Quem lê uma pesquisa que acaba de ser publicada no site da revista
especializada "Journal of Archaeological Science" se sente seriamente
tentado a repetir o bordão do guerreiro gaulês Obelix: "Esses romanos
são loucos!".
De fato, só um império não muito certo das ideias seria capaz de levar
camelos para lugares tão frio quanto as atuais Greenwich (subúrbio de
Londres), Arlon (Bélgica) ou Windisch (Suíça). Se era maluquice, demorou a passar.
Arte/Folhapress
O estudo, assinado por Fabienne
Pigière, do Real Instituto Belga de Ciências Naturais, e Denis Henrotay,
do Serviço de Arqueologia da Bélgica, inclui um levantamento de todos
os restos de camelos achados em sítios arqueológicos do Império Romano
no norte da Europa e identificou nada menos que 22 casos.
Eles vão do Reino Unido, no oeste, à Hungria, no leste, passando pela
França e pela Alemanha. A dupla belga adicionou ao conjunto os oito
ossos de camelos (para ser mais preciso, um dromedário adulto, bastante
parrudo) que Henrotay achou ao escavar um forte romano em Arlon, de 2003
a 2006.
PELOS SÉCULOS
Os pesquisadores obtiveram ainda estimativas da idade dos restos
mortais, e eles abrangem praticamente todo o período de domínio romano
na Europa, do século 1º, quando Augusto se tornou o primeiro imperador e
Jesus viveu, ao século 5º, quando os bárbaros germânicos finalmente
acabaram com Roma.
As análises dos ossos também indicam que ambas as espécies de camelos
domésticos do Velho Mundo -além do dromedário, de uma corcova, há também
o camelo-bactriano, com duas- foram parar na fronteira norte do Império
Romano. E até híbridos dos dois bichos aparecem na amostragem.
Que diabos os ruminantes estavam fazendo por lá, afinal? Os restos são
encontrados tanto em contextos militares (como o forte de Arlon) quanto
civis -um exemplar isolado foi achado num anfiteatro. Em geral são
bichos adultos e robustos, e há uma associação entre os restos e a
presença das excelentes redes de estradas que os romanos adoravam
construir.
Por isso, a hipótese mais provável, para os especialistas, é que os
bichos eram usados como animais de carga, transportando mercadorias
vindas da parte sul do Império -que englobava lugares como a Síria,
Israel e o Egito.
De qualquer maneira, levar os bichos para lá provavelmente era uma ideia
de jerico, diz Leonardo dos Santos Avilla, zoólogo da Unirio
(Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).
Ele explica que o camelo-bactriano, por exemplo, é um animal de clima
frio e seco (os dromedários, por sua vez, preferem o calor).
Em áreas frias e úmidas, os bichos teriam sérios problemas na ponta das
patas, como risco elevado de artrite. "A situação seria ainda pior para
os cascos, eles poderiam até apodrecer", diz Avilla.
Fonte: Folha.com
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