Mineral serpentine é gerado após reação química entre o mar e
uma rocha basáltica expelida por vulcões subterrâneos, processo que
também produz hidrogênio (Foto: Christian Gautier/Biosphoto/Arquivo AFP)
Uma equipe internacional de cientistas divulgou na
segunda-feira, dia 4, os primeiros resultados de um amplo programa de
pesquisa de 10 anos sobre o carbono que pode mudar teorias atuais sobre a
origem da vida na Terra ou a busca de soluções para a mudança
climática.
A iniciativa, conhecida como Deep Carbon Observatory
(DCO), completa três anos de trabalhos com a publicação hoje de um
volume de 700 páginas que contém as principais descobertas, assim como
as novas incógnitas geradas pelo trabalho de cerca de mil cientistas de
40 países.
O diretor-executivo do DCO e cientista da Instituição Carnegie, Robert Hazen, disse à Agência EFE
durante uma visita a Toronto que um dos principais objetivos do
programa, que tem um orçamento de US$ 500 milhões, é saber com exatidão
quanto carbono está armazenado nas profundezas da Terra e onde.
"Estamos interessados em saber quanto carbono há, onde
está, como se movimenta de uma parte a outra do planeta, quais são suas
formas, estamos muito interessados no fenômeno da vida microbial em
grandes profundidades e como afeta o ciclo do carbono", declarou Hazen.
"É realmente um esforço para entender o carbono em escala global, da
superfície ao centro da Terra, não só o ciclo do carbono mais
superficial e do qual a maioria das pessoas fala, mas um ciclo mais
profundo que representa 90%, ou mais, do carbono em nosso planeta",
acrescentou.
Hazen explicou que o carbono é "o elemento químico mais
importante" no ser humano e no planeta. "É o elemento da vida, o que deu
origem à vida. É um dos aspectos que estamos tentando entender, de onde
veio a vida", acrescentou.
Algumas das descobertas mais fascinantes que foram
reveladas pelo DCO são precisamente as que dizem respeito à relação
entre a vida e o carbono.
As conclusões dos três primeiros anos do
programa e detalhes dos próximos sete anos de atuações estão sendo
discutidos em uma conferência internacional na Academia Nacional de
Ciências em Washington.
Por exemplo, a de que há 4 bilhões de anos os
processos biológicos produzidos por micróbios começaram a alterar a
mineralogia da Terra, criando minerais que nunca tinham existido no
planeta.
Ou que os cientistas estão encontrando vírus em grandes
profundidades no interior da Terra e que atuam de forma diferente dos
vírus da superfície: seu material genético é transferido de forma
passiva no genoma de micróbios e pode viver nele durante anos antes de
se manifestar.
Segundo um dos pesquisadores, John Baross, da
Universidade de Washington, "a profundidade debaixo da superfície pode
ter atuado como um laboratório natural da origem da vida no qual
múltiplos 'experimentos' podem ter sido produzidos em dupla".
Relacionado com este achado é o chamado processo de
"serpentinização", que está originando uma teoria alternativa sobre a
origem da vida na Terra.
Neste processo, a rocha basáltica que é
expelida por vulcões subterrâneos reage quimicamente com a água de mar, o
que produz hidrogênio e o mineral "serpentine".
Segundo os cientistas
do DCO, o hidrogênio gerado por este processo pode ter sido o alimento
que permitiu a aparição dos primeiros micróbios na Terra. Mas não na
superfície do planeta, e sim em grandes profundidades.
De fato, como afirma Haze, "em qualquer lugar do mundo,
se você perfura a vários quilômetros, encontrará vida em forma de
micróbios".
A variedade de vida bacteriana que se encontra em grandes
profundidades e com pressões extremas constitui um autêntico "Galápagos
das profundezas", segundo o DCO.
O mais fascinante é que a vida em grandes profundidades
exibe características incríveis. Steven D'Hondt, da Universidade de
Rhode Island, afirmou que esses micróbios "levam pelo menos centenas de
milhares de anos para se reproduzir, e é concebível que vivam sem se
dividir durante dezenas de milhões de anos". "São zumbis microbiais"
acrescentou.
Segundo Hazen, "embora seja discutível, há alguns
cientistas que asseguram que há micróbios que têm centenas de milhões de
anos, que estiveram vivendo em um estado estático, sem se dividir, em
pequenos buracos nas rochas, e quando são expostos a um ambiente mais
dinâmico, começam a se dividir".
"É realmente extraordinário. Porque se a vida pode se
manter passiva durante grandes períodos de tempo, é provável que
meteoritos levem micróbios de um planeta a outro. Isso pode ser uma
forma de movimentar vida entre planetas", declarou.
Fonte: Terra
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