Teorias conspiratórias sobre a queda do voo 800 da TWA, em 1996,
circularam nas últimas semanas depois de o ex-investigador Brian Ross
anunciar que o avião não havia caído por acidente, e sim por um ataque
terrorista ou “uma operação militar que deu errado”.
Alegações desse tipo já foram investigadas – e descartadas – há muito
tempo. Segundo James Kallstrom, responsável pelas investigações do FBI
na época, “a afirmação não tem qualquer ligação com a verdade e não
resistirá ao tempo e à análise de especialistas”. Kallstrom foi citado
em entrevista ao ABC News.
“O caso do voo 800 da TWA foi investigado por quatro anos e rendeu
relatórios detalhados. Os investigadores tomaram muito cuidado ao
revisar, documentar e analisar fatos e datas, e conduziram diversos
interrogatórios antes de determinar a possível causa do acidente”
afirmou o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) em um
comunicado.
Então, por que o assunto veio à tona novamente e o que realimenta
essas conspirações? Há muitas razões para as teorias conspiratórias
ganharem força junto ao público, já que exploram a insatisfação com o
governo (inflamado tanto por transgressões imaginárias como reais, como
as revelações recentes de vigilância pública). Mas há outras razões para
sua constante ressurgência.
Conspirações são permanentes
Por natureza, as teorias conspiratórias não podem ser definitivamente
refutadas, já que qualquer evidência que as contradiga pode ser
desmentida ou ignorada como parte da própria conspiração. Como os casos
nunca são concluídos, há sempre espaço para discussões.
Livros sobre teorias da conspiração não abordam teorias refutadas.
Algumas delas acabam perdendo força (como a teoria de que Paul McCartney
teria morrido nos anos 60), mas a maioria das conspirações modernas
resiste às décadas.
Uma das teorias conspiratórias mais antigas se refere aos “Protocolos
dos Sábios de Sião”, livro que supostamente revela uma conspiração
secreta judia para dominar o mundo. A teoria surgiu na Rússia, em 1905,
e, embora tenha sido desacreditada, o livro continua em circulação.
Mesmo quando uma parte da teoria conspiratória é totalmente refutada,
muitas pessoas continuam propagando suas crenças.
É raro ver o criador
de uma dessas teorias vir a público para reconhecer que estava errado.
Na melhor das hipóteses, a teoria perde força, mas em geral continua a
ser reproduzida mesmo depois de cair em descrédito.
Testemunhas convincentes
A maioria das grandes teorias conspiratórias conta com o apoio de
autoridades que já foram respeitadas ( ex-funcionários do governo, por
exemplo).
O astronauta Edgar Mitchell, por exemplo, anunciou publicamente que
alienígenas teriam invadido a Terra em 1947, mais especificamente a
cidade de Roswell, no Novo México, e que o governo dos EUA teria
escondido esse fato da população mundial.
Alguns cientistas e
engenheiros que se autoproclamam “dissidentes” anunciaram pesquisas que
geram dúvidas sobre o que realmente aconteceu em Nova York, no dia 11 de
setembro de 2001, e sobre as causas da explosão do voo 800 da TWA.
Não importa se o assunto é a existência de poderes psíquicos, o
aquecimento global, os OVNIS ou teorias da conspiração, sempre se pode
encontrar pessoas respeitáveis cujas opiniões e conclusões controversas
se baseiam em pesquisas de cientistas e engenheiros que, apesar de se
concentrarem nas mesmas evidências, têm pontos de vista diferentes.
E isso é esperado, já que na ciência não existe consenso ou
concordância sobre nada (nem mesmo sobre a possibilidade de superação da
velocidade da luz).
Pessoas diferentes – muitas delas inteligentes e
dignas de crédito – podem analisar as mesmas evidências e chegar a
conclusões diversas. É da natureza humana e não evidência de um
encobrimento.
Informação reciclada
Há sempre um motivo para o ressurgimento de teorias conspiratórias na
esfera pública, mesmo após passarem anos longe dos holofotes. Em geral,
são resultado de manobras publicitárias.
Por exemplo, é comum que
pessoas que acreditam em extraterrestres convoquem uma coletiva de
imprensa para anunciar a existência de novas evidências (ou o depoimento
de testemunhas antigas que resolveram vir a público). No fim das
contas, a “grande notícia” consiste invariavelmente em testemunhas
conhecidas repetindo teorias refutadas.
É claro que, após a entrevista de Brian Ross à ABC News, boa parte da
mídia se referiu ao caso dizendo que “ex-investigadores do caso do Voo
800 da TWA decidiram romper o silêncio” para revelar informações e
detalhes desconhecidos sobre a explosão.
No entanto, não há “silêncio” a
ser rompido: muitas das teorias citadas por Ross já circulam nos
“círculos conspiratórios” há mais de uma década.
Por Benjamin Radford
Fonte: Discovery
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