Estima‐se que existam apenas 2000 elefantes de Bornéu. (Imagem: Rudi Delvaux/DGFC)
Estudo permite monitorização e conservação de espécies em risco de extinção.
Uma equipe de investigação conduzida por Lounès Chikhi, investigador principal no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e investigador do CNRS (em Toulouse, França), melhorou a probabilidade de encontrar diversidade genética de espécies em risco de extinção – estudo cada vez mais necessário para a monitorização e conservação destas.
No entanto, os grupos em risco são difíceis de observar e de recolher amostras, e tipicamente possuem uma diversidade genética muito limitada.
Até agora, o processo de procura de marcadores genéticos era bastante moroso e dispendioso. Estes obstáculos tornam a recolha de dados genéticos de animais ameaçados uma tarefa difícil.
Recorrendo a metodologias de sequenciação de DNA de ponta, e colaborando com o Departamento de Vida Selvagem de Sabah (na Malásia), o laboratório de Rachel O'Neill (Universidade de Connecticut, EUA) e com uma empresa privada, os cientistas foram capazes de identificar os marcadores genéticos do elefante do Bornéu, uma espécie ameaçada, usando sangue de poucos animais.
Os resultados mostraram que os elefantes do Bornéu possuem baixa variabilidade genética que pode colocar em risco a sua sobrevivência a um habitat ameaçado, mas ainda assim conseguem‐se identificar marcadores genéticos que apresentam variabilidade.
O estudo agora publicado na revista PLOS ONE, além de contribuir para a conservação do Elefante do Bornéu, abre novos caminhos para a conservação de outras espécies em risco.
O elefante do Bornéu é uma subespécie única deste animal asiático, com morfologia e comportamento bastante diferente. São geralmente mais pequenos do que os outros elefantes, com presas direitas e uma cauda longa.
O elefante do Bornéu é uma subespécie única deste animal asiático, com morfologia e comportamento bastante diferente. São geralmente mais pequenos do que os outros elefantes, com presas direitas e uma cauda longa.
Atualmente, estima‐se que existam apenas 2000 indivíduos, localizados apenas no norte do Bornéu. Não se sabe como é que este animal evoluiu para se tornar tão diferente e por que é que a sua distribuição geográfica é tão restrita.
Os cientistas colaboraram com o laboratório de Rachel O'Neill (Universidade de Connecticut, EUA)
Apesar de ser uma das populações de elefantes asiáticos prioritárias em termos de conservação, até à data existiam poucas ferramentas que permitissem estudar a sua variabilidade genética, e nenhuma era especificamente desenhada para esta espécie.
Agora, num trabalho conduzido por Reeta Sharma, investigadora doutorada do grupo do Lounès Chikhi, identificou‐se pela primeira vez as sequências de DNA que caracterizam o genoma do elefante do Bornéu, denominadas de marcadores genéticos.
Duas metodologias
A equipe de investigação recorreu a duas metodologias diferentes de sequenciação de DNA, que são mais rápidas e mais baratas do que os métodos clássicos. Este tipo de tecnologia tem sido usado em espécies de laboratório comuns, como os ratos e as moscas de fruta, mas só recentemente começa a ser utilizado em espécies ameaçadas.
Até agora, para se conseguir determinar diversidade genética de uma espécie era necessário analisar enormes regiões do genoma recorrendo às clássicas metodologias, ou utilizar marcadores desenvolvidos para outras espécies, com diferentes graus de sucesso.
Esta abordagem pode‐se tornar incomportável quando se pretende analisar espécies ameaçadas, que têm números reduzidos de indivíduos.
O único estudo que anteriormente tinha procurado caracterizar geneticamente os elefantes do Bornéu, recorrendo a marcadores genéticos desenvolvidos para outros elefantes asiáticos, não conseguiu praticamente detectar diversidade genética nesta espécie.
O trabalho agora realizado mostra que, se se consegue aplicar esta metodologia com o elefante do Bornéu, deve ser possível encontrar a “agulha no palheiro” que se procura, isto é, encontrar marcadores genéticos que apresentam variabilidade em muitas outras espécies.
A análise ao DNA resultou da recolha de amostras de sangue de apenas sete elefantes do Bornéu, residentes no Lok Kawi Wildlife Park (Sabah, Malásia) e de Chendra, estrela do jardim zoológico de Oregon (Portland, EUA).
Mas, a equipe de investigação está confiante que estes métodos de sequenciação de DNA podem ser usados para caracterizar geneticamente outras amostras biológicas, como cabelo e fezes, mais fáceis de obter de animais selvagens, muito embora o sangue e amostras de tecido sejam necessárias nas primeiras fases para identificar marcadores.
Reeta Sharma, primeira autora deste trabalho, diz que “a metodologia aplicada para identificar os marcadores genéticos do elefante do Bornéu pode ser usada no futuro para estudos sobre a variabilidade genética de outras espécies ou populações em risco de extinção”.
Habitat natural desaparecendo
Os elefantes do Bornéu vivem numa região onde o seu habitat natural está a desaparecer rapidamente devido a plantações de óleo de palma, sendo que as populações de elefantes ficam isoladas umas das outras. O acesso a marcadores genéticos variáveis será crucial para identificar populações que estão isoladas e empobrecidas geneticamente, e monitorizá‐las no futuro.
Lounès Chikhi conduziu a equipa de investigação
Há muito tempo que se discute a origem destes elefantes no Bornéu. O único estudo feito com base em dados genéticos concluiu que estão presentes no Bornéu há mais de 300,000 anos. Esta teoria não satisfaz toda a comunidade científica, visto não existirem fósseis de elefantes que corroborem esta hipótese.
Outra teoria sugere que o Sultão de Java enviou elefantes de Java para o Sultão de Sulu, que por sua vez os terá introduzido no Bornéu.
Lounès Chikhi sugere: "Os novos marcadores genéticos agora descobertos podem também contribuir para esclarecermos o mistério da origem destes elefantes no Bornéu e talvez reconstruir parte da sua história demográfica. Isto é muito excitante".
Fonte: Ciência Hoje
Nenhum comentário:
Postar um comentário