Segundo pesquisas britânicas, pegadas de 3,7 milhões de anos revelam que o "Australopithecus afarensis" já andava sobre dois pés. Estudos anteriores dizem que os hominídeos bípedes surgiram 2 milhões de anos depois.
Há cerca de quatro milhões de anos, nossos ancestrais eram bem diferentes do homem moderno. Os Australopithecus afarensis tinham um tronco mais comprido, cérebro menor e pernas mais curtas. Mas pelo menos uma parte do corpo era comum ao ser humano dos tempos atuais: os pés.
Depois de examinar as pegadas de espécies ancestrais usando um novo tipo de análise, um grupo de cientistas britânicos concluiu que o porte humano ereto atual surgiu há 3,7 milhões de anos.
O estudo contesta pesquisas anteriores, que afirmam que o andar semelhante ao do atual ser humano teria sido registrado apenas dois milhões de anos mais tarde.
Em relatório publicado nesta quarta-feira (20/07) no jornal da Sociedade Real Interface, cientistas afirmam que as espécies estudadas tinham pés surpreendentemente parecidos com os dos homens modernos, com menos semelhanças em relação a chimpanzés ou gorilas.
Desde que as pegadas foram descobertas em Laetoli, na Tanzânia, já há mais de três décadas, elas têm dividido a opinião da comunidade científica: enquanto parte dos pesquisadores as descreve como pegadas parecidas com as de símios, há aqueles que veem nas marcas a origem da locomoção bípede.
O grande debate
Robin Crompton, responsável pelo estudo, afirma que os resultados encontrados por sua equipe da Universidade de Liverpool colocam um ponto final na discussão: "Elas estão mais para pegadas humanas do que para pegadas de macacos, e não acho que isso ainda possa ser discutido", disse Crompton em entrevista à Deutsche Welle.
Os cientistas de Liverpool, que também colaboraram com especialistas das Universidades de Bournemouth e de Manchester, chegaram a essa conclusão com ajuda de um método muito moderno: a avaliação média tridimensional.
Em vez de analisar cada pegada separadamente, a equipe gerou análises tridimensionais de todas as 11 e as comparou com os conjuntos de dados gerados em outros estudos. Essa técnica de mapeamento havia sido usada anteriormente para analisar o fluxo de sangue no cérebro.
Pesquisadores argumentaram que esse método também serviria como uma maneira objetiva de analisar as pegadas.
"Nós simplesmente substituímos cérebros por pegadas, e fluxo de sangue por profundidade", diz o estudo. O resultado é uma imagem estatística. "Temos sido bastante cuidadosos com a forma como temos conduzido esse estudo", garantiu Crompton.
Pés familiares
William Sellers, um dos coautores do estudo no Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Manchester, disse que a equipe ficou positivamente surpresa com os resultados.
"Acho que sempre estivemos propensos a achar que elas [as pegadas] eram mais humanas do que muita gente pensava", contou Sellers à DW. "Mas não esperávamos tamanha similaridade com o homem moderno."
Tais similaridades incluem características funcionais, que vão do arco medial ao impulso proporcionado pelos dedos. Consideradas conjuntamente, constata o estudo, essas características chegam a uma combinação "bastante incomum, se não ausente, em qualquer símio existente".
Chimpanzés e gorilas possuem os dedos dos pés grandes, mais adaptados para subir em árvores do que para andar – uma característica que nossos ancestrais humanos perderam quando passaram pela transição da vida no alto das árvores para a vida com os pés no chão.
"Se você observar os primatas como um todo, muitos têm este tipo de pé que consegue até descascar bananas. Eles têm pés grandes e flexíveis que se estendem para os lados, porque se você mora numa árvore é muito útil ser capaz de agarrar coisas com os pés", explicou Sellers.
A pesquisa sugere ainda que os pés do Australopithecus afarensis desenvolveram-se de maneira a acomodar tanto o estilo de vida em árvores quanto a locomoção bípede.
Migração e colonização
Ainda que os pés dessa espécie tenham sido feitos para andar, ela não poderia ir muito longe, pois o corpo em si a limitava.
Este homem tinha um tronco comprido demais em relação às pernas curtas e aos pés pequenos – uma combinação não muito apropriada para caminhar por longas distâncias.
Mas mesmo se tivesse sido mais fácil para essa espécie ir de um ponto a outro, ela não seria capaz de carregar muitas coisas consigo. "Esta anatomia fazia com que fosse mais difícil carregar peso", disse Crompton.
Apesar de o estudo sugerir que nossos ancestrais tinham uma função muito moderna nos pés há mais de 3,7 milhões de anos, Sellers afirmou que o tamanho dos cérebros só começou a aumentar há dois milhões de anos. Naquela época, seus corpos já tinham crescido bastante.
Sem essas vantagens, parece que o dono das pegadas em Laetoli ainda precisou esperar um bocado de tempo até ver seus descendentes deixar a África e partir para o mundo até então desconhecido.
Fonte: Deutsche Welle
Depois de examinar as pegadas de espécies ancestrais usando um novo tipo de análise, um grupo de cientistas britânicos concluiu que o porte humano ereto atual surgiu há 3,7 milhões de anos.
O estudo contesta pesquisas anteriores, que afirmam que o andar semelhante ao do atual ser humano teria sido registrado apenas dois milhões de anos mais tarde.
Em relatório publicado nesta quarta-feira (20/07) no jornal da Sociedade Real Interface, cientistas afirmam que as espécies estudadas tinham pés surpreendentemente parecidos com os dos homens modernos, com menos semelhanças em relação a chimpanzés ou gorilas.
Desde que as pegadas foram descobertas em Laetoli, na Tanzânia, já há mais de três décadas, elas têm dividido a opinião da comunidade científica: enquanto parte dos pesquisadores as descreve como pegadas parecidas com as de símios, há aqueles que veem nas marcas a origem da locomoção bípede.
O grande debate
Robin Crompton, responsável pelo estudo, afirma que os resultados encontrados por sua equipe da Universidade de Liverpool colocam um ponto final na discussão: "Elas estão mais para pegadas humanas do que para pegadas de macacos, e não acho que isso ainda possa ser discutido", disse Crompton em entrevista à Deutsche Welle.
Os cientistas de Liverpool, que também colaboraram com especialistas das Universidades de Bournemouth e de Manchester, chegaram a essa conclusão com ajuda de um método muito moderno: a avaliação média tridimensional.
Em vez de analisar cada pegada separadamente, a equipe gerou análises tridimensionais de todas as 11 e as comparou com os conjuntos de dados gerados em outros estudos. Essa técnica de mapeamento havia sido usada anteriormente para analisar o fluxo de sangue no cérebro.
Pesquisadores argumentaram que esse método também serviria como uma maneira objetiva de analisar as pegadas.
"Nós simplesmente substituímos cérebros por pegadas, e fluxo de sangue por profundidade", diz o estudo. O resultado é uma imagem estatística. "Temos sido bastante cuidadosos com a forma como temos conduzido esse estudo", garantiu Crompton.
Pés familiares
William Sellers, um dos coautores do estudo no Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Manchester, disse que a equipe ficou positivamente surpresa com os resultados.
"Acho que sempre estivemos propensos a achar que elas [as pegadas] eram mais humanas do que muita gente pensava", contou Sellers à DW. "Mas não esperávamos tamanha similaridade com o homem moderno."
Tais similaridades incluem características funcionais, que vão do arco medial ao impulso proporcionado pelos dedos. Consideradas conjuntamente, constata o estudo, essas características chegam a uma combinação "bastante incomum, se não ausente, em qualquer símio existente".
Chimpanzés e gorilas possuem os dedos dos pés grandes, mais adaptados para subir em árvores do que para andar – uma característica que nossos ancestrais humanos perderam quando passaram pela transição da vida no alto das árvores para a vida com os pés no chão.
"Se você observar os primatas como um todo, muitos têm este tipo de pé que consegue até descascar bananas. Eles têm pés grandes e flexíveis que se estendem para os lados, porque se você mora numa árvore é muito útil ser capaz de agarrar coisas com os pés", explicou Sellers.
A pesquisa sugere ainda que os pés do Australopithecus afarensis desenvolveram-se de maneira a acomodar tanto o estilo de vida em árvores quanto a locomoção bípede.
Migração e colonização
Ainda que os pés dessa espécie tenham sido feitos para andar, ela não poderia ir muito longe, pois o corpo em si a limitava.
Este homem tinha um tronco comprido demais em relação às pernas curtas e aos pés pequenos – uma combinação não muito apropriada para caminhar por longas distâncias.
Mas mesmo se tivesse sido mais fácil para essa espécie ir de um ponto a outro, ela não seria capaz de carregar muitas coisas consigo. "Esta anatomia fazia com que fosse mais difícil carregar peso", disse Crompton.
Apesar de o estudo sugerir que nossos ancestrais tinham uma função muito moderna nos pés há mais de 3,7 milhões de anos, Sellers afirmou que o tamanho dos cérebros só começou a aumentar há dois milhões de anos. Naquela época, seus corpos já tinham crescido bastante.
Sem essas vantagens, parece que o dono das pegadas em Laetoli ainda precisou esperar um bocado de tempo até ver seus descendentes deixar a África e partir para o mundo até então desconhecido.
Fonte: Deutsche Welle
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