quarta-feira, 20 de julho de 2011

Cientistas revelam que hominídeos andaram mais cedo sobre dois pés

O 'Australopithecus afarensis' já andava há quase quatro milhões de anos


Segundo pesquisas britânicas, pegadas de 3,7 milhões de anos revelam que o "Australopithecus afarensis" já andava sobre dois pés. Estudos anteriores dizem que os hominídeos bípedes surgiram 2 milhões de anos depois.

Há cerca de quatro milhões de anos, nossos ancestrais eram bem diferentes do homem moderno. Os Australopithecus afarensis tinham um tronco mais comprido, cérebro menor e pernas mais curtas. Mas pelo menos uma parte do corpo era comum ao ser humano dos tempos atuais: os pés.

Depois de examinar as pegadas de espécies ancestrais usando um novo tipo de análise, um grupo de cientistas britânicos concluiu que o porte humano ereto atual surgiu há 3,7 milhões de anos.

O estudo contesta pesquisas anteriores, que afirmam que o andar semelhante ao do atual ser humano teria sido registrado apenas dois milhões de anos mais tarde.

Em relatório publicado nesta quarta-feira (20/07) no jornal da Sociedade Real Interface, cientistas afirmam que as espécies estudadas tinham pés surpreendentemente parecidos com os dos homens modernos, com menos semelhanças em relação a chimpanzés ou gorilas.

Desde que as pegadas foram descobertas em Laetoli, na Tanzânia, já há mais de três décadas, elas têm dividido a opinião da comunidade científica: enquanto parte dos pesquisadores as descreve como pegadas parecidas com as de símios, há aqueles que veem nas marcas a origem da locomoção bípede.


O grande debate


Robin Crompton, responsável pelo estudo, afirma que os resultados encontrados por sua equipe da Universidade de Liverpool colocam um ponto final na discussão: "Elas estão mais para pegadas humanas do que para pegadas de macacos, e não acho que isso ainda possa ser discutido", disse Crompton em entrevista à Deutsche Welle.

Os cientistas de Liverpool, que também colaboraram com especialistas das Universidades de Bournemouth e de Manchester, chegaram a essa conclusão com ajuda de um método muito moderno: a avaliação média tridimensional.

Em vez de analisar cada pegada separadamente, a equipe gerou análises tridimensionais de todas as 11 e as comparou com os conjuntos de dados gerados em outros estudos. Essa técnica de mapeamento havia sido usada anteriormente para analisar o fluxo de sangue no cérebro.



Pegadas em Laetoli avaliadas com métodos tridimensionais


Pesquisadores argumentaram que esse método também serviria como uma maneira objetiva de analisar as pegadas.

"Nós simplesmente substituímos cérebros por pegadas, e fluxo de sangue por profundidade", diz o estudo. O resultado é uma imagem estatística. "Temos sido bastante cuidadosos com a forma como temos conduzido esse estudo", garantiu Crompton.


Pés familiares


William Sellers, um dos coautores do estudo no Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Manchester, disse que a equipe ficou positivamente surpresa com os resultados.

"Acho que sempre estivemos propensos a achar que elas [as pegadas] eram mais humanas do que muita gente pensava", contou Sellers à DW. "Mas não esperávamos tamanha similaridade com o homem moderno."

Tais similaridades incluem características funcionais, que vão do arco medial ao impulso proporcionado pelos dedos. Consideradas conjuntamente, constata o estudo, essas características chegam a uma combinação "bastante incomum, se não ausente, em qualquer símio existente".

Chimpanzés e gorilas possuem os dedos dos pés grandes, mais adaptados para subir em árvores do que para andar – uma característica que nossos ancestrais humanos perderam quando passaram pela transição da vida no alto das árvores para a vida com os pés no chão.



Macacos têm pés adaptados para subir em árvores e descascar bananas



"Se você observar os primatas como um todo, muitos têm este tipo de pé que consegue até descascar bananas. Eles têm pés grandes e flexíveis que se estendem para os lados, porque se você mora numa árvore é muito útil ser capaz de agarrar coisas com os pés", explicou Sellers.

A pesquisa sugere ainda que os pés do Australopithecus afarensis desenvolveram-se de maneira a acomodar tanto o estilo de vida em árvores quanto a locomoção bípede.


Migração e colonização



Ainda que os pés dessa espécie tenham sido feitos para andar, ela não poderia ir muito longe, pois o corpo em si a limitava.

Este homem tinha um tronco comprido demais em relação às pernas curtas e aos pés pequenos – uma combinação não muito apropriada para caminhar por longas distâncias.

Mas mesmo se tivesse sido mais fácil para essa espécie ir de um ponto a outro, ela não seria capaz de carregar muitas coisas consigo. "Esta anatomia fazia com que fosse mais difícil carregar peso", disse Crompton.

Apesar de o estudo sugerir que nossos ancestrais tinham uma função muito moderna nos pés há mais de 3,7 milhões de anos, Sellers afirmou que o tamanho dos cérebros só começou a aumentar há dois milhões de anos. Naquela época, seus corpos já tinham crescido bastante.

Sem essas vantagens, parece que o dono das pegadas em Laetoli ainda precisou esperar um bocado de tempo até ver seus descendentes deixar a África e partir para o mundo até então desconhecido.




Fonte:
Deutsche Welle

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