No museu Speculum Alchimiae ("Espelho da Alquimia") é exibida ao público a receita original do elixir da juventude eterna, com suas 77 ervas Foto: Gustavo Monge / EFE
Receita é exibida ao público em uma exposição permanente em Praga.
Guia do museu mostra frasco com o elixir da juventude, descoberta
arqueológica que documenta a tradição alquimista de Praga Foto: Gustavo
Monge / EFE
Quase 80 ervas medicinais maceradas em álcool e ópio:
essa é a receita original do elixir da juventude, um achado arqueológico
que documenta a tradição alquimista de Praga e tem reconhecimento de
seus efeitos benéficos.
O elixir foi descoberto durante a reconstrução de uma
casa do bairro judaico, em pleno centro histórico da capital tcheca,
cujas origens remontam ao século IX e que se salvou das ordenanças de
saneamento ditadas pelos vereadores no século XIX, assim como das
enchentes do verão de 2002.
Trata-se da "segunda casa mais velha de Praga", afirmou à Agência Efe
a guia Michaela Snajdrova, após explicar que necessitaram dez anos para
devolver o brilho do passado para o lugar, que só pôde ser aberto ao
público recentemente, e onde agora foi instalado o Museu Speculum
Alchimiae ("Espelho da Alquimia").
Assim, a receita original do elixir é exibida ao público
em uma exposição permanente com um percurso no qual, além de seu
recipiente original, estão os fornos dos alquimistas, despensas de
plantas medicinais, a fábrica de vidro para os experimentos, assim como a
sala de estudos e de boas-vindas.
Outra curiosidade que é possível
notar é a intrincada rede de condutores subterrâneos que uniam a casa
com o Castelo de Praga e com a Praça da Cidade Antiga.
O efeito devastador das enchentes, que afundaram o chão
da praça em frente ao edifício, deixou descobertos curiosos artefatos e
notas escritas que documentam as atividades realizadas e revelam uma
série de passadiços e oficinas de alquimistas.
"As notas estão em latim, alemão, tcheco e outros idiomas que não fomos capaz de decifrar", comentou Snajdrova.
Entre os objetos resgatados figura uma garrafa de vidro
verde e quase opaco, selada com cera, que foi datada nos tempos do
imperador Rodolfo II de Habsburgo (1552-1612).
Após ser analisada pelos monges beneditinos de Rajhrad,
que ainda hoje regem uma botica tradicional à base de ervas medicinais e
tentam recuperar receitas esquecidas do Medievo, foram estabelecidos os
77 componentes do elixir, além do álcool e do ópio, para a juventude
eterna.
"O elixir da juventude é utilizado a cada dia no
amanhecer, tomando uma pequena colherada antes do café da manhã",
explicou Snajdrova.
Com um sabor que lembra a "becherovka" (feito a base de
água de Karlsbad, álcool, açúcar e uma mistura amarga de 32 ervas
medicinais e especiarias), o elixir "tem um efeito harmonizador sobre o
organismo", acrescentou.
Snajdrova esclareceu que "na realidade é um
licor de ervas com efeitos curativos". Como exemplo, relata que um homem
com uma úlcera de estômago ficou curado depois de tomá-lo.
Além de acolher a produção de elixires, a casa foi
testemunha da incansável atividade desdobrada ao longo da Grand Via, uma
rota comercial que na baixa Idade Média unia o reino de León (Espanha)
com Cracóvia, Kiev e o Extremo Oriente.
"A Grand Via passava na frente da casa, por isso os
alquimistas podiam adquirir facilmente ingredientes para seus
experimentos", detalhou a guia, em alusão a essas matérias-primas
procedentes da Espanha, Áustria ou do Oriente.
A recuperada produção atual não foi, no entanto, ao pé
da letra, levando em conta "as condições das constelações
(astrológicas), como em épocas passadas".
Os alquimistas trabalharam também em outras beberagens,
como o elixir do amor e da memória, e trataram de descobrir a pedra
filosofal para transformar os metais comuns em ouro e prata.
Combatida pela monarquia dos Habsburgo por considerá-la
uma "porta do ocultismo", a produção destas bebidas ficou confinada
então aos porões com má ventilação do bairro judaico, já que a religião
hebraica "era mais tolerante" com a alquimia.
Porém, a prática foi permitida durante o reinado de
Rodolfo II, grande mecenas das artes, da astronomia e outros saberes,
que transferiu a capital do Sacro Império Romano Germânico para Praga em
1583, explicou Snajdrova.
Muitas dessas receitas têm efeitos benéficos e são
vendidas hoje aos turistas na antiga casa. Assim, afirmou a guia tcheca,
o elixir do amor, que estão tentando reproduzir agora, na realidade não
passa de um "Viagra natural".
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