Dentes apontam como era alimentação durante a infância. Estudo foi feito em cemitério antigo no Rio de Janeiro.
Uma equipe multidisciplinar que inclui geólogos, biólogos e antropólogos está revelando uma parte pouco conhecida da história do Brasil, no Rio de Janeiro.
A análise dos restos de um cemitério de escravos mostra que os trabalhadores que vinham forçados para o Brasil não vieram todos de uma mesma região, mas vinham de lugares muito diferentes dentro da África.
O Cemitério dos Pretos Novos, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, de onde foram retiradas as ossadas, foi desativado no século 19 e redescoberto na década de 1990.
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão por uma análise química. Eles pegaram o esmalte dos dentes para descobrir mais sobre a origem dos escravos.
O esmalte é a camada externa do dente, formada quase exclusivamente por minerais, e essa composição permanece inalterada durante a vida desse dente. Por isso, ela diz muito sobre a infância de uma pessoa.
O geólogo Roberto Santos, da Universidade de Brasília (UnB), escolheu o elemento químico estrôncio para fazer essa leitura.
“O estrôncio é um elemento químico que tem grande afinidade com o cálcio”, explicou o pesquisador.
O cálcio é um mineral importante na composição dos ossos e dentes, logo o estrôncio também é abundante no corpo humano.
O estrôncio que nosso corpo usa para formar a estrutura dos dentes vem dos alimentos. E esse elemento tem vários isótopos – variações do número de nêutrons e prótons somados em cada átomo, 86 ou 87 –, que permitem rastrear o caminho do estrôncio. Pessoas com alimentações diferentes apresentam variações diferentes do estrôncio dos dentes.
O número usado para avaliar as variações é a chamada "medida das proporções dos isótopos de estrôncio".
No Cemitério dos Pretos Novos, esse valor vai de 0,706 a 0,75, variação “muito alta”, segundo Santos. Isso indica que esse grupo era heterogêneo e vinha de diversos pontos da África.
Como base de comparação, o geólogo deu os números da análise feita em um cemitério indígena no Forte Marechal Luz, em Santa Catarina. Lá, onde vivia uma população bem mais homogênea, a variação fica entre 0,708 e 0,71.
Essa análise química não é capaz de definir, no entanto, exatamente de quais pontos da África vieram esses escravos.
Só se sabe que eles deixaram o continente via Angola, que era o ponto de partida da maior parte dos navios negreiros.
A análise dos isótopos de outros elementos, como o carbono, pode dar mais dicas sobre a vida desses negros.
“Cada elemento químico vai mostrar a memória da vida da pessoa em um lugar diferente”, afirmou Santos. Mais para frente, o grupo pensa também em trabalhar com o DNA.
Fonte: G1
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