Bichos-fórceps ou tesourinhas-voadoras pertencem a uma ordem de insetos chamada Mecoptera,
com cerca de 550 espécies agrupadas em nove famílias distribuídas por
todo o mundo. No Brasil, são conhecidos cerca de 20 insetos dessa ordem.
Agora, uma nova espécie de bicho-fórceps, da família Meropeidae,
foi descoberta por aqui, o que representa apenas a terceira espécie
descrita nesta família e a primeira registrada na região neotropical do
mundo.
A descoberta
Uma armadilha para capturar vespas armada no Pico Eldorado, no
município de Domingos Martins (ES), levou a surpreendente descoberta do
inseto raro, cuja família até agora só tinha duas espécies vivas
conhecidas, uma na Austrália e outra na América do Norte.
Apesar de todos os esforços anteriores de coleta nesta área, a
espécie nunca havia sido registrada em regiões tropicais da América do
Sul.
O espécime, denominado Austromerope brasiliensis, foi coletado em uma fazenda privada perto de um habitat de floresta da Mata Atlântica, um dos mais ameaçados no Brasil.
A distribuição e biogeografia da rara família de insetos ainda são
discutidas. Os cientistas sugerem que ela está dispersa em locais tão
distantes do mundo porque se originou antes da deriva continental (da
divisão do mundo em dois hemisférios, norte e sul, com a dissolução do
supercontinente Pangéia).
A existência de um fóssil da mesma família na Sibéria comprova que
ancestrais desses bichos viveram no período Triássico, entre 250 e 200
milhões de anos atrás.
O inseto
Apenas um indivíduo foi pego na rede dos pesquisadores. Com
aproximadamente dois centímetros de comprimento, dois pares de asas e
uma extensão na parte traseira em forma de fórceps, os cientistas
reconheceram que se tratava de um inseto distinto de outros conhecidos,
mas pertencente à família Meropeidae.
Capturado pelo entomólogo Ricardo Kawada e analisado por Renato
Machado, especialista na ordem de insetos Mecoptera, os cientistas
chegaram a conclusão de que se tratava de uma espécie nova.
“Eu achei muito parecido com as outras duas espécies e logo
identificamos como pertencente à família. Depois disso veio o processo
de descrição. Mas, com certeza, assim que bati o olho, já sabíamos que
era algo novo”, conta Machado.
Estas extensões – “fórceps” – fazem parte do seu órgão sexual
masculino. Essa característica dos bichos-fórceps é usada provavelmente
para agarrar as fêmeas durante o acasalamento.
O que torna esses insetos especiais é o fato de que se sabe muito
pouco sobre sua biologia. Seus estágios imaturos permanecem um mistério
para os cientistas – nunca foram encontradas, por exemplo, larvas desta
família.
Os adultos, que são noturnos e parecem viver em terra, também são
capazes de estridulação, ou a produção de som através da esfregação de
certas partes do corpo. Não é por acaso que o bicho tenha passado tanto
tempo incógnito – com base no que os pesquisadores de fato sabem sobre
as outras duas espécies, acredita-se que ele viva escondido sob folhas e
galhos secos no chão.
“A descoberta desta espécie nova é um sinal importante para reforçar a
conservação do bioma brasileiro da Mata Atlântica. Certamente há muito
mais espécies ainda a serem descobertas nessas florestas”, disse
Machado.
Mais armadilhas foram colocadas na região do Pico Eldorado, a fim de
tentar encontrar mais indivíduos que ajudem os pesquisadores a entender
melhor a família.
A descoberta foi publicada pelos brasileiros Renato José Pires Machado, Ricardo Kawada e José Albertino Rafael na edição de 15 de fevereiro da revista Zookeys.
Fonte: Hypescience
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