Operário americano teve uma barra de metal atravessada no cérebro, em 1848, e mudou o temperamento. Phineas Gage não passou por qualquer cirurgia, perdeu o olho esquerdo e teve a parte frontal do cérebro totalmente comprometida.
Parte do tratamento para casos como o de Eduardo Leite, o operário da construção civil de 24 anos que foi atingido na cabeça por um
vergalhão que despencou do quinto andar do prédio em que trabalhava, tem Phineas Gage
como referência.
Não se trata de um pioneiro da neurocirurgia — ao menos
não no mundo acadêmico. Gage, como Leite, era um operário.
Em 1848, ele
se dedicava à abertura de novas estradas de ferro no Leste dos EUA. Aos
25 anos, à frente de uma equipe de funcionários, ele abria ferrovias
fazendo furos profundos em rochas e enchendo-os com dinamites.
Mas, num
dia de trabalho em setembro daquele ano, um fusível ficou fora do lugar,
e uma explosão fez uma barra de 1,50 metros entrar sob a bochecha
esquerda de Gage, sair pelo topo de seu crânio e cair a cinco metros
dali.
Não se sabe se Gage perdeu a consciência naquele momento. Mas, poucos
minutos depois, e para espanto de seus colegas, ele conseguiu andar 1,2
quilômetro até o posto médico mais próximo.
O operário não passou por
qualquer cirurgia. A abertura em seu crânio foi coberta por fitas
adesivas e uma compressa.
Gage perdeu o olho esquerdo e teve a
parte frontal do cérebro totalmente comprometida — o que, para os
cientistas, queria dizer pouco (ou nada) naquela época.
—
Pensava-se que o córtex frontal não tivesse uma função — explica
Cristiano Milani, coordenador do Departamento Científico de
Neurorreabilitação da Academia Brasileira de Neurologia.
— Na verdade,
ele é uma ligação de praticamente todas as regiões. Comportamento,
execução do raciocínio, inteligência, vontade, memória, tudo tem
associação com o córtex frontal.
Gage foi o primeiro a mostrar aos
médicos a importância da área afetada. Suas mudanças de comportamento
tornaram-no um estudo de caso. O operário, quando voltou ao trabalho,
nunca mais reconquistou a liderança de seu grupo.
Antes dedicado, Gage,
em sua versão pós-acidente, era “agitado, irreverente, entregando-se às
vezes à mais grosseira profanação”, como descreveram seus patrões.
Era
incapaz de aceitar conselhos ou de ver suas vontades contrariadas. Os
próprios colegas diziam que aquele com quem trabalhavam “não era mais o
Gage”.
Boa parte de sua trajetória tornou-se especulação. Sabe-se
que ele, infeliz na ferrovia, procurou emprego em outros estados
americanos.
Gage trabalhou, inclusive como cocheiro, e teria se
apresentado como atração circense em Nova York. Não deu certo na função e
trocou seu país pelo Chile, onde morou por sete anos.
De volta aos EUA,
foi morar com a mãe em São Francisco em 1859, quando sua saúde já
estava se deteriorando. Morreu no ano seguinte, aos 36, supostamente por
complicações depois de uma crise convulsiva. Não foi realizada uma
autopsia em seu cérebro.
— Recomenda-se uma avaliação neuropsicológica para casos de lesão no córtex frontal — diz Milani.
Fonte: O Globo Online
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