Um exemplo de simetria de um quase-cristal: até os anos 80, este tipo de organização da matéria era considerado impossível
Reprodução
Material que rendeu o Nobel de 2011 teria chegado à Terra em meteorito que caiu na Rússia.
Resultados de
uma expedição ao extremo Leste da Rússia revelaram novas evidências de
que os quase-cristais produzidos naturalmente encontrados na região têm
origem extraterrestre.
Em um artigo publicado no periódico científico
“Reports on Progress in Physics”, Paul Steinhardt e Luca Bindi afirmam
que o ambiente onde as amostras foram encontradas não tem as condições
extremas necessárias para a criação deste tipo de material, cuja descoberta rendeu ao israelense Dan Shechtman o Prêmio Nobel de Química do ano passado.
Segundo eles, há indicações de que os quase-cristais chegaram à região
no último período glacial, trazidos por um meteorito que atingiu a Terra
há cerca de 15 mil anos.
- O fato de a expedição ter encontrado mais material na mesma localização em que passamos anos buscando por ele é uma tremenda confirmação de toda história, que é significativa uma vez que o meteorito é de grande interesse por sua idade e conteúdo extraordinários – disse Steinhardt.
No artigo, os autores descrevem a expedição na qual dez cientistas, dois mergulhadores e um cozinheiro viajaram 230 quilômetros adentro das Montanhas Koryak, no Leste da Rússia, para garimpar 1,5 tonelada de sedimentos à mão e analisar os córregos e relevo do entorno.
Eles seguiram as pistas do único quase-cristal natural que já tinha sido identificado, contido em uma amostra guardada no Museu de História Natural de Florença, na Itália. Em 2009, Steinhardt e Bindi demonstraram que o material tinha a simetria de uma bola de futebol, o que é proibido para cristais comuns.
Até a descoberta de Shechtman, em 1982, os cientistas acreditavam que toda matéria sólida só poderia existir sob duas formas de organização: a cristalina, em que os átomos estão reunidos dentro de cristais com padrões simétricos que se repetem indefinidamente; e a amorfa, com os átomos espalhados sem nenhuma ordem.
Os quase-cristais, no entanto, apresentam os átomos arranjados em um padrão regular e infinito, mas que nunca se repete, lembrando os mosaicos islâmicos tradicionais, como os do Palácio de Alhambra, na Espanha, ou da mesquita de Darb-i Imam, no Irã.
Depois de terem identificado o quase-cristal natural na amostra do museu florentino, Steinhardt e Bindi empreenderam um trabalho de detetive para descobrir sua origem.
Eventualmente, os pesquisadores encontraram a pessoa que a tinha recolhido: Valery Kryachko, que em 1979 pegou o pedaço de rocha em uma área remota de Chukotka, na cadeia de Montanhas Koryak.
Em 2010, Steinhardt e Bindi verificaram que a amostra era de um tipo de meteorito incomum, conhecido como condrito carbonado CV3, pedras de 4,5 bilhões de anos de idade originárias da formação do Sistema Solar.
- Agora tínhamos uma verdadeira motivação para transformar essa viagem fantasiosa em realidade – contou Steinhardt. - Era uma grande aposta, mas, mesmo que encontrássemos apenas uma nova amostra lá, teríamos provado a bizarra história que montamos sobre sua origem além de qualquer sombra de dúvida e dado acesso a novas fontes de material para estudar este estranho meteorito que se formou no início do Sistema Solar.
Steinhardt, Bindi e sua expedição, no entanto, não encontraram apenas uma, mas várias novas amostras em Chukotka, e seu desafio agora é responder outros mistérios sobre o material:
- O que a natureza sabe que nós não sabemos? Como este quase-cristal se formou tão perfeitamente dentro de um meteorito complexo enquanto nós temos que trabalhar duro no laboratório para conseguir algo tão perfeito? O que mais podemos encontrar neste meteorito o que ele pode nos dizer sobre a origem do Sistema Solar? No momento, estamos apenas na ponta do iceberg – comentou Steinhardt.
Nenhum comentário:
Postar um comentário