segunda-feira, 2 de abril de 2012

Romanos levaram camelo para o norte da Europa

Quem lê uma pesquisa que acaba de ser publicada no site da revista especializada "Journal of Archaeological Science" se sente seriamente tentado a repetir o bordão do guerreiro gaulês Obelix: "Esses romanos são loucos!". 


De fato, só um império não muito certo das ideias seria capaz de levar camelos para lugares tão frio quanto as atuais Greenwich (subúrbio de Londres), Arlon (Bélgica) ou Windisch (Suíça). Se era maluquice, demorou a passar.  



Arte/Folhapress



O estudo, assinado por Fabienne Pigière, do Real Instituto Belga de Ciências Naturais, e Denis Henrotay, do Serviço de Arqueologia da Bélgica, inclui um levantamento de todos os restos de camelos achados em sítios arqueológicos do Império Romano no norte da Europa e identificou nada menos que 22 casos. 


Eles vão do Reino Unido, no oeste, à Hungria, no leste, passando pela França e pela Alemanha. A dupla belga adicionou ao conjunto os oito ossos de camelos (para ser mais preciso, um dromedário adulto, bastante parrudo) que Henrotay achou ao escavar um forte romano em Arlon, de 2003 a 2006. 


PELOS SÉCULOS

 
Os pesquisadores obtiveram ainda estimativas da idade dos restos mortais, e eles abrangem praticamente todo o período de domínio romano na Europa, do século 1º, quando Augusto se tornou o primeiro imperador e Jesus viveu, ao século 5º, quando os bárbaros germânicos finalmente acabaram com Roma. 


As análises dos ossos também indicam que ambas as espécies de camelos domésticos do Velho Mundo -além do dromedário, de uma corcova, há também o camelo-bactriano, com duas- foram parar na fronteira norte do Império Romano. E até híbridos dos dois bichos aparecem na amostragem. 


Que diabos os ruminantes estavam fazendo por lá, afinal? Os restos são encontrados tanto em contextos militares (como o forte de Arlon) quanto civis -um exemplar isolado foi achado num anfiteatro. Em geral são bichos adultos e robustos, e há uma associação entre os restos e a presença das excelentes redes de estradas que os romanos adoravam construir. 


Por isso, a hipótese mais provável, para os especialistas, é que os bichos eram usados como animais de carga, transportando mercadorias vindas da parte sul do Império -que englobava lugares como a Síria, Israel e o Egito. 


De qualquer maneira, levar os bichos para lá provavelmente era uma ideia de jerico, diz Leonardo dos Santos Avilla, zoólogo da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).
Ele explica que o camelo-bactriano, por exemplo, é um animal de clima frio e seco (os dromedários, por sua vez, preferem o calor). 


Em áreas frias e úmidas, os bichos teriam sérios problemas na ponta das patas, como risco elevado de artrite. "A situação seria ainda pior para os cascos, eles poderiam até apodrecer", diz Avilla. 



Fonte: Folha.com

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