Banido da Europa Central por mais de 150 anos, depois
de ter sido dizimado pelos caçadores, o lobo volta a habitar as
florestas do continente, mas enfrenta uma série de preconceitos e
problemas.
Só nas florestas alemãs já vivem mais de 100 lobos, divididos
em 14 alcatéias. Em toda a Europa, são cerca de 20 mil animais divididos
em dez populações.
E a população do Canis lupus, o seu nome científico,
continua a crescer, pois o animal é capaz de percorrer longas
distâncias, milhares de quilômetros, em poucos meses, em busca de
melhores condições de vida.
O retorno do lobo a essa parte da Europa começou com a queda da
Cortina de Ferro, no final dos anos 80 e início dos anos 90.
Contribuiu
para o retorno um enfoque maior na política de meio ambiente, de
proteção das florestas e a proibição da caça aos lobos, lei da União
Europeia (UE) de 1992 que começou a ter efeito há cerca de 15 anos.
Lobos, vindos sobretudo do Leste europeu, começaram a migrar para o lado
ocidental do continente.
No plano internacional, o lobo começou a ser protegido por um acordo
da chamada Convenção de Berna, da qual são signatários todos os países
que têm população desses animais. Mas onde o lobo chega, vêm também os
problemas.
Um lobo morto numa floresta da Renânia-Palatinado, há duas
semanas, foi motivo de uma investigação policial contra um caçador
aposentado. Teoricamente, o homem, de 79 anos, poderá ser condenado a
até cinco anos de prisão.
De acordo com Olaf Strub, encarregado de
animais selvagens da Nabu - associação alemã de defesa do meio ambiente -
no estado da Renânia-Palatinado, o lobo morto foi o primeiro a aparecer
nas florestas do Palatinado em 123 anos.
Já na região de Lausitz, no Leste do país, onde os lobos vêm sendo
estudados há mais de dez anos, a convivência com o animal faz parte da
formação dos agricultores e pastores.
Duzentos mil habitantes vivem nessa região, sem que tenha sido
registrada uma única vítima do animal nos últimos dez anos. No mesmo
período, apenas 16 das 15 mil ovelhas foram mortas por lobos, o que
significa uma cota de 0,1%.
- O lobo não é mais perigoso do que um porco selvagem, não vê nem as
crianças pequenas como presas, apenas os veados. É diferente do urso,
que vê o homem como presa - diz Markus Bathen, da Nabu.
O lobo oferece perigo quando está doente, com o vírus da raiva ou tem
problemas de comportamento pelo tratamento errado que recebeu de
pessoas.
Um grande erro, segundo o especialista, é alimentar lobos, que
podem, com isso, perder a sua timidez natural e passar a intimidar seres
humanos em busca de alimentos.
Na região de Lausitz, os agricultores já começaram a se acostumar com
os novos vizinhos. Mais de 80% dos criadores de ovelhas têm uma cerca
de proteção contra lobos.
Elas têm 1,20m de altura e são eletrificadas
na base, para evitar que os animais selvagens cavem uma passagem por
baixo do obstáculo.
Os lobos caçam normalmente veados selvagens, mas não é raro que
também matem ovelhas e terminem causando um dano pequeno na
agropecuária. Os lobos vivem em alcatéias, em grandes territórios, de 200
a 300 km quadrados por alcatéia, de forma que consomem, sem dizimar,
suas presas.
Cada alcatéia é formada por um casal que, segundo Jürgen Cassier,
encarregado de lobos da cidade de Rotenburg, permanece junto por muito
tempo.
Os filhotes ficam com os pais por um período de um ano e meio a
dois anos, depois dos quais partem para distâncias de milhares de
quilômetros em busca de um reduto próprio.
De acordo com Mariel Kleeschulte Vrochte, da Sociedade de Proteção
aos Lobos, os animais comunicam-se através de sinais, são solidários
entre si e protegem os seus filhotes com carinho até eles atinjam a
idade de ir embora, para viver a 1.500 quilômetros de distância da alcatéia de origem e formar a sua própria alcatéia.
- Proteger o lobo é também uma questão de sustentabilidade e, por isso, o animal também merece cuidado e respeito - diz Mariel.
Se, na Alemanha, os lobos ainda provocam transtorno, nas estepes
russas, de onde nunca desapareceram por completo, eles são aceitos com
mais naturalidade, destacou Vladimir Bolokov, biólogo russo
especializado na espécie.
Segundo ele, os lobos são "animais inteiramente inofensivos para o
homem". Bolokov sabe do que fala. Seu pai, Viktor, pesquisou por décadas
os lobos na taiga (tipo de floresta subártica) russa.
A volta dos lobos tem suscitado vários estudos. Num deles, as
diferenças entre o lobo e o cachorro são tema investigados pelo Wolf
Science Center (Centro de Ciência do Lobo) da Universidade de Viena.
As
conclusões são de que o lobo tem "capacidades cognitivas e
cooperativas", assim como o cão. O objetivo dos pesquisadores é decifrar
como foi possível o cão doméstico ter surgido do lobo para tornar-se o
maior companheiro do homem.
- Homens e lobos têm em comum a caça e os cuidados para com os seus filhotes - revela o estudo.
Para Markus Bathen, o lobo é hoje motivo de fascinação. Não só para
cientistas. A pianista francesa Helene Grimaud buscou durante anos
inspiração para o seu virtuosismo convivendo com lobos no Canadá.
Mas a fascinação popular existe também com o urso marrom, outro
animal selvagem que havia sido banido da Europa Central, mas que começou
a voltar depois que foi proibida a sua caça.
A volta do urso, porém, é
lenta, porque esse animal caminha pouco. Enquanto um jovem urso caminha
de 200 a 300 quilômetros do seu lugar de origem em busca do próprio
território, um lobo percorre 6 mil quilômetros ao longo de toda sua
vida.
Fonte: Yahoo!
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