Quatro membros de uma seita muçulmana foram acusados
na quarta-feira de atos cruéis contra crianças por mantê-las em
cativeiro no subterrâneo de uma casa na região do Tatarstan, oeste da
Rússia.
Além das 27 crianças, algumas das quais nunca
tinham visto a luz do sul, a polícia também descobriu 38 adultos vivendo
em celas oito níveis abaixo da casa do líder da comunidade, Faizrakhman
Sattarov.
Sattarov, que se considerava um "profeta" muçulmano, foi acusado pelo
crime de "arbitrariedade", quando, segundo a lei russa, alguém "promove
ação contrária à apresentada na lei ou a qualquer outro ato normativo
legal". Nenhum dos integrantes da seita quis comentar as acusações.
A comunidade foi descoberta em um subúrbio da
cidade de Kazan, capital da região do Tatarstan, durante uma
investigação sobre os recentes ataques a clérigos muçulmanos no
Tatarstan, uma região majoritariamente islâmica às margens do Rio Volga.
"Luz Divina"
Segundo autoridades russas, 19 crianças foram
removidas dos subterrâneos para se recuperaram das précarias condições
de vida existentes no local.
Algumas delas estão sendo tratadas em abrigos e outras em hospitais, informou o jornal estatal Rossiyskaya Gazeta.
Policiais responsáveis pela operação descobriram
que o complexo possuía grande risco de incêndio, além de má ventilação e
falta de saneamento.
Segundo o site russo Islam News, Sattarov, de 83
anos, havia se declarado um profeta muçulmano em meados da década de 60
após interpretar faíscas lançadas por um cabo de trolleybus como "luz
divina".
Ele e seus seguidores começaram a evitar o contato com o mundo exterior no início do século 21. De acordo com as autoridades russas, a seita,
batizada de Faizrakhmanistas em homenagem a seu fundador, não reconhece
as leis do Estado russo ou a autoridade dos líderes muçulmanos do
Tatarstan.
Apenas um pequeno grupo de fieis tinha permissão
de deixar a comunidade para trabalhar como comerciantes em um mercado
local, informou a imprensa local.
Acomodações
As celas localizavam-se oito níveis abaixo de uma decrépita casa de
tijolos de três andares em um terreno de 700 m², afirmou a agência de
notícias americana Associated Press. A casa tinha sido construída ilegalmente e será demolida, afirmou um policial local.
Líderes muçulmanos no Tatarstan afirmaram não reconhecer os ensinamentos de Sattarov, os quais consideraram contraditórios.
"O Islã postula que não há outro profeta senão Maomé", disse o teólogo Rais Suleimanov ao site de notícias ryssi gazeta.ru.
"Os ensinamentos de Sattarov, que se declarou um profeta, foram rejeitados pelos muçulmanos tradicionais", acrescentou.
Sattarov foi descrito por Rossiyskaya Gazeta como um velho "doente e delirante". O crime de arbitrariedade (artigo 330 do Código
Penal russo) é definido como "uma comissão não autorizada de ações
contrária à ordem apresentada na lei ou em qualquer outro ato normativo
legal" e é passível de punição com até cinco anos de prisão.
No último dia 19 de julho, Valiulla Yakupov,
chefe do departamento educacional da entidade Administração Espiritual
dos Muçulmanos de Tatarstan, foi alvejada e morta em sua casa.
No mesmo dia, Mufti Ildus Fayzov, líder dos
muçulmanos do Tatarstan, foi ferido quando o carro em que estava
explodiu. Pelo menos, quatro pessoas foram presas sob suspeita de
envolvimento no crime.
Não havia indícios, contudo, de que Sattarov e seus seguidores tivessem ligação com os ataques.
Fonte: BBC
Nenhum comentário:
Postar um comentário