Túmulo do rei com "péssima imagem pública" é o centro da maior exposição do Museu de Israel. Achados arqueológicos têm origem na Cisjordânia e Autoridade Palestina critica tentativa de usar “a arqueologia para justificar as reivindicações de Israel sobre o território”.
Um rei com uma má imagem histórica, um arqueólogo morto no seu túmulo, uma escavação por israelitas em plena Cisjordânia.
Esta é a história da primeira grande exposição museológica dedicada ao rei Herodes: o Museu de Israel inaugura esta quarta-feira a exposição Herod the Great: The King’s Final Journey, envolta em críticas da Autoridade Palestina mas também numa narrativa de orgulho – na escavação do túmulo e no seu falecido perito, o arqueólogo Ehud Netzer, que morreu nas escavações junto aos três palácios do rei, no Herodium, em Jericó, na Cisjordânia.
A mostra, que estará no museu de Jerusalém até 5 de Outubro, inclui 30 toneladas de peças – as fundações do edifício do museu tiveram de ser reforçadas para as acolher, segundo o diário israelita Haaretz –, em grande parte novidades trazidas da câmara fúnebre de Herodes.
Esta é a mais ambiciosa exposição do Museu de Israel e é a primeira vez que alguns destes artefatos são mostrados ao público, visto que a descoberta do sítio arqueológico do seu túmulo data de há apenas seis anos. Em Jericó, perto de Belém, era um local procurado pelos arqueólogos há décadas.
Herod the Great inclui bustos e estátuas, frescos, mosaicos e as termas romanas de um dos palácios de Herodes, mas a sua peça mais importante é mesmo a reconstrução do mausoléu de Herodes, que inclui a peça que os peritos identificam como o seu sarcófago – em calcário vermelho, decorado com rosetas e palmetas, minuciosamente reconstituído.
As peças agora exibidas são o corolário do trabalho da vida de Ehud Netzer, que trabalhou o sítio arqueológico do Herodium ao longo de 40 anos e onde descobriu, em 2007, a câmara que acreditava encerrar o túmulo de Herodes.
O Museu de Israel foi chamado ao local e foram encontrados pinturas murais, que estavam intactas e cujo restauro foi pago pelo museu e durou meses. Netzer, a quem Herod the Great é dedicada, morreu três dias depois de ter caído no Herodium, bem perto do túmulo do rei, em Outubro de 2010.
Os agora comissários da exposição, Dudi Mevorach e Silvia Rozenberg, estavam no local quando o arqueólogo caiu e dizem ter montado a exposição com as suas ideias.
No texto de apresentação da exposição, o museu descreve Herodes (que reinou, segundo os historiadores, entre 37 a.C. e 4 d.C. ) como “o maior construtor de Israel e uma das figuras mais controversas da história judaica”.
Ou seja, equilibra numa frase uma visão mais positiva, no sentido em que Herodes ordenou a reconstrução do Templo de Jerusalém e foi responsável por muitos projetos de grande envergadura há dois milênios, mas também os relatos herdeiros da tradição cristã que não esquecem as mortes que lhe são atribuídas, entre as quais as de muitos dos seus familiares próximos, filhos incluídos, além dos seus rivais.
Nesse contexto, tem primado a história contada no Evangelho segundo São Mateus e que mais se associa a Herodes (embora contestada por alguns historiadores, que indicam que, a ser verdadeira, pode ter sido perpetrada pelo seu filho também chamado Herodes) - a ordem para matar todos os recém-nascidos em Belém e nos seus arredores na sequência do nascimento de Jesus, temendo que um deles viesse a tornar-se o “rei dos judeus”.
Tudo isto contribui para a imagem negativa que a história tem do monarca escolhido pelos romanos para governar a Judeia durante mais de 30 anos.
Um rei com uma má imagem histórica, um arqueólogo morto no seu túmulo, uma escavação por israelitas em plena Cisjordânia.
Esta é a história da primeira grande exposição museológica dedicada ao rei Herodes: o Museu de Israel inaugura esta quarta-feira a exposição Herod the Great: The King’s Final Journey, envolta em críticas da Autoridade Palestina mas também numa narrativa de orgulho – na escavação do túmulo e no seu falecido perito, o arqueólogo Ehud Netzer, que morreu nas escavações junto aos três palácios do rei, no Herodium, em Jericó, na Cisjordânia.
A mostra, que estará no museu de Jerusalém até 5 de Outubro, inclui 30 toneladas de peças – as fundações do edifício do museu tiveram de ser reforçadas para as acolher, segundo o diário israelita Haaretz –, em grande parte novidades trazidas da câmara fúnebre de Herodes.
Esta é a mais ambiciosa exposição do Museu de Israel e é a primeira vez que alguns destes artefatos são mostrados ao público, visto que a descoberta do sítio arqueológico do seu túmulo data de há apenas seis anos. Em Jericó, perto de Belém, era um local procurado pelos arqueólogos há décadas.
Herod the Great inclui bustos e estátuas, frescos, mosaicos e as termas romanas de um dos palácios de Herodes, mas a sua peça mais importante é mesmo a reconstrução do mausoléu de Herodes, que inclui a peça que os peritos identificam como o seu sarcófago – em calcário vermelho, decorado com rosetas e palmetas, minuciosamente reconstituído.
As peças agora exibidas são o corolário do trabalho da vida de Ehud Netzer, que trabalhou o sítio arqueológico do Herodium ao longo de 40 anos e onde descobriu, em 2007, a câmara que acreditava encerrar o túmulo de Herodes.
O Museu de Israel foi chamado ao local e foram encontrados pinturas murais, que estavam intactas e cujo restauro foi pago pelo museu e durou meses. Netzer, a quem Herod the Great é dedicada, morreu três dias depois de ter caído no Herodium, bem perto do túmulo do rei, em Outubro de 2010.
Os agora comissários da exposição, Dudi Mevorach e Silvia Rozenberg, estavam no local quando o arqueólogo caiu e dizem ter montado a exposição com as suas ideias.
No texto de apresentação da exposição, o museu descreve Herodes (que reinou, segundo os historiadores, entre 37 a.C. e 4 d.C. ) como “o maior construtor de Israel e uma das figuras mais controversas da história judaica”.
Ou seja, equilibra numa frase uma visão mais positiva, no sentido em que Herodes ordenou a reconstrução do Templo de Jerusalém e foi responsável por muitos projetos de grande envergadura há dois milênios, mas também os relatos herdeiros da tradição cristã que não esquecem as mortes que lhe são atribuídas, entre as quais as de muitos dos seus familiares próximos, filhos incluídos, além dos seus rivais.
Nesse contexto, tem primado a história contada no Evangelho segundo São Mateus e que mais se associa a Herodes (embora contestada por alguns historiadores, que indicam que, a ser verdadeira, pode ter sido perpetrada pelo seu filho também chamado Herodes) - a ordem para matar todos os recém-nascidos em Belém e nos seus arredores na sequência do nascimento de Jesus, temendo que um deles viesse a tornar-se o “rei dos judeus”.
Tudo isto contribui para a imagem negativa que a história tem do monarca escolhido pelos romanos para governar a Judeia durante mais de 30 anos.
O diário israelita Haarezt, que visitou o sítio arqueológico na origem da discórdia em torno da exposição encontrando-o semi-abandonado, brinca mesmo que Herodes tinha “uma péssima imagem pública”.
Para isso contribuem também os relatos sobre as circunstâncias da sua morte, aos 70 anos e após uma doença que o vitimou de forma violenta e dolorosa. Herod the Great: The King’s Final Journey reconstituiu o cortejo fúnebre de Herodes, que levou o seu corpo de Jericó para o Herodium e que albergou os seus restos mortais até o mausoléu ter sido descoberto em 2007.
O seu sarcófago é uma das cerca de 250 peças que compõem a exposição que ocupa 900m2, onde também brilha uma banheira de pedra que sobreviveu a mais de dois mil anos de história.
Os comissários da exposição explicam ao Haaretz as dificuldades que tiveram ao abordar o reinado de Herodes neste contexto, sustentando que ele era mal-amado também pelo fato de descender do povo nabateu, de origem árabe.
Mas a sua obra, no entanto, ficou como testemunho de um reinado de prosperidade, da expansão do segundo Templo de Jerusalém ao fornecimento de água à cidade, passando pelo erigir de fortalezas e da nova cidade mediterrânica de Caesarea Maritima, hoje um parque nacional israelita entre Haifa e Telavive e onde à época da sua fundação residiu o prefeito Pôncio Pilatos.
Escavação israelita na Cisjordânia
A exposição reflete, com ajuda de outras peças que não as encontradas recentemente no Herodium, a sua influência na região. Mas está sobretudo a agitar as águas da política (arqueológica) entre Israel e Palestina.
A exposição terá “um enorme efeito político na opinião pública israelita quanto ao patrimônio judaico e reforçará as reivindicações ao território”, avisa no Guardian Yonathan Mizrachi, da organização israelita Emek Shaveh, dedicada ao papel da arqueologia no conflito israel-palestina.
A zona do Herodium, na Área C da Cisjordânia, está sob controlo israelita e o sítio arqueológico é administrado pela Autoridade de Parques de Israel.
Os acordos de Oslo de 1993 deram a Israel o controle temporário dos sítios arqueológicos na Cisjordânia, prevendo que as negociações chegassem a bom porto e que o controlo da zona fosse devolvido aos palestinos, o que nunca aconteceu.
O Art Newspaper ouviu arqueólogos norte-americanos e israelitas que consideram que o empréstimo por Israel de artefatos encontrados na Cisjordânia sem a colaboração das autoridades palestinas viola o artigo nono da Convenção de Haia para a Proteção de Propriedade Cultural em Situação de Conflito Armado.
Rula Ma’ayah, ministro palestino do Turismo e das Antiguidades, queixa-se à Reuters que “muitos locais de escavações [nos territórios palestinos] estão sob controle israelita… e não conseguimos alcançá-los. Todos os trabalhos nas escavações nos territórios ocupados são ilegais, mas Israel leva-os a cabo e mesmo que não sejam eles a escavar, não nos permitem fazê-lo”.
Hamdan Taha, responsável pelo sector das antiguidades junto da Autoridade Palestina, diz, citado pelo Guardian, que o Museu de Israel não consultou a Autoridade Palestina quanto às escavações nem quanto à exposição e denuncia uma tentativa de usar “a arqueologia para justificar as reivindicações de Israel sobre o território”.
Já o diretor do Museu de Israel, James Snyder reitera que todas as escavações na Cisjordânia foram levadas a cabo segundo as convenções internacionais e sob os protocolos estabelecidos nos acordos de paz israel-palestina, precisando que existindo o controlo temporário de Israel sobre aquele território, o museu coordenou esforços com a administração israelita que rege a Área C.
Snyder refere ainda que não teria sido possível estudar os artefatos no local e adiantou à Reuters que assim que haja um espaço adequado na região para acolher aqueles artefatos, eles voltarão ao Herodium.
Segundo as autoridades israelitas, citadas pelo Art Newspaper, Israel tem o direito de emprestar artefatos ali encontrados e que o direito internacional lhe dá o direito e o dever de preservar e salvaguardar esses artefatos, algo que está a fazer sob contrato com o Museu de Israel.
Não se trata “de política ou geopolítica; estamos a tentar fazer o melhor e o que é correto para a preservação a longo prazo de patrimônio cultural”, remata Snyder, citado pelo Guardian.
Não se trata “de política ou geopolítica; estamos a tentar fazer o melhor e o que é correto para a preservação a longo prazo de patrimônio cultural”, remata Snyder, citado pelo Guardian.
Fonte: Público
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