaços são comidos por abutres, evitando a disseminação de doenças.

O ritual em uma comunidade tibetana localizada a 4 mil metros de altitude no Nepal foi filmado por uma equipe da BBC para o programa sobre montanhas da série Human Planet que foi ao ar na Grã-Bretanha.

A população local vive praticamente isolada do resto do mundo. O documentário mostra os preparativos dos líderes religiosos locais após a morte de Nombe-La, de 70 anos, para o funeral seguindo as tradições budistas.


Doenças


O lama Nam-Ga é o responsável pelo funeral de Nombe-La. “Nombe-La era um homem muito bom. Ele trabalhava duro e criou cinco filhos”, afirma o lama.

Ele sabe que precisa dispor do corpo rapidamente para evitar a disseminação de doenças.


Ritual sagrado de funeral tem origem anterior ao próprio budismo


Além das dificuldades práticas para um eventual enterro, em uma altitude em que as árvores não crescem, também não há lenha para uma possível cremação, a opção preferencial dos budistas.

A solução, o “funeral nos céus”, é um ritual sagrado cuja origem é anterior ao próprio budismo.

Para seguir o ritual, o lama Nam-Ga conta com a ajuda de um especialista, uma espécie de agente funerário local, cuja condição de não budista o torna indicado para a função que precisa executar.


Abutres


Após uma caminhada de uma hora e meia, a procissão do funeral chega ao local indicado para o ritual.


Mesmo após vários funerais, especialista ainda precisa de uísque


A grande quantidade de abutres torna o local indicado para o procedimento. Os animais são capazes de comer o corpo inteiro antes que o processo de decomposição comece a favorecer a disseminação das doenças.

Os budistas veem isso como um ato sagrado, que sustentará a vida de outro ser vivo.

Para eles, o corpo de Nombe-La é apenas um invólucro vazio e sua alma já migrou para outro domínio.


Budistas veem consumo da carne pelos abutres como um ato sagrado


Para facilitar o trabalho das aves e tornar o consumo mais rápido, o especialista usa instrumentos afiados para cortar o corpo em pedaços e jogá-los aos urubus.

“Os lamas não podem fazer o que eu faço. Eu já fiz vários funerais nos céus, mas ainda preciso de uísque para fazer isso”, afirma o especialista.


Fonte: BBC

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