Hoje um deserto gelado, a Antártica já foi um continente de clima mais ameno, com uma biodiversidade bem maior do que se pensava.
Prova disso é uma descoberta feita por cientistas brasileiros e publicada recentemente na revista científica "Polar Research".
Eles acharam fósseis de um tipo de réptil aquático pré-histórico conhecido como plesiossauro ("quase lagarto", na origem grega) que não só eram cerca de 15 milhões de anos mais antigos que todos registrados anteriormente como também não pertencem a nenhum dos grupos normalmente encontrados na região.
Contemporâneos dos dinossauros ("lagarto terrível", ainda em grego), os plesiossauros constituem uma ordem à parte, apesar de também serem répteis gigantes e carnívoros e terem sido totalmente extintos junto com os dinos há cerca de 65 milhões de anos.
Acredita-se que a lenda do monstro do Lago Ness, na Escócia, tenha surgido a partir da identificação do primeiro fóssil de uma espécie do grupo, um animal de corpo largo e pescoço longo encontrado na Inglaterra no século XIX.
- Nossa descoberta abre o espectro da diversidade da presença destes animais na Antártica - conta Alexander Kellner, professor do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional, da UFRJ, e um dos autores do artigo.
O fóssil não pertence ao grupo dos elasmossaurídeos, o principal conhecido na região, e pode ser tanto de uma família nova de plesiossauros quanto de outra já conhecida mas nunca antes registrada lá.
O grupo de Kellner encontrou os fósseis na Ilha de James Ross, na Península Antártica, durante expedição de 72 dias realizada no verão polar austral de 2006 para 2007.
Ao todo, foram recolhidas mais de 2,5 toneladas de materiais e rochas no período de 37 dias em que ficaram acampados no local, grande parte de plantas, moluscos e outros animais invertebrados.
Entre o material, no entanto, também estavam vértebras e ossos dos membros e nadadeiras do plesiossauro, que os pesquisadores calculam que tinha entre seis e sete metros de comprimento.
Um modelo do animal, diversos destes materiais e equipamentos usado na expedição estão na exposição "Fósseis do Continente Gelado - O Museu Nacional na Antártica", em cartaz na instituição.
- A maior parte dos restos era de vértebras cervicais, isto é, do pescoço do animal, e foi o que nos permitiu saber que ele era de um grupo diferente dos que já se sabia que existiam lá - explica Tiago Rodrigues Simões, mestrando do Programa de Pós-graduação em Zoologia do Museu Nacional e também autor do estudo na "Polar Research".
- E, pelo local onde elas foram coletadas, chegamos à conclusão de que este plesiossauro é o mais antigo representante deste grupo conhecido na Antártica, com cerca de 85 milhões de anos.
Segundo Kellner, as vértebras e ossos foram encontrados em um pequeno espaço de cerca de dois metros quadrados.
Como não havia duplicidade dos restos nem uma diferença gritante no seu tamanho, os cientistas puderam presumir que todos pertencem ao mesmo animal.
O pouco material encontrado, no entanto, não permitiu que eles identificassem se pertencem a uma nova espécie ou não.
- Infelizmente, por causa da pouca quantidade de material coletado, não conseguimos determinar isso - lamenta o paleontólogo.
- Só nos resta voltar lá e continuar procurando, até porque esta foi apenas a primeira expedição de bandeira brasileira na busca de fósseis de vertebrados na Antártica. Se em só uma expedição fizemos uma descoberta dessas, imaginem nas próximas.
Ainda estudante de graduação na época da viagem, Simões não participou da expedição e aguarda ansioso a oportunidade de continuar os estudos no continente gelado.
- A Antártica é um continente inteiro com poucas décadas de pesquisas científicas dedicadas a ele - lembra. - Isso abre a possibilidade de grandes descobertas em muitas áreas.
Fonte: O Globo Online
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